segunda-feira, fevereiro 28

Ser tia

saber que parte de você é vida,
que a vida se move e se transforma,
saber que um pedaço de vida se forma,
se contorna e se desenvolve.

ser tia é estranho, e cuidadosamente cultivado.

Alguém me perguntou

Quem foi que disse que sei amar?

nem eu me disse que poderia.

o que é amor senão dizer que sua vida pretendida não lhe pertence.
que é, do suposto das horas o desprender dos íntimos.
que nas falhas regozijam puro perdão.
que amor sei amar se não aquele que desconheço,
que as mãos me desrespeitam,
que amor presumo que sinto?


Sobre escrever

já não escrevo com a mesma vontade,
a vontade de escrever já não descreve.
se pego as palavras da boca, da mente,
é porque estou tão triste que nem falo.

já não sinto muito por muita coisa,
e se disser que algo poderia,
o que seria muito por sentir^?


o que seria dizer sem sentir...
o que seria sentir sem dizer...


acho que é morrer.

Já que digo tanto que conheço de muito. Vamos começar a dizer o que desconheço;

não sei se esses rostos são-me conhecidos, a face e a silhueta, as sombras dos olhos, os ombros, as cores e as bocas. quem são todas essas pessoas que me falam nas horas, que me modificam sem saber? todas essas vidas, tantas, que na minha fragilidade, no meu desgosto, no meu carinho, tocam e destocam sem sequer a força do conhecimento me responder...

domingo, fevereiro 13

sublimando

eu apareci, nos teus braços
e fui como sempre fora,
cheguei como quem nada,
e fui como quem nem sabia.



os meus olhos sempre ternos,
dos meus desejos ávidos,
eu fui a mão sincera do teu corpo,
eu sou a falta que alastra meus dias.


se me perdi e se é que perdida,
solta nas clavas dos dias,
nada mais é interessante,
que ir embora de você.