segunda-feira, janeiro 5

Obrigações

Nada se torna,
em seu ser
que não lhe estigue.
E o que te segue,
o que te clama
é o que reside.

Então a falha
se por isso dito
é o que aflige?

domingo, junho 1

Elia

Elia acordou longe de casa onde todas as coisas eram fortes. Tudo aquilo em que nunca acreditou caiu em si, seu medo de criança abriu espaço e bater forte o coração se tornou diário. Bate a porta sobre os dias, pensava. Nada de tocar a campainha, de certo alguém responde e se fosse, que resposta daria?

Virtudes

Sua virtude é o nosso amor
e me apego em seus cabelos
me perco em suas visões,
sou forte e deslumbrada
mas as vezes insignificante.

Como um ser como eu pode ser contigo?

Despedida

Em mim, onde todas as palavras ficam
o pensamento emerge e muito reclama.
Sou preguiçosa e teimo contra o que sinto
se me transpassa tudo aquilo que desejo
nas palavras me despeço.

Fairfax

Do mais que para bater... e bate, você prossegue as águas rasas. E vem a mim de minuto a minuto, batendo contra tudo aquilo que me petrifica, se estou e em ti me despedaço... é daí onde tudo que me tornei se junta, e por mais que possamos viver nesse embate, você sempre circunda e em meia volta parte novamente.

sexta-feira, fevereiro 21

Ao lado

Do súbito passo ao lado a súbita morte, em segundos. Parou de bater e bate, em segundos nem respiro. E volto.

sexta-feira, janeiro 17

Eduardo

Estava longe e pálida de incerteza. Cobriu as mãos e foi na sua grande aventura, passaram apenas horas para perceber a loucura. Saiu em encontro e encontrou, no beijo incerto a falta de conforto e na maciez do banco a confusão. A casa e os cachorros nos cuidados do vento, na sala uma reclusa e no quarto o sociopata. De remédios, giros de cadeira e falta de roupas, na música forçada e nos sentimentos passados, cada pedaço de um descuido descomunal. Olhou e viu a besteira que além de ser parceira daquela criatura lhe cobria de medo. Medo antes longe de ser preciso ou previsto.
No carro de volta ao sono, a tragédia da recusa. O aceite mal aberto e a volta aos seus.
Ainda bem.

quinta-feira, janeiro 16

Não há

Não há nada que se pense
que no auge da presença
que na parte da ausência
não se permita, se sente.

segunda-feira, novembro 11

Sobre mágoas

Um pedaço da mágoa é falta,
aquela que só a verdade exige
aquela que só a busca atinge,
que perdida, sangrando
ainda reside.

sexta-feira, novembro 1

Apenas um garoto

Um menino que sobe a rua em vão...
que na esquina palpita e volta sem adeus. Chega pra ir embora e que na iniciativa de ser vista, você me ignora. Mas fala comigo, incessante.

Conhaque

Você me deu a mão e eu te recusei. Como tua mão me recusa em brilho, como te estendo na reclusão.

A angustia II

No escuro os olhos se procuram como guias.
De longe a voz abafada do olhar.
Na longevidade da noite te persigo a me olhar.

A angustia

Não contei pra mim sobre você. Não joguei palavras na verdade nem segui os passos da visão. Te calei em cada parte; alma, dia e reclusão. Te recusei, e fui nobre. Mas erro em confusão, te pego solto no ar e te trago inteiro e único. Do único jeito que és perfeito. Na única saudade inexistente, no dia a dia de dizer não.

O incômodo II

Você é tão doce que tenho pena, na sua brutalidade és camurça. Na sua grandeza, na sua imperfeição. Não brigue comigo, não jogue nossos olhos ao chão. Eu ainda quero ver você direito, ainda quero perceber o meu erro. Também é errado em você?

O incômodo

Desde o dia em que chegastes, na sala da minha vida você corroeu. Tudo aquilo que em mim confiava, em você se perdeu. E no mais dos dias, o incômodo e a agonia. Te vejo a me olhar por completo, e te sinto como não havia, jamais seria. E se de mim lágrimas e confusão, não somos. Você e seu coração, você e sua duvida. Também carregam em mim um sofrer. Te alcanço em seus olhos e sua voz me conforta, mas nada disso importa. Te vejo e te sinto único, te abraço com as pálpebras. E sigo reta no teu limiar. E te evito, te julgo e te falto, com palavras e perfumes. E você sabe.

quinta-feira, outubro 17

Vou ali

Vou ali dizer que senti pena de alguém e que a mim, pena alguma. Vou ali falar o que está errado, e dizer pra mim que tudo bem errar. Vou ali atrasar minhas culpas, e de resto é só pesar.
Vou ali remendar minha fúria, matar, matar e matar.
E assim na morte justificada, justificar o que vou ali dizer.

terça-feira, julho 2

Marina

Ontem vi minha face num jeito esquisito. Vi um quadro de mim congelado no tempo, e lá eu era um bichinho sem meios, sem tempo e sem fim. Eu era. E hoje vejo reflexo de minha aparência, de mordidas de coragem e pulos de dentes... e assim renasci.

