terça-feira, dezembro 30

Sobre portas

Anos se passaram, uma mudança previsível de todas as vias dessa casa. Quase vinte anos para construir o primeiro andar, uns cinco para aumentar a sala e diminuir o corredor onde eu rodeava a casa de velotrol. O jardim já não é o mesmo, o chuveirão não existe mais, a churrasqueia melhorou bastante tomando ares de mármore e madeira robusta. O quintal deixou de ter um coqueiro e a varanda uma palmeira. As pequenas rosas e margaridas ficam na lembrança rápida por onde passava, o canteiro servia de recuo para conseguir pegar os coelhos. O portão deixou de ser de madeira e o muro também, o gramado da varanda também foi embora e deu espaço a um grande salão de pisos brancos e flores azuis. O pequeno quarto virou uma sala, a sala continuou sala, a cozinha só se serviu de fogões e geladeiras novas. O banheiro ficou pálido, espelhado e mais bonito, lá em cima agora existem três quartos, o corte da planta se fez como em baixo pois as vigas só seriam felizes assim. Embora uma varanda tenha se estendido lá em cima com um ar gostoso e vista esquisita. Não vejo mais a grande árvore que ficava a frente da casa, as linhas bem amareladas ao chão da rua, as pequenas folhas que elas depositavam ao chão. Não vejo mais as crianças, os refrigerantes que ia comprar no vizinho a frente, o pipoqueiro passar... Não me vejo na calçada o dia inteiro brincando descalça.
Na minha casa muita coisa mudou, mas o engraçado é perceber que as portas são as mesmas de sempre, abrigaram meu choro e meu riso infantil, minha euforia pré-adolescente, minha revolta e indecisão de mocinha - que carrego comigo ainda, bem forte - e hoje elas apenas escutam minhas músicas altas, o meu passear na madrugada, meu silêncio e minha solidão. As vezes riem com meu riso, ou das minhas piadas esquisitas quem sabe das minhas danças matinais?. Por outras me fecham por fora para ver que não é a minha vez, enfim, as portas continuaram as mesmas. Apesar de muda-las de lugar, são as mesmas de sempre. E por um segundo, sem querer até me dei conta de como foi bom perceber isso.

segunda-feira, dezembro 29

Juntinhos solitários.

Não posso, não consigo,
nas ruas nos mundos,
nos bares e fundos.
Nas filas e cercos,
nos erros e acertos.

Estou sempre cercada,
apesar de calada, sempre.
Dessas vidas que esbarro,
que me acenam e me xingam.
Me dizem bom dia e se calam,
é o que fazem por ai.. é o que falam.

Que vão e vem como loucos,
sou louca junto a todos.
Um bando de loucos desvairados.
Somos por pouco!
E nada somos juntos..

Mas somos sozinhos, juntos.
Pois bem se apertados,
engolidos e cuspidos,
não somos nós ainda,
mesmo em nossa discrepância,
somos sozinhos, juntinhos.

Juntinhos solitários.

Aquilo mesmo!

Esguia, disfarça..
apronta tudo.
Contorce, exalta..
o enfurecer profundo.

E toma os braços,
cabelos e tudo.
Contamos juntos,
como estoura, em segundos..

e lá vem as lágrimas.

Meio dia na minha cabeça

Meio dia na minha cabeça,
estou no meio da rua de óculos,
meus olhos se escondem das vias,
da crueldade do mundo.

Me escondo por alguns segundos,
me escondo o quanto posso.
Mas me descobrem, malditos.
Querem saber meu nome e de onde vim,
tudo querem saber desse mim...

Meio dia na minha cabeça,
frita o meu pensar, ávido.
No dia que puder abrir minhas asas,
será que serei tão livre assim?

Mal posso esperar pelo mundo,
até os tapas certeiros que estão por vir,
em um desses tropecei há três anos,
espero que algo esteja concreto por aqui.

Meio dia na minha cabeça,
talvez depois da tempestade,
venha mais tempestade, enfim.
Até que o mar se canse de volver,
e a temperança encontre esse mim.

Quem disse que preciso de esferas,
tudo um doce remédio temporário,
como disse antes, naquele dia amargo.

Meio dia na minha cabeça,
escuto o estouro no longe impessoal,
tão pessoal a mim ultimamente,
que nem sei se desconheço tanto assim.

Os gritos ecoam das ruas,
e os gritos personificam aqui dentro.
Já abro meus olhos descrente.

Meio dia na minha cabeça,
não me peça coisas tão difíceis,
eu só quero um pouco de vida,
e a vida é um merecimento bipolar.
A mercê de suas mãos atadas,
a mercê de minhas mãos tão livres...

Meio dia na minha cabeça,
e não conseguimos dar as mãos.

Jaz aqui uma lembrança

Um dia meu tio se foi,
senti a sua ida.
Queria seu retorno.

Senti medo do medo que era saber,
que ele não estaria lá pela manhã.
Toda manhã de sol no meio fio.

Sabia que um dia ele iria,
sei que um dia todos vão...
Já faz tempo, mas é sempre lembrado.

Quem faz falta não é esquecido jamais.

Semente comum

Permanecer no século XII, ser quem fora outrora,
em mundos novos, em outros séculos.
Crer numa assinatura, santuário divino,
inferno alarmado, dádiva do céu.

Ignorância, petulância.
Minha talvez, pura visão anti-relativista.
Sou o produto do que me criou,
como são, todos em seu interior.

Mas há contradição,
se posso ver daqui e eles de lá..
quem tem o poder de decidir?
Quem tem o poder de mudar?

Há sempre ostentação,
de uma moral-amoral-imoral,
em contextos divinos e divinificados,
onde um homem plantou a semente comum.

Posso chamar do que quiser,
posso proceder e me inflamar,
reduzindo ou recriando,
uma visão criada por mim?

