Queria poder não precisar do tempo, que as horas que a mim fossem concebidas, fossem o bastante. Que quando houvesse fome, frio ou medo, pudesse enfim sacia-los com sob meu poder.
Queria poder não precisar das horas, que tanto se vão dentre meus olhos, que me regulam à todo
instante e me tornam escravas de ponteiros que giram, rotinas que sufocam e empreitadas que não me são plausíveis.
Queria poder não precisar das ordens, do mundo que gira, das pessoas que falam, mentem, articulam à todo instante... das trocas necessárias, das mentes que oprimem dos olhos que regulam e descriminam, sempe.
Queria poder não precisar de amarras, das quais me obrigam ser como sou, ser como acho que sou e ser como preciso, enfim. Manter a boca calada, a mente vazia e o corpo se movimentando, para seguir o resto que me acompanha. A roupa apertada, a mente oprimida, o ar que me falta... o sozinho que não encontro o solitário que tanto preciso, o silêncio, as flores, os aromas, os pequenos barulhos do mundo, do mundo que me é verde, sensível.. palpável.
Queria poder não precisar das juras, jurar-me a todo tempo ser melhor, jurar-me a todo tempo resistir, por não gostar, por gostar, por sentir. Jurar-me estar viva, quando a cada pedaço que se vai de mim, juro a todo instante não ver. Quando cada pedaço do que fui, some aos poucos sem saber, e o que sobrou, tenta jurar retornar ao sentido correto, a essência.
Queria poder não precisar dos outros, de todos aqueles que tanto necessito, de todos aqueles que amo, que me amam, que não precisasse tanto do carinho deles, do afeto do amor... pois me manter tão coexistente, me faz fraca, me faz dependente... Queria poder não ama-los tanto, quanto os amo.
Queria poder não precisar pensar tanto, que pensamento ronda as flores do meu jardim? Os pássaros que por ele passam, as àrvores que emergem sobre a terra e o vento que sopra do além, mandado-me recados nas noites frias.
Queria poder, escrever-me exatamente tudo que sinto, como e de que forma seria, se pudesse, me escrever uma longa carta. Uma longa, imensa e duradoura carta, para não esquecer-me de quem sou.
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