quarta-feira, abril 2

..Contrapartida.

Assinou-lhe a carta de alforria, deu-lhe nada as mãos, tirou-lhes os grilhões e disse-lhes para alçar voo aos campos, sem comida, sem remédio sem água... contrapartida.
Como bons eram, libertaram aqueles que por muitas lhe serviram, servidores das vidas antigas, dos modos e costumes, tão educados e civilizados, humanos singelos. Humanos verdadeiros, realmente.
Seus filhos tão educados, tão bem tratados e amamentados, bebendo das tetas da negritude, enquanto os teus filhos choravam aos pés, a frente, de fome, de doença....de desgosto.
A sinhá tão boa, lhes deixava comer o resto do jantar, lhes deixavam permanecer na cozinha, apenas lá. Lhes deixavam, olhar-te nos olhos ou pentear os longos cabelos da sinhazinha.. menina tão bonita de se ver.
A casa era um brinco, brinco de pérola negra. Que deixava de brilhar para adornar a casa grande, para a mobília não deixar pó... para lavar passar e cozinhar. Lá estava teu brilho, desperdiçado até mesmo a cama, onde eram pérolas descobertas... pérolas tomadas de suas conchas.
Um capataz, tão bom amigo de todos eles. Tão bom amigo dos Quilombolas, do velho açoite às manhãs, do velho açoite a todo o instante.. Logo capoeira se fez arma, se fez chicote dos brancos capatazes, mestiços por muitas, traidores por tantas.
Lhes deram muitos, muitos motivos... tantos planos. Lhes deram a vida, agora criadores, tão singulares em tua bondade... tão bondosos em sua face, tão limpos de toda sujeira... em contrapartida com toda essa podridão, eminente.

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