Talvez quisessem que pensasse assim,
ou por tudo que sou, se sou é por tudo.
Por tudo que me rodeia, sempre.
Por tudo que recria, o mundo
e todo e qualquer tipo de gente.

domingo, dezembro 28

Sobre crer

Uma vez ouvi dizer que algo permeia todo o resto, e o resto permite ou não que as águas se multipliquem, mas que mera bobagem, ela apenas se divide.
Uma vez ouvi dizer que algo está em tudo, e acredito que o tudo se cruze, se envolva. Talvez um mero descaso de quem não observa, ou seja um sinal a todos aqueles que estão atentos.
Uma vez, ouvi dizer que ele não existe. Mas não interessa se um homem existiu há anos,
um homem só pode mudar o destino do mundo, se puder mudar seu próprio destino.
Então, por muitas vezes que ouvi por ai... pude finalmente acreditar que nada é melhor, nem pior, ou perfeitamente divino. A vida se divinifica quando o mundo permite, e se o mundo permite, ah sim... ai sim.. realmente vou ouvir dizer por ai que existe a tal felicidade. Sem contornos, sem adornos... apenas caminhando do seu jeito.

Quase

Quase perdi o controle,
no momento em que lembrei
que você estava lá com seu chapéu azul.
com o chapéu azul...

ai ai..

sábado, dezembro 27

Sentimento

Sinto, por não ter mais sentido
isso a tanto tempo.
Mas o tempo, não sentiu.
Não me fez sentir muito..
pois agora que sinto novamente,
eu sinto tanto e portanto,
sinto-me feliz,
por isso novamente.

Anormal

Nem todo prazer é gozo,
nem toda canção é sorrir,
nem todo mundo é pacifico,
nem o pacifico é mundo...
nem toda paz é pra sempre,
nem toda dúvida é cortante,
nem todo costume é vício.

E nem tudo posso dizer,
nem tudo pode-se dizer...
a quem não entende.

None II

Quase todas as vezes que estou chateada, não me pergunto sobre o que escrevo. Só descrevo o olhar de auto-piedade em minhas terrenas palavras. Esqueço do voar, itinerário de sempre. E fico por aqui mesmo dizendo infâmias. Já estou tão cansada de sobreviver a isso, que insisto em não dizer mais nada. Sinto que meu calar já me faz culpada o bastante, chega de remédios breves.
Como ontem e anteontem, torci o nariz e imprudente fiz, imprudente fui. Nada resolveu, nada despertou. Tudo se manteve como a cinco minutos atrás, contínuo e dilacerante. De que me valem as coisas absurdas e inóspitas das madrugadas de azedume? Acho que mais palavras pra recordar, ou sabe aquele sermão íntimo? Costumo me dizer algumas boas e importantíssimas palavras quando resolvo ir pelo caminho mais pesado, só que agora, é tudo tão difícil. Antes algo pulsava e conseguia ir em frente, mas pouco a pouco a chama se esvai, e assim deixo de recorrer a um império discursivo e impetuoso. Não há retórica no mundo que me faça crer nessa postura. Cada vez mais sinto um convite incitante de algo maior, uma espécie de destino implacável e restaurador de centenas de desterros.
De nada me valem essas lágrimas, nem esse rancor todo. Onde mais estaria se não fosse por tudo que já fiz, por tudo que sou, por tudo que fui. Já não insisto mais em discutir memórias residuais, quando fui somente isso por um duradouro espaço de tempo. Que fiquem onde estão, se tudo me permitir. Sou porque fui, e do que fui não tenho mais o que falar, só recordar.
As vezes abro a janela da minha casa, e respiro sozinha a esperança de um novo dia. Nada me faz mais feliz do que sentir isso só. Ninguém merece o quanto isso me dá prazer, ninguém. E já não me restam tantas cartas na manga para dividir, tenho apenas meu sorriso, minhas ideias e minha simpatia de balconista, exige de mim uma árdua fonte de paciência e parcimônia, por vezes um tônico para a vida, por outras, um inferno na terra. E assim prossigo, viva.
De começo meio e fim sempre esqueço de dar uma solução, um glamour estético as palavras esperançosas e cheias de um mundo maravilhoso, mas não hoje, hoje não serei essa pessoa. Até que um dia me falhe o esquecimento e lá de onde surgem todas as palavras vibrantes - esse consolo as três da manhã - de onde tudo surge e emerge em mim, guiarei minhas frases a um desfecho maravilhoso, enfim.

Castelo de areia

Castelo de areia,
bonito na praia
deslumbre do níquel
resquício de água.

Castelo de areia,
bonito de ver,
crianças brincando
mas, não pode..
não pode chover.

Castelo de areia,
de todas as vezes,
só vi seu império,
longe das águas.

Castelo de areia,
próximo ao mar,
não resiste..
por muito tempo.

Castelo de areia,
sozinho e relapso,
próximo as águas
é mais um tolo juvenil...

destruído por si mesmo.

sexta-feira, dezembro 26

O flerte

O flerte é uma coisa engraçada.
Você nem nota, nem pisca,
e já tá enrolada.

Começa num Olá,
num olhar...
e tudo cerca.

Todos fingem,
tudo é mistério,
mas já se sabe.

Já se sabe onde
isso vai dar.

quinta-feira, dezembro 25

Eu aceito

Eu aceito,
uma nova casa,
um novo pensar,
uma nova cor.

eu aceito,
uma nova promessa,
um futuro promissor
e o decair do amor.

eu aceito,
esse meu calar,
um idealizar,
um crescer interior.

mas eu não aceito,
de forma alguma...
permanecer onde estou.

quarta-feira, dezembro 24

terça-feira, dezembro 23

De Saturno

Andei introspectivo pelos dias, inútil e desnecessário como sempre.
As serdas andam cada vez mais agudas, serdas mudas, agudas.
Nada e tudo parecem iguais, verdade de mentira não se desfaz,
com tudo, contudo e com todos.. os ventos sopram tão frios.

Fico a mercê dessa insensatez, a margem dos centrados hemisférios,
assim estou submerso em algum mundo distante. Ásia de minha vida...
Ilhado em um submundo chamado eu, e eu que é bom não me aparece.
O você talvez me interesse, e depois não quero mais saber de mundos distantes.

