sábado, agosto 22

Jamé

Nunca amei ninguém nesta vida. Nunca fui amada.
Nunca senti que fui amada, nem sequer, amada fui.

Nunca vi meus poros reluzentes, nem minha alma vibrar.
Não senti o calafrio de manhã, perdida em um mirar.
Um sorriso displicente, dorminhoco. Anestesiado de outro dia.
Não soube observar, nem sequer amar,
um escovar de dentes, um lavar do corpo,
um café na tarde vazia. Nada disso.
Não acordei com um nome na boca,
falando alto no estremecer do pensamento.

Nem contei as horas de ansiedade, não.
Não me cobri de esperanças esquisitas.
Não pude, em sincero. Jamais fui, nem serei.
Não cobrirei a casa de flores, não farei amor, nem amarei.

Não desejarei os dias, não farei das noites, lindas.
Não amarei, nem ficarei. Do lado sem dizer nada,
encostada, de sobreaviso. Olhando a nuca alheia.
Segurando um dedo, parecendo criança.
Não viverei de amor, amor não me alimenta.

Não fui nem serei mulher, mulher de alguém.
Não vou preparar, nem me vestir. Não vou.
Não beijarei as orelhas, nem os olhos.
Pedirei ao amor que se afaste, perigoso.

Sequer trouxe flores, em meus sorrisos.
Não acordei com um olho só, nem abracei.
Não rezei pelos planos, nem acolhi.
Não chorei de felicidade, nem dei carinho.

Nunca fiz nada disso, nem farei... jamé.

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