segunda-feira, novembro 11

Sobre mágoas

Um pedaço da mágoa é falta,
aquela que só a verdade exige
aquela que só a busca atinge,
que perdida, sangrando
ainda reside.

sexta-feira, novembro 1

Apenas um garoto

Um menino que sobe a rua em vão...
que na esquina palpita e volta sem adeus. Chega pra ir embora e que na iniciativa de ser vista, você me ignora. Mas fala comigo, incessante.

Conhaque

Você me deu a mão e eu te recusei. Como tua mão me recusa em brilho, como te estendo na reclusão.

A angustia II

No escuro os olhos se procuram como guias.
De longe a voz abafada do olhar.
Na longevidade da noite te persigo a me olhar.

A angustia

Não contei pra mim sobre você. Não joguei palavras na verdade nem segui os passos da visão. Te calei em cada parte; alma, dia e reclusão. Te recusei, e fui nobre. Mas erro em confusão, te pego solto no ar e te trago inteiro e único. Do único jeito que és perfeito. Na única saudade inexistente, no dia a dia de dizer não.

O incômodo II

Você é tão doce que tenho pena, na sua brutalidade és camurça. Na sua grandeza, na sua imperfeição. Não brigue comigo, não jogue nossos olhos ao chão. Eu ainda quero ver você direito, ainda quero perceber o meu erro. Também é errado em você?

O incômodo

Desde o dia em que chegastes, na sala da minha vida você corroeu. Tudo aquilo que em mim confiava, em você se perdeu. E no mais dos dias, o incômodo e a agonia. Te vejo a me olhar por completo, e te sinto como não havia, jamais seria. E se de mim lágrimas e confusão, não somos. Você e seu coração, você e sua duvida. Também carregam em mim um sofrer. Te alcanço em seus olhos e sua voz me conforta, mas nada disso importa. Te vejo e te sinto único, te abraço com as pálpebras. E sigo reta no teu limiar. E te evito, te julgo e te falto, com palavras e perfumes. E você sabe.

quinta-feira, outubro 17

Vou ali

Vou ali dizer que senti pena de alguém e que a mim, pena alguma. Vou ali falar o que está errado, e dizer pra mim que tudo bem errar. Vou ali atrasar minhas culpas, e de resto é só pesar.
Vou ali remendar minha fúria, matar, matar e matar.
E assim na morte justificada, justificar o que vou ali dizer.

terça-feira, julho 2

Marina

Ontem vi minha face num jeito esquisito. Vi um quadro de mim congelado no tempo, e lá eu era um bichinho sem meios, sem tempo e sem fim. Eu era. E hoje vejo reflexo de minha aparência, de mordidas de coragem e pulos de dentes... e assim renasci.

Rindell II

Onde a sonolência estraga, e tudo acomoda onde os passos tremem onde a coragem se vai e tudo de antes condena, e tudo de vem é adeus.
Volta aqui e te aclama, te rouba a miséria falha se finca nas tuas ameias e voltas a Temuco e sais.
Espera a vida vir, e cansada promete voltar ardente, serena e vibrante. Vinga-te de ti mesma sob tuas palavras.

Rindell

Venho as vezes aos poucos, no pouco que tua mente acalma me instalo, latente dizer se aqui neste mundo a tua calma falha, se em teus braços fogem as verdades e aqui tens a tua maior vontade...
vem a mim.

Egoísmo

Juntei minhas forças e minhas fraquezas e joguei tudo em cima do medo. Parti de mim como não antes era, e hoje assim sei que minto.
Onde fui se andei, e se fiquei, sigo.. usando, partindo, mentindo... até pra mim.

quarta-feira, março 6

Há mais tempo

há mais tempo de viver de si mesmo, que do outro o tempo segue lento, vivo.
há mais no outro que quando a nós encontra, temos mais tempo dentro de nós mesmos.

quinta-feira, janeiro 10

Recordo - I

Recordo breve do dia,
em que na chuva o som me trouxe
na pele o mesmo arrepio
a dobra de ser presente,
num passado extinto
numa véspera de som,
ali estive e cá escuto.

Sono a dois

Nas noites te guardo sob meu rosto, onde atinjo as costas a te proteger. Te prometo zelar sob a noite onde dormem todos os teus segredos. Onde tua maneira viva persegue o sonho, e teus cuidados apenas rondam o respiro. Teus pés se abraçam em zelo, sua curva me preenche em falta. Tua nuca, se assim for, prossigo a cumprir minha obrigação. Onde no mais tardar das horas e na competência dos dias, permaneço ali.

Preservar

Um dia te vi e pensei que era eu. Era quem dizia aquilo que gostaria de ouvir, e nas palavras pertencia de dizer e escutar. Fui tão longe e vim tão breve, perdi cada sentença em ser ou estar. Por mais que a voz da boca aos ouvidos me seja, e dos ouvidos saiba que a mim te pertence, a ti me guardas e preservas.

A cegueira

Existe uma dúvida que cega o mundo, que pertence a maioria dos olhares e permanece nas centenas de travessias. Por onde quer que a voz se estenda, por onde vá e retorne a vida... você sempre estará lá, astuta e vacilante. Nos mesmos modos que cumpri meus dias atrás, ainda prossegue a maneira de lidar contigo. Por mais sincera e predita que seja, ainda sim te alcanço sem entender. Onde chega a maneira velha e oculta de percorrer meus dias, e segues, mantêm... resistente.