Mas posso dizer tudo a você, posso te contar cada detalhe,
e não entenderás a dispersa forma, desse mundo em que me recostei.
Não saberás porque brilha o orvalho pela manhã nos coqueirais,
nem porque a noite as águas morrem em sedentos precipícios.
Não entenderá porque vou embora, nem porque fico aqui te observando.
Nem se as vezes me encaro vivo e intenso, nem porque morro a cada segundo.

E nada será como antes, presente desse presente inesquecível.
E o segundo que passou já é passado, quando escrevi o involuntário,
onde fiquei, onde finquei meus dias em pouquíssimas palavras.
E só me sobraram alfabetos, e de letras me lembrei de dias amargos,
e de frases ri sozinho na sala, e de loucuras sobrevivi em meus dias.

Não me deixo ir embora.

Quem disse...

Quem disse,
que amar,
assim é fácil.
e eu nem sei,
se amo isso tudo,
ou só abraço..
por abraçar.
pois os dias passam,
e sou pior do que nunca,
só desgosto.

Ainda por lá

Depois de duas horas no sofá, fechou os olhos e pediu sustento. Carregou na garganta um pedido inóspito, não crescera voz alguma, não crescera absolutamente nada. Então sentou sob o vértice laranja, acalmou o esquentar do corpo no gélido chão, e de súbito se levantou ao intuito.
Foi atrás de um quê, que não existe. Saiu ofegante em busca do qual, qual o significado disso tudo. E então gavetas foram abertas, papéis e resíduos de alguma coisa que um dia fora conhecido. Poeira e esquecimento em listras, gravuras e verdades alheias. Revistas e jornais antigos, fontes de inglês, história e cristianismo. Lições petrolíferas e manuais de trânsito. Nada era o que lhe chamara, o que lhe fizera levantar. E as gavetas emperravam, tesouras e lixadeiras, cupim e desordem. E onde estaria a passagem de volta, onde estaria o maldito fim, se queixou. E voltou pro sofá...

segunda-feira, dezembro 22

O Cachorro e o rabo.

Sigo o meu rabo
em torno de mim,
e eu corro,
corro e babo!

Pois o meu rabo,
é meu triunfo,
é a minha sina,
nesse girar...

E rodopio, tonto
mas ileso a tudo,
a contrariar.

E corro mais vezes,
em busca do outro eu,
até onde Deus dará.

Até que um hora,
meu rabo altivo,
irei capturar.

E simmmmm, sim!
eu me encontrei,
nesse girar.

"Que Fora"

Quanto vale,
um sorriso,
de quem,
raramente o faz?

Verdadeiramente,
as vezes é bonito,
de ver rosar...

Talvez,
um muito obrigada,
eu gostei muito!
satisfaz.

E o mundo vive,
de presente,
onde o carinho,
não está.

Um presente,
volúvel...

sábado, dezembro 20

None

Hoje dormirei com uma vontade imensa de gritar aos quatro ventos a minha farça.A todo instante finjo um novo recomeço,uma nova estratégia cintilante. E ponho a todo resto o resplandecer de uma jóia roubada, de outras letras, de outras vidas,e outros rumos.Talvez eu suba até o mais alto de minha dúvida,até o ápice de minha psicologia, e me pergunte,obviamente olhando em meus olhos, quando finalmente irei me separar desse lamento desnecessário?Se crio um faz de conta incessante, uma réplica de todo conto de fadas, onde permaneço no desenrolar de uma estrutura Hollywoodana, e sou no meio do filme,onde o mocinho perde a mocinha, onde a esperança se magoa e o amor viaja pra bem longe, eu sou no procurar da cura ou no modo de salvar o planeta, a minha própria confusão.Diante de toda essa remota possibilidade de desfecho, só posso dizer que cansei de derrotar minhas invisíveis mágoas,pois não sou infeliz, não sou transtornada, não sou mal amada,não sou um poço de desterros e magnânima ignorância.Sou apenas um retroceder bobo, uma fagulha de vida que acende no mármore dos dias, que se aquece nos pequenos detalhes e se diminui no vento insistente.Talvez as vezes contribua para um estado intermitente de ilusões,todos nos somos criadores de problemas desnecessários e injurias fictícias.E nada seria diferente para uma jovem idealista de causas mortas. Acredito num discurso que exige demais de minha vida preguiçosa,mas admito a insuficiência temporal, pois nada é imutável.Mas ainda sim creio na esperança vã, ela sempre me acompanha de uma forma sincera e desviada, nos mínimos resquícios de um corrompido acreditar.E a minha farça é por seguir de encontro a tudo que amo, tudo que subitamenteme ama de uma forma irrevogável. Pois amor não se restringe apenas a dois corpos,amor não é a posse de união, comunhão. Amor se estrutura numa base chamada respeito,e a longos anos eu deixei de respeitar muito a minha volta, como se pudesse apenas contribuir com o xerife de minha alma, que dizia não a ordens. Mas o meu distrito deixou seu cunho municipal, e agora tenho que revogar minhas participações para ordens federais, pois a vida me chama a cada segundo, e não posso mais ser a mesma, pois se tudo muda, o mundo muda, a vida muda, porque comigo... há de ser diferente?E não interessa mais, não me importa. Tudo aquilo vai embora, de bom e de ruim, e só me sobram as lembranças, e por tudo que eu posso contribuir para rete-las,apenas direi em face a nova ordem que me precisa, pois eu preciso de mim em um novo estalar de dedos vivos, pois preciso de um novo olhar cintilante, e preciso..esquecer que nada foi revelado de forma completa ao injurio, e tudo... tudo é formato,e formatado para co-existir. E sigo nesse tear da existência, graças a vida.

Cafezinho

Bom mesmo é tomar um café
e discutir o indiscutível.
Lembrar o desmemoriado tempo,
e sorrir por dentro.

Cafezinho sempre me cai bem.