Rindell II

Onde a sonolência estraga, e tudo acomoda onde os passos tremem onde a coragem se vai e tudo de antes condena, e tudo de vem é adeus.
Volta aqui e te aclama, te rouba a miséria falha se finca nas tuas ameias e voltas a Temuco e sais.
Espera a vida vir, e cansada promete voltar ardente, serena e vibrante. Vinga-te de ti mesma sob tuas palavras.

Rindell

Venho as vezes aos poucos, no pouco que tua mente acalma me instalo, latente dizer se aqui neste mundo a tua calma falha, se em teus braços fogem as verdades e aqui tens a tua maior vontade...
vem a mim.

Egoísmo

Juntei minhas forças e minhas fraquezas e joguei tudo em cima do medo. Parti de mim como não antes era, e hoje assim sei que minto.
Onde fui se andei, e se fiquei, sigo.. usando, partindo, mentindo... até pra mim.

quarta-feira, março 6

Há mais tempo

há mais tempo de viver de si mesmo, que do outro o tempo segue lento, vivo.
há mais no outro que quando a nós encontra, temos mais tempo dentro de nós mesmos.

quinta-feira, janeiro 10

Recordo - I

Recordo breve do dia,
em que na chuva o som me trouxe
na pele o mesmo arrepio
a dobra de ser presente,
num passado extinto
numa véspera de som,
ali estive e cá escuto.

Sono a dois

Nas noites te guardo sob meu rosto, onde atinjo as costas a te proteger. Te prometo zelar sob a noite onde dormem todos os teus segredos. Onde tua maneira viva persegue o sonho, e teus cuidados apenas rondam o respiro. Teus pés se abraçam em zelo, sua curva me preenche em falta. Tua nuca, se assim for, prossigo a cumprir minha obrigação. Onde no mais tardar das horas e na competência dos dias, permaneço ali.

Preservar

Um dia te vi e pensei que era eu. Era quem dizia aquilo que gostaria de ouvir, e nas palavras pertencia de dizer e escutar. Fui tão longe e vim tão breve, perdi cada sentença em ser ou estar. Por mais que a voz da boca aos ouvidos me seja, e dos ouvidos saiba que a mim te pertence, a ti me guardas e preservas.

A cegueira

Existe uma dúvida que cega o mundo, que pertence a maioria dos olhares e permanece nas centenas de travessias. Por onde quer que a voz se estenda, por onde vá e retorne a vida... você sempre estará lá, astuta e vacilante. Nos mesmos modos que cumpri meus dias atrás, ainda prossegue a maneira de lidar contigo. Por mais sincera e predita que seja, ainda sim te alcanço sem entender. Onde chega a maneira velha e oculta de percorrer meus dias, e segues, mantêm... resistente.

quarta-feira, novembro 21

Fúria

Na febre da resposta, você pede a desavença. Em cada beiço, em cada olho teso, a marca da fúria. Que te dobras cego e avanças injetada.

Miúda

De ser grande nada sabia, só na miudeza eu conhecia. Me conhecia pequena e insolúvel, praticamente uma pedra de alcatraz. Agora passo as horas me vendo ainda miúda, no meio das preces e das porcas feiras. Me vejo miúda e sincera nas corridas, nas vértices e nos calcanhares, e ainda sim miúda nas intenções. Quando da miudeza corrijo a caminhada, penso no pretexto da palavra e logo no som da voz pequena, eu finjo novamente.

Todo Agosto

Todo ano carrego a dura sutileza de fingir bebericar um pouco da tua sorte. Se no inferno do inferno astral fostes buscar o cálice da memória, falhou em beber alegria. Na orbita dos teus pensamentos, os maus e profundos aquecem e eclodem nas folhagens. Lá cresço e me espalho sobre as outras plantas. Quando já em trinta dias me apossei, e fui embora com a praga que te trouxe em meio tempo. Nem vistes o estrago.

Fins de semana

Dois dias onde a alma diz,
dois dias onde a alma fala
que meu arremesso no descanso
a minha abundancia desprezada
nos fins eu pereço um pouco mais...
no descuido que acabe.

O que sobrara

Já afiei minhas ideias e agrupei meus modos. Fui plena em minha mente e vitoriosa em meus pressupostos, onde triunfante levantei a bandeira da minha misericordia e subi cada degrau da tua humilhação, fui dos joelhos a falta de mim que ali cabia, e de nada sobrara ao topo.

Permaneces

Quanta amargura se solta das suas mãos, até na postura a rigidez esguia da sua alma. Dura sentença da fala amiga no pensar solitário onde asfaltado, rijo e incrustado permaneces.

