quinta-feira, dezembro 4

Nua

Todo dia, todo santo dia venho me despir de minhas saudades. Venho me cortar a lembrança, venho redigir ao meu crepúsculo um incitante adeus. Todo santo dia, acordo e vou logo me despir de todo meu adeus, açoitar a fidalga que retém os olhos, mandar o regente reger em outros reinos. Todo santo dia venho me despir de minhas lamurias, meus cortejos e minhas sensações esquisitas, tropeço no mundo e recolho o que posso, daí talvez venho me despir de toda e qualquer vista, toda vida. É sempre com os dedos ansiosos e a mente cheia de atrativos que recolho, letra por letra, suspiro por suspiro... cada pedaço de meu ventre, cada gota de minha alma, cada cantinho de meu sentir.
E todo santo dia, venho... venho me despir aqui.

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