Agora

Não acredito mais na força do agora, pois nem tudo é precipitação, nem sempre o imediato consegue me suprir o coração. Bobagem é seguir essa dança incoerente, quando se perde metade da esperança. Pois outro dia sempre nasce, não tão novo para quem acha que realmente é, não tão completo e sereno, mas uma consequência daquele pretérito imperfeito.
Mas, nasce, sempre nasce um novo dia com tantas possibilidades, falhas e acertos, só esperando pela nossa atuação duradoura.

O que sou.

O que eu digo,
o que eu falo,
o que eu faço.

Sou tudo eu,
é tudo meu.

E se não agrada,
se não permite,
se não concorda...

vamos conversar,
talvez.

Quieto

Ontem contei um segredo ao meu coração,
talvez não o deveria ter feito tão rápido...
pois ele com certeza não compreenderá.
E se o tivesse feito antes, ou amanhã,
acho que seria deveras pior...
Pois ele não entende, nem aceita
que tudo só se permite no momento exato.


E sim, foi o momento certo.

A tarde

Hoje eu não quero nada,
nem choro nem vela,
nem doces algozes,
nem dúvidas, nem beijos..
nada de amor por hoje.

Hoje eu não quero brigar,
não quero telefonema,
não quero gente,
não quero bicho,
hoje não quero nada...

além de mim.

quinta-feira, dezembro 18

Pessoal

Trago as manhãs minhas forças,
e enxugo do peito a saudar, como é precioso.

A cada segundo, em contraluz, perfeito.
Gosto das palavras no caminho de volta pra casa.

E se me perguntar por onde andei ou fui,
já não sei se estou indo ou vindo.

Talvez faça os dois, se puder.
E que esse suspiro permaneça..
como é bom viver.

Saturno

Emerge onde o nada insiste,
onde a dúvida colore,
e descolore o puer.

De todo sacrifício
e a glória de doer,
eis tuas folhas de louro.

E derramas inibido,
o permanecer em Saturno,
onde és contemplar.

E até que o dia murche,
e a alma decaia,
uma voz insistirá.

A doença está no mundo,
a tristeza está no mundo,
e Saturno, está em você.

Estrago alheio

Um estrago, coração.
Já sabes, nem preciso..
O amor adoeceu, em pleno dia.
Do começo é teu mérito,
do final é confusão.
E tudo volta ao lugar,
e termina e começa,
novamente, coração.

Rente

Estala a mente,
a ideia submersa,
de pouco ao resto,
toma os dedos,
e lá se vai novamente,
um monte de ilusão,
um alimento da alma,
um fado racional,
um regalo ao coração.

E desce rápida, faceira.
E a boca ri de metidez,
os olhos fecham aos poucos,
lhe toma algo orgulhoso,
vingas teus rodopios estáveis,
loucura de gente que tem sono.

Duradouro

Durmo,
insensatez.
E Acordo, esperança.

Permaneço,
calada.
E finjo, colidir.

Prefiro, abster.
E finalizo, pensando.

É difícil.

Luas & Luas

Luas plenas,
cálidas
e azuis.

Luas breves,
cheias de vida,
anil e luz.

Luas cheias,
contorno cálido,
espelho do desejo.

Luas de Bruxelas,
Vitória
e Assunção.

Luas de ventres,
nascimentos
e conclusão.

Luas crescentes,
onde arde o sangue,
breve ilusão.

Luas passageiras,
momentos instáveis,
passaram então.

Troco

Me tomas o restante,
do que já nem tinha.
Como vou sobreviver?

Tenho de comprar o pão,
uns dois já resolvem,
mas sem troco, como faço?

Junto o pouco que me resta,
do pouco que nada tenho,
sabe como é que faço?

Talvez lhe direi, quem sabe
se me devolveres...
o troco que restou do nada.

Cilada

Há sempre,
na calada,
cilada, cilada.
Há sempre,
no rumor,
cilada, cilada.
Há sempre,
na dúvida,
cilada, cilada.
Há sempre,
de tudo,
cilada... eterna cilada.

Falling out

Me vens com essas mãos tremulas de cidadão perdido, e corres pelas ruas com o calcanhar agudo. Quantas vezes elas lhe fizeram medo, um impulso perdido na largura distante dos que já estão em casa. O barulho assusta o medroso, que corre estremecido pelo asfalto, sempre com um quê de assaltado. Até que por mochilas e bolsas, celulares e cifras, até onde a margem dos papéis podem lhe cobrir, ou onde as sacolas podem chegar. Os livros podem se perder, a mágica de todo um coração pode se esvair, como se apaga esta chama quanto aos dias a mais sem vida. Mas vens com essas mãos tremulas novamente, e o medo difere do que há lá fora, o medo escorre do que há por dentro, mas não esquece dos olhos que te observam, sedentos.

terça-feira, dezembro 16

Soneto da Injúria

Quantas vezes, mais?
Se me seguro aos poucos,
e nada por mim, se faz.
Continuo decaída.

E meu coração murcha,
aos centímetros de cada segundo,
quando o tempo machuca,
e tudo se acumula, nada sou.

A injúria compensa a quem,
a quem não se importa,
e de que importa ? É uma porta.

Vais morrer no amargar,
ao perceber que não há,
nem sequer um pouco de ti...

Sobre sorrisos

Sorrio amarelo,
condizente,
com minha amarelice..
de sempre.

Sorris em azul,
pois de gosto,
és a luminescência
de minhas escolhas.

E a preferência,
de meus olhos,
que sorriem,
espelhados.

Na manhã

Todo santo dia eu acordo com esse barulho.
Ruminam a manhã inteirinha.
E meus sonhos felizes morrem,
e dão espaço ao branco sonhar,
sem mais lembranças, sem mais..

Quem?

Quem sou eu,
a não ser a mesma.
A mesma de sempre,
mas nem sempre, a mesma.

Quem sou eu,
se não outra vez,
de novo, novamente
sigo o caminho no repeteco.

Quem sou eu,
a não ser a velha mania,
o costume encruado,
em síntese, palpitação.

Quem sou eu,
se não um fado de dias,
que passam apressados,
e deixam as marcas...

para a mesma de amanhã.

Acordei bem..

Acordei bem, bem mal,
e nada que eu coma,
pode me confortar.