Primar

Todos os dias levante a parte de toda parte desse mundo. Veja nas paredes nos buracos tolos da sala a imundice da vida. E cobre do mundo em cada contímetro, sua fala. E guarde em si mesmo o pouco dito a pouca fala.

terça-feira, maio 29

Em plena razão

Há uma certa pausa na razão
quando no outro exige de ti
e que a ti exige ainda mais.
Pois no mais raro dos corações,
na mais nobre das intenções
reside um pouco do irracional.

terça-feira, maio 22

Doze sóis - II

Contei que andei tão longe que esqueci o quanto percorrera? Na memória falha de minha vida, nem nos dentes raízes criei. Não fui a intensa pessoa que flutua sobre a bondade, não fui o pacto de minhas palavras, muito menos a sabedoria dos mais antigos. Só flutuei num mundo de doze sóis, e que nos pés os trago do seco ardor. Nas cruzes que ainda enxergo, o doce e molhado esperar que sempre me consola. E assim que aproximo as mãos ao cumprimento, arranco o espinho da sede. Bebo a água das distâncias, esquecendo a cada segundo por onde cheguei, de onde parti. Que caminho é a vida dos que padecem?

Doze sóis

Vivi aonde doze sóis a mim cobriam,
e na mente tosta a cansada verdade.
E nas noites de céu, o breu de minha vida,
pois nos dias de doze sóis, a sós, era-me bem vindo.

Toda mentira do mundo

Estava crendo na palavra do sacerdote
no punho do violento
na cama da doença viva
e na carne que sangra no balcão.

E nada jazia de mim,
apesar dos sussurros de maldade,
enfiar a mão e trazer com força
toda mentira do mundo.

Sob tua lente

Se um dia me dissessem que seus olhos poderiam ser palavras, nisso poderia crer mais que minha própria visão. E que no contorno de suas vistas o mundo me seria verdade, poderia sim contar-me que nunca seria sem teu olhar. Que nada além de sugar-me a ternura, e acima de toda visão pessimista, sob tua lente, ainda seria altruísta.

segunda-feira, maio 21

Sítio

Já o vi, me deti, me perdi
me parei a mirar tua face a dormir.
Já pedi, implorei, supliquei que
não fossem meus olhos em ti.

E fiquei, sussurei, aguentei
as palavras e choros que um dia eu quis.
E travei, eu finji, impliquei
com todas as minhas visões sobre mim.

Já temi, já larguei, e voltei
e de fato, estou aqui.
Já segui, compliquei, decidi
e entendi que não há dever de mim.

E aprendi, que vivi, e reconheci
que em ti a mim tudo vivera.
E voltei, junto a ti, acordei
e nunca mais de lá saí.

terça-feira, abril 17

Sobre o cansaço

há tantas coisas as quais se lutar
que nos esforço de nossas vidas
nos perguntamos energicamente
onde se esconderam os propósitos.

segunda-feira, abril 2

De ser mulher

No desconserto de ser mulher
vivo apalpando minhas dúvidas
e as vezes tremo os olhos
quando a frente surgem outras,
que mal conheço.

Meu ímpeto

Meu ímpeto nunca mente,
quando é hora,
a hora precisa
de não precisar mais,
mentir.

O de sempre

Pedi a Deus que me desse
e que me fizesse
e que me fosse
e que parecesse
e aparecesse.


E que acontecesse
e que tivesse
e realizasse
e de fato, meu.


Pedi a Deus o de sempre,
que a mim merecesse,
qualquer pedido que fosse.

Autoridade

Andei escrevendo coisas na minha mente e desencorajando meu mais livre anseio. Ando sendo covarde com minhas esperanças apesar de segura-las com meus olhos, já não pratico o calado e veemente sussurro. Ando sendo precoce no corte, sendo inaplicada em minhas verdades e além de tudo, consciente de minha existência. Apesar de tonta e inacabada, minha autoridade ainda prossegue, intacta.

O que tenho

O que tenho agora
se tenho,
é mais de mim.


Tudo se multiplica e vive,
onde as mãos nascem
e as formas sorriem.


Pratico meu amor como virtude,
e vou orgulhosa pelo mundo.

A burrice

A burrice sempre me deixou alheia,
mas nunca a desistir.

terça-feira, fevereiro 28

Sobre as palavras

Nada resiste as palavras quando
o próprio medo reclama.
Quando a própria alma inflama.


E de nós nos fazemos desconhecidos.

segunda-feira, janeiro 30

Feliz de mim.

Feliz de ouvir e ser ouvida,
e no mais que as verdades se oponham....
estaremos, sempre.

segunda-feira, janeiro 2

Dividindo

Se agora que me vejo tranquila,
e dizendo sou-me toda contente,
e ouvindo sou flutuar,
divido parte de mim que o tempo permite,
para no tempo, dividir-me.

No meu bloquinho

Há tanto medo numa folha em branco
quanto num coração vazio.

quarta-feira, dezembro 21

De longe

Te ninei das mãos aos joelhos
e disse que velaria teu sono.
Distante me pego olhando
os olhos que nos meus pequenos refletiam,
e dizia a distância que me cosumia;
fica aqui pensamento.