Maldita virose.

quinta-feira, dezembro 11

Verso

Verso, versinho meu
prenda de minha vida.
Luas e céus vão poder,
mas não sem tua presença,
não sem teu existir.
Não sem teu dom de
conduzir, em cada vogal
em cada consoante viva..
a verdade de meus olhos.

Por todas as santas

Pela Santa Ignorância,
pela Santa Burrice,
pela Santa Falta de Paciência,
pela Santa Insensatez,
pela Santa e imaculada descrença.

Orai-vos.

Nossa música

Quando a nossa
música tocar,
eu vou me lembrar.
Que nada é assim,
tão fácil.

quarta-feira, dezembro 10

Cinco dias

Passei cinco dias pensando,
em como parar de pensar.
Talvez calando-me,
mas que besteira, o falar é ímpeto.
E ímpeto não obedece,
não tem conversa..
nem pedido, nem perdão.

terça-feira, dezembro 9

Josephine.

Josephine, flor esquecida do jardim dos pássaros. Flor de orvalho rente e textura angular, de haste fina e adornos simples. Flor de anáguas cálidas, mas que se prende em superfície a um ar embalsamado. Em teus dias, horas demais e certezas vãs na órbita de teu mundo, Josephine realça sua vida em sua desmedida e conturbada comoção imaginária. Sobrevive de amor a um único ser cujo molde lhe abraça a liberdade, o céu e ela, eram longínquos de um grande amor em laço eterno. Mas flor de jardim cercado jamais visita a esfera do mundo, muito menos, do amor liberto.
Cantava suas alegrias e tristezas em um desatar de nós estranho, cada vez que uma de suas pétalas era desamarrada, ela tecia sob seu ímpeto um desejo de construir uma desmedida história, onde Josephine se rendia a uma canção de amor qualquer, e deixava de se enraizar sobre as ervas daninhas. E em que, encontrava com o pássaro de teus sonhos, um amor em vendaval de estrelas distantes. Ou talvez, era vez da tristeza, e só a mais pálida das flores poderia redigir um consolo duradouro. E Josephine era de tudo a mais triste das flores, em condição de um bulbo sedento de tristes histórias, sadomizando assim tuas folhas mínimas. Pulsava por hora e desandava por muitas, seu guia de todos os dias e algoz de sua dívida eterna, Josephine obedecia a clausura de viver em si, para si o mundo era sonhar demais, para os outros, Josephine apenas uma flor sem mais espetáculos.
No jardim acompanhava as manhãs o tear das rosas, um luminescente raiar do dia em que todas elas exalavam o melhor de toda sua espetacular e distinta vida, existem flores que nasceram para exuberantes papéis, e das rosas Josephine tinha um absurdo contemplar. Logo a esquerda das rosas a grama era mais verde, e os pássaros eram agraciados pelo brilhar do orvalho sob tuas pétalas cintilantes, o edem posou e deixou que o mundo dissesse adeus. E agraciadas, uma a uma com a vida de longas condições, condições essas de esmero e adornos, elas seguiam a contornar o mundo com uma beleza singular e radiante. Atraindo o liberto ser que de outra lhe retiam os dias.
Perto do gradear estava Josephine, a última de sua espécie. Pois a pouco lhe dissera adeus a penúltima, que fora passear sobre as mãos de um arroubo juvenil. A sua direita, um imenso Copo de leite, audacioso de tão grande, eterno em si por seu reter do orvalho, minucioso em suas poucas palavras e de súbito, as vezes um grande produtor de horas de pensamentos. Residia nos dias de Josephine como uma razão distante, que por vezes lhe visitara a face. Por muitas, em que esqueceu de acordar, o esguio ser lhe derramava um bom dia, em litros fictícios.
A mais deles ao redor de Josephine, só não lhe aparentam bons presságios, pois flor que não brilha não é boa coisa, ditos em reservado, porém o saber de tal fofoca fora conhecido. De certo ela se virava a esquerda as manhãs, de certo que sim. Lá estava o Girassol, radiante e altivo! Grande flor de prosperidade e renascer, lhe regava os dias com fortes palavras de otimismo, e lhe trazia um pouco de vida as manhãs, quando se esquecia de viver. Mas aos dias chuvosos, daí sim o pessimismo lhe engolia, pois o Girassol empobrecia seu ser quando os céus se trancavam. Então nos dias de chuva dava a ressalva a todo seu desgosto matutino.
De certo que não conhecia as Camélias, nem as Gardênias, tão pouco os Crisântemos. Tinha medo de parecer tola e ineficaz em aparecer-lhes, então, fazia da forma mais fácil, reprimia-se. Ela gostava mesmo era de conversar com as formigas, mesmo que as vezes as via mordiscar suas pétalas desatadas, relembrando algo que esquecera. Mas as formigas eram dóceis, diziam as novidades do jardim dos pássaros, e à antenava, minúscula flor de seu liberto amado. Só que o conversar jamais substituía o doce, por isso pairavam ao encontro do néctar mais próximo. Não ligava, cada um erguia sua vida como bem entendesse, pensava.
Um dia esqueceu de acordar, não abriu-lhe as pétalas ao sol. Então tomara o gosto do orvalho gélido as seis, quase lhe derrubou toda fronte. E acordou com ar de divergência, salpicando a terra com as gotas madrugais. E lá de cima o mestre das alturas lhe disse para acordar, pois o dia nasceu e o mundo está girando novamente. Quem dirá a mim que horas acordar? Josephine teimosa como suas pequenas raízes, nunca desplantavam de um mesmo lugar, e se fora o caso de viajar pra outros terrenos, morreria inóspita. Enraivada e submersa, resmungou e se contorceu novamente, e sem perceber, uma pétala caíra impune. O Girassol cantava ao dia mais belo, as Rosas brilhavam no caloroso dia, Violetas, Margaridas, Minhocas e Borboletas cantavam a canção da Primavera, e talvez Josephine acordasse, sob o barulho chateante. E com retorcidas pétalas ela se abre, o dia a invade e os pássaros estão próximos. Um susto! Logo se mantém rente e arredonda suas pétalas. Seu amado lhe olhara de rápido sentir, e um segundo bastou para a teimosia fingir não perceber. Até nos amores ela não sabia de que modo, modos teria uma flor assim? Para talvez ser a viajante de tuas pequenas garras libertas. E então o momento se esvaiu, mais uma vez o voo foi rápido e doloroso, mais uma vez uma pétala despencara.
Então resolveu não mais viver de sonhos fúteis, decidiu exaurir-se de si mesma. Virar uma trepadeira e sumir no mundo, em seu mundo de artifícios inexatos. E até em sua fuga se exprimiu o dom da frustração, lhe prometera o mundo, e ganhastes a mesmice. Derramou-se em três pétalas, quase parecia seu pulsar incitante, mas escondia-o de todos, todos.
Assim que o dia se foi, passou acordada a contemplar sua humilhante vida, mas na única noite em que não dormira, o luar contemplou sua vida, e brilhou na noite a flor que não tinha cor. Talvez fosse sonho ou pura ilusão, mas dedilhou em mil palavras latentes a felicidade de se esquecer do esquecimento, viva enfim estara. Um tom de inebriante, a noite sou quem posso e cada vez mais! Retificou em duas ou três palavras depois, pois menos era sempre Josephine. E quem vira tal feito? O jardim estava fechado, as outras flores entorpecidas em si mesmas, os pássaros em seus ninhos, e Josephine? Sonhando em planícies estelares.
A noite era sua companheira, e nem dormira de tanta agonia. Pois o dia logo nascera e todos poderiam ver seu brilhar, mas espere, a lua já despediu-se, e seu espasmo brilhante se foi. E na manhã fechou-se novamente.
Josephine fadou seus dias a um eterno diluir de sua alma, a noite era viva e brilhante, mas ao dia, como construirá sua avidez? E assim passou a suspirar em vão, porém agora a esperança lhe contemplara ao pensar em como seria num eclipse...

Eu sou um copo d'agua

Um copo na janela, um risco o contorna.
Uma gota percorre seu envolto.
E se une a mesma, a cada gota um reajuste,
a cada líquido muda seu caminho errante..

E desce desalinhada, sabes lá onde parar,
se continua ou desanda, cada gotícula lhe conduz.
e andas engolindo uma a uma para redigir seu caminho,
até que tudo termina e ao mármore chegas...
cheia de tanto, cheia si mesma.

Derramou.

Não é isso.

Não, não é nada disso.
Eu não sou isso ai...
e tento por vezes,
só me falham as palavras.
Eu não sei mais agradar,
e nem quero, isso ai..
e então desagrado,
me afundo, pronto.

Perguntas demais

Hoje me falaram,
do seu viver,
e eu não sabia,
o que dizer.

Se me calo,
pareço boba,
ou talvez,
ainda sua.

Mas se falam,
o que quer que seja,
eu respondo...
que não quero saber.

Hoje não

Hoje não quero ouvir,
canções de solidão,
quero ouvir outra coisa,
que não me lembre.. estar só.
Que me diga por onde ir,
onde me encontrar.
E de certo, estarei lá.

Tens

Tens as mãos
minhas mãos,
meus cuidados.

tens do laço
aos cabelos,
e um entardecer.

tens a boca,
o nariz,
e todo resto...

tens todo meu viver.

Passado... passado por tal coisa.

Sei julgar, facilmente.
como se não tivesse,
passado....
passado por tal coisa.

Mas eu juro,
prometo e confirmo,
não será assim para sempre.

Caminhando juntos

Se passas a frente, posso caminhar.
Pois não vivo, sem suas pegadas, não sei andar.
E assim sigo seu passo, temente como um cão,
sorrio a sua glória e temo seu entristecer,
estou a sua sombra, a deriva do teu sonhar,
e estou, estarei e ficarei... até quando não puder mais.
Até que um dia, deixes de andar.

segunda-feira, dezembro 8

Esfriando

Dois dias vivendo de chuva,
adoro a chuva ressalva,
a condição de molhar o mundo,
a esperança de esfriar.

E esfria...

sábado, dezembro 6

Ronda

Hoje a ronda
buscou um assaltante,
recorreu as relvas,
as selvas de ancas frias.

Foi as ruas similares,
de curvas sinuosas
e poços gradeados.

Rompeu os barracos,
aos pedaços as vidas
voaram pelas paredes.

E a madeira desfirme,
se estraçalhou pelo chão...
assim como a crença.

Pois não eram assaltantes,
e sim vidas disformes.

sexta-feira, dezembro 5

Realidades vazias.

Eu beijei sua boca e alimentei teu sexo. Talvez não pude ser amor, talvez não poderia mais ser você... E os nossos quadris não se lembrem mais de nós, eles se imacularam rentes, onde a curvatura de minha vida não insere o teu viver. Será que a tua mão não me entrelaça o cabelo de delicado púrpura ou de um intenso bordo de mil horas, os meus fios entardeceram em minha raiz, que cresceu tão grande e bela como nunca fora. A minha barriga não assobia um medo conjugal, ela não se esconde e estremece diante de teu suor, nem me cobres de saliva o epicentro de todo meu ser, onde sou equilíbrio e riqueza viva. Meus seios de maça são verdes, o doce amargar de uma semente que se divinificou no tempo, cresceu, cresceu e cansou de crescer, assim que a tua mão apodreceu enfim. Meu colo ficou num banco, perdido em algum lugar onde foi meu coração passear com a tua vida, e ele não conhece mais a tua pele, não quer o seu cabelo curto. E as tuas longas pernas são a cobiça de meus olhos, mas minhas pernas não desejam mais encurta-las. E o meu ventre só ama o espasmo que o corpo deleita, depois ele esquece da tua ida com seu amor de dores algozes. E nos amamos por pura luxúria, quando nada mais condiz, e tudo consola. Me machuca ao sorrir assim, como te machuco ao dizer que cheguei. Cada um com a sua dor consequente, cada um com seu estranhismo. E eu que rompi as fontes de olhos flamejantes, e corri para teu ímpeto, para tua cama vazia. Para seu coração vazio de mim, para meu vazio de você, e juntos vazios de quase dois mil anos atrás. O meu cheiro te agrada e te seduz, assim como a sua pele imutável me oscila, sou sua e sou minha em curto espaço de tempo. E me contorço na cama contra teu corpo, e te digo não como sempre pudera. E você dilacera seu querer como eu dilacero nosso amor, esquecido. E assim que começou e terminou, eu fui e você foi comigo, uma outra vez de tantas vezes, mas uma única vez em que não amei teu corpo, uma única vez que usei do meu, para ter a tua lembrança. Que seria até melhor mante-la em meu latente coração de saudades ocultas, do que de realidades vazias. E assim alimentei teu sexo, dei de comer a sua vontade, a nossa vontade vazia.

Perene Ilusão

Cria minha, ventre meu. Não és filha minha, mas engano meu.
Nem minha glória és, pois não sabes me dar a mão,
pois só sabes entrelaçar-me as pernas em juras mal feitas.
E a tropeçar eu me despeço do infortúnio do amor, e digo Olá
a um desterro eterno, onde reconheço o rosto da dor.

Quem dirá, grande companheira de tantos tempos que cruzamos,
de todos os ilícitos que prendera-me e fiz-me jaz em tuas palavras esguias.
E em meu peito cravei mil descasos, embalsamei meus amores feridos,
um a um, e se agrupou o remorso, e a crítica de sonhar demais.
De tudo, contida permissão, é a pior de todas as suas verdades,
a inverdade do meu súbito amor, a credibilidade de teus contos...
e a impureza de teus laços.

Perene ilusão.

A um dia, que te amei.

A um dia que te amei,
um dia que me recordo.
e em tuas mãos me fiz maior,
me despi de toda injúria do mundo.

sempre me debruço em tua lembrança,
toda vez é sublime o meu recordar,
apesar de sentir a roseira viva,
e o espinhar de sua beleza.

e eu sempre escolhi,
de todos os seus mundos,
que meus olhos perpétuos
fossem eternos em seu descanso.

e ali me fiz desmemoriada,
de todas as vezes que cortei-me,
na branda rosa de nossos dias..

e até que sua boca se abrisse,
eu pude redigir meu amor em teu nariz,
em tua barba dilacerada...

e quando abres os olhos,
eu finjo dormir, amor meu...
para que talvez possas amar-me tanto, tanto assim...

quinta-feira, dezembro 4

Tempo

Tempo falho, me dizes a hora incerta.
Aliás, nada me diz...tudo me escondes.
Será que no acaso poderei reger meus dias?
E nem terei sido eu mesma, se soubesse..
pois o meu eu de agora, é só o presente que passa..
pois amanhã sou outra, e em corpo sou mesma,
nem em corpo... poderei ser.
Amanhã gostarei de azul, ou falarei de música?
Não me tomes meus presentes... lhe peço,
lhe rogo que não me incinere os prazeres.
Os únicos que me sustentam.

É psicológico

Não é nada
que não,
tenha remédio.

um placebo,
de antemão,
um fugaz amigo...

Síndrome..

Tem dias que nada é seguro,
nem o mais ventre dos quartos.
a sala é vazia e terrena,
a escada é obstáculo,
os corredores são enormes.
A sacada é mirada,
lá mais, não adormeço.

Estou com medo.

Somos iguais

Os biscoitos,
crescem
cheirosos.

a forma
é pequena
e redonda.

minha boca,
pequena
e redonda.

e em meu olfato,
os biscoitos crescem..
cheirosos.

Nua

Todo dia, todo santo dia venho me despir de minhas saudades. Venho me cortar a lembrança, venho redigir ao meu crepúsculo um incitante adeus. Todo santo dia, acordo e vou logo me despir de todo meu adeus, açoitar a fidalga que retém os olhos, mandar o regente reger em outros reinos. Todo santo dia venho me despir de minhas lamurias, meus cortejos e minhas sensações esquisitas, tropeço no mundo e recolho o que posso, daí talvez venho me despir de toda e qualquer vista, toda vida. É sempre com os dedos ansiosos e a mente cheia de atrativos que recolho, letra por letra, suspiro por suspiro... cada pedaço de meu ventre, cada gota de minha alma, cada cantinho de meu sentir.
E todo santo dia, venho... venho me despir aqui.

Ida

Você estava ali, quando me despedi
e fui embora pr'outro lugar.
E quando eu volto, quando eu chego..
e o tempo passa, a vida vira,
e você vai embora.

E eu nem pude me despedir dessa vez.

Meu pai

Um dia eu deixei que meu pai fosse embora, e ele sem saber de si mesmo, foi-se. Daí ele começou a me mandar mensagens distantes, das mais estranhas possíveis, não dizia com qualquer que fossem as palavras, tropeçava em suas pernas toda vez que eu o dizia de sua presente distância.
Então eu me conformei com sua ida, e deixei de sentir falta do que meu pai representava. Não sabia, nem sentia. Meu pai foi embora e eu me deixei corromper pela raiva.
Até que um dia, mesmo errante compulsivo... meu pai começou a aparecer aos poucos, aos pouquinhos via seus cabelos brancos, seu cansaço e suas pernas bambas. Daí pude ver que meu pai estava voltando, voltando aos poucos a ser meu pai.

Era eu, sim.

Era eu, sim.
Do borrão ao pixel,
da revelação a nitidez.
Era eu de erre gê ou bê,
não por cê, ípslon, ême e cá.
Do púrpura ao ciano,
era eu em todas
as cores, texturas,
desventuras e acertos.
E continuará sendo.

Separação

A palidez certo dia me convidou
para ser sua esposa, aceitei.
Mas um certo dia, nos distanciamos..
a palidez não tinha mais voz eloquente,
e eu não mais a entendia.
Tanto assim que decidi me separar.
E daí sim, senti o colorir sob os dedos.

Tarde

É tarde,
e todo meu ser,
se desativa.

é tarde,
e o sono,
me convida.

é tarde,
mas não de
tempo, querida..

é tarde,
de tarde...
nada mais.

quarta-feira, dezembro 3

...

E era tudo mentira,
e a chuva caiu..
grossa e incessante,
como deveria de ser..

como tudo apontava que fosse.

..

Engraçado como se fez trovão,
e o sol apareceu no meio das nuvens,
engraçado como ele brilha e reluz,
e as nuvens ainda estão lá..
e o trovejar não passou.
Me pergunto, como pode?
ser tão engraçado, não por humor..
mas por pura brincadeira da natureza.

.

A pior coisa, é não dizer nada.
Por não conseguir, somente, atadas.
Minhas mãos e meu adeus..
como não pude? E nem pude...
você se foi, se foi...

Quando o adeus é reprimido.

As vezes a gente não sabe, da hora do outro. E da nossa própria hora a gente cuida, cuida até que os ponteiros se juntem, que seja meia noite... e que a carruagem vá embora.
Eu não sei como exatamente, como foi que me despedi de Camilla. Foi onde a conheci, onde pude um dia existir na vida dela e ela por sua vez, na minha. Talvez eu não tenha dito por não saber, talvez eu não tenha dito quase nada, ou disse sem saber. Estranho como alguém parte de uma hora para outra, e você, fica com um espaço vazio da vida que antigamente preenchia seus olhos. Quantas vezes a encontrava, conversava, e nem, não iria ser assim, não com ela. Alguém cheio de vida não pode sucumbir a tal coisa, não mesmo. Daí vem a vida e mostra quem manda, quem dita as regras. E eu, que pude fazer? Só ler as palavras do aviso, Camilla faleceu na manhã passada, estava com leucemia, ninguém sabia mas ela já fazia tratamento há quase um mês. Eu não quero saber porque não avisou, talvez por falta de forças ou uma vergonha vã. Isso não importa mais. Quem sabe o silêncio de agora resuma toda essa história, deprimente e cortante, quem sabe só o silêncio vai tampar os corações daquela família. E quem sabe, vai silenciar o de todos nós também....

Vai em paz, Camilla Rocha.



segunda-feira, dezembro 1

Meu irmão

Meu irmão
é meu irmão...
e eu amo,
esse bobão.

Pirâmide de Maslow em ação

De que me vale toda essa culpa,
se não vale a pena pensar em vão.
Não me interessa mais o que queres,
pois já tenho tudo que necessito em mãos..

primeiro a necessidade,
depois o querer.

Raríssimo

Homens são assim,
homens são assado..
mas ele não é um homem,
é simplesmente um achado.

Em seu espelho

Quem se importa,
com o coração alheio?
ninguém liga,
ninguém da trela..
todo mundo,
em seu próprio espelho.

Não chore, querida.

Não há tempo
pois dois dias..
não vão dizer.
Pra você um segundo,
é o tempo preciso..
pra se morrer...

Talvez de saudade,
talvez de vontade,
que se consome,
num pesar.

E que mais poderás fazer?
A distância é a pior,
quando se pode a quem ama ver.
Pois fere e cutuca a ferida...
mas você sabe que ninguém pode ver.

Um termino difícil, eu sei..
mas vai ser melhor pra você.

1º de Dezembro

primeiro de Dezembro,
e eu estou aqui,
pasma...
de como passou rápido.

Mundo novo

Onde vou ver,
o mundo se repartir,
num novo mundo..
quando o dia nascer?

Dezembro faz isso,
com o mundo todo..
esse tal desejo de renascer..
esse tal desejo...

Não gosto mas faço.

Eu odeio,
ser quem diz;
eu te disse..
e é um saco,
ou pura maldade,
ver que você previu..
mas realmente,
eu disse,
eu te disse...

Bobagem

..é bobagem,
vem aqui..
te dou um abraço,
e terminamos isso.

Mathprogressindierock!

Um Survive,
ou um Minus..
talvez um Manchester,
um The man!
E vem o Colour, Oceansize..
vem e Volta..
a me render,
e eu me rendo!
Com todo e total prazer...

Carteira

Será que é preciso?
toda essa baboseira..
toda essa burocracia,
mas que besteira.

É só "Confirmar"
e estou dentro?
Mas o maldito do site..
Só me diz que..
Há problemas no servidor..
tente novamente, em outro momento.

Novo som

Um novo som,
tocou meu ser.
Um novo som,
chegou a mim..

e em boa hora.

Namorados - III

Sinta o meu sorrir,
nas palavras..
é a tradução de meu coração
olhando pro teu, bobo.

Namorados - II

Você e seu coração,
não me diziam tudo.
E eu até respeito essa razão,
de não falar sobre o que sentes..

Mas eu já sabia, sabia...
eu rezava e orava,
pelo dia, em que me dissesses..

gosto dela, mesmo.

Namorados - I

Desde o dia,
em que a vi,
eu já sabia..
eu já sabia..

Desde o dia,
em que te vi,
eu já sabia..
eu já sabia..

Desde o dia,
em que percebi..
eu descobria..
eu descobria..


..que você e ela um dia,
seriam o que eu sempre soube.

Quarta parte - Casa

A varanda,
não precisa
de mim..
só precisa de si,
de suas flores e azulejos,
de seus pássaros e luares.
De sua vida imortal,
de seu espaço ilimitado..
em meu coração.

Terceira parte - Casa

Certamente,
a pior coisa,
de se ter..
um cão,
são os dejetos,
que merda...

que merda, mesmo.

Segunda parte - Casa

Meu pai pinta a escada,
de branco até ficou legal,
quando a madeira chegar..
ficará mais bonita ainda.

E quem sabe eu me lembre,
um pouco talvez..
da casa dos meus avós.

Que saudade.

Primeira parte - Casa

Como é bom,
sentir esse cheirinho,
saber que está tudo,
direitinho...

limpinho.

Lembrei

(Lembrei do que ele disse..)

"Sou como uma casa velha no inverno,
meu teto pode estar coberto de neve,
mas a lareira ainda está acesa..."