quinta-feira, março 26

Quem?!

Não sei mais cantar o verso
que lhe descrevia.
Esqueci da tua descrição,
arrematou a sua imagem..
quem o fez?

TemucoChico

Quem escreveu Matilde de mil noites,
e violas crioulas de roubos ao anoitecer,
quem escreveu a poesia de madeira...
de verde, e moluscos, e ventre amado..
e a pátria amada, e o mundo e o vento..
e a Isla Negra a esperar-te para o descanso.

Doendo

Ando tão dolorida,
doída a mágoa viva.

Ando tão dispersa,
descontinua e infeliz.

Ando tão ausente,
tão indiferente, até condiz.

Ando devagar..
pois a pressa me esqueceu.

Ando sozinha,
onde me alcanço rápido...
e me pego guardando o mundo.

Malditas horas

Malditas horas regentes do lacre de minha memória,
onde fui e tu fostes, fomos quem poderíamos ser.
Os minutos dos teus beijos nas manhãs, e o silêncio.

Maldito tempo que toma de mim qualquer gosto,
mas disposto é meu sentir, mas não sinto.
Ainda que a pele exale a saudade em contragosto.

Malditas vias temporais que sussurram meu nome,
a um tempo perdido onde a vida se mostrou,
se despiu de minha tristeza, e viveu em si, orgulhosa.

Malditas horas que me confinam ao temor de ser só.

O delicado desaviso

Ainda que, pele minha..
distribua ao dorso dele
toda essa inquietude...
acalma-te, volta ao chão.

E se torço, clemência...
ao ve-lo tranquilo, sereno
onde busco minha lembrança,
dos teus olhos de aviso.

Pois já me conhecia, em claridade...
e sabia que era teu meu pensamento.
E sabia que era meu teu clarear.

E então voltei a mim,
de longe, de certo...
desavisada da regra do mundo.

quarta-feira, março 25

Relações exteriores

Você entra tão rápido
sai quando nem vejo.
Mas me olha, de certo..
como o vejo, devaneio.

Me distraio e esqueço,
por onde comecei
por onde terminar...
quando encontro em meu olhar,
o que vejo do teu mundo,
dos teus olhos tão lindos..
da tua boca, ahhh a tua boca...

domingo, março 22

Os amo

Os amo quando a distância permeia,
e o lapso de memória me sorri.
Assim que a voz seja quase esquecida,
de forma que as mãos sejam a última lembrança.


Mas o dia é longo, e o ócio tão próximo.. tão rente...
a vida cerca tanta banalidade, tanto desapego.
Ninguém é um alguém esquecido, morto por si mesmo.
Morto quando fala, insípida e corrosiva.


Os amo quando o calar é mais bonito,
falar não comporta tanta vida assim.


Mas permito quando sou eu e meu amor,
pois da rotina levou meu amor palpável,
pois a neblina me cegou no dia de ontem.

Visão

Enquanto me reafirmava
nas telas onde nunca fui,
ele descia as escadas
ofegante e barulhento.
...só retirei o copo do degrau,

para que não o partisse
em mil pedaços...

quinta-feira, março 19

escrito

Há muito escrito,


há mais algum?
sobrou um tanto,
sobrou o talvez,
mas onde está o motivo?
perdido na poeira de minha vivacidade,
aos dias em que me perco..
nessa normalidade.
nessa inquieta calmaria.

terça-feira, março 17

Estudo do verbete

Quando caem
as tuas palavras,
todas elas tão dispersas,
e não sei como conjuga-las.

O único motivo,
do qual insiste o tear,
é o grande espaço
que a minha vida está deixando.

Cada vez mais,
um substantivo próprio,
de férias a minha atenção,
talvez aos montes,
um amontoado deles.

E fugível motivo,
irrita a vontade,
e incita a ausência,
a descrente amiga
dos dias mais brilhantes.

domingo, março 15

Fechada

Até que do centro
expulse o acender
até suas pontas,
as tulipas não
discorrem seu mistério,
nem sua glória,a ninguém.

são bulbos discretos,
dançando em suas hastes,
sinceras e bonitas,
vermelhas, amarelas e negras..
da cor que sua vida lhe presentear.

até que floresça,
regente de algo maior,
as tulipas não são amigas,
elas não conversam,
elas não lhe dizem o que quer que seja.

são bulbos astutos,
veementes de si mesmas,
até que entregue a luz,
só a luz desprenderá sua beleza,
só ela cobrirá seu mundo.

até que todo o tempo,
tempo que é somente em si,
continua, persiste..
imaculada em pétalas,
fechada em uma redoma flamejante,
aberta, somente quando pronta.
aberta, somente para si.

sábado, março 14

Trecho do coleráceo


"...
Cada vez que sale el sol
Busco en algo el valor
Para continuar así .. "

sexta-feira, março 13

Distante

Peguei tua mão como nunca fizera,
tua mão chora a minha por consolo..
e a minha tenta não desaguar.

olhei em teus olhos, tão lindos..
castanhos de cílios enormes,
de brilho esquecido, que tento recuperar.

Mas não sei o que fazer,
se toda vez que te vejo distante,
tão distante de si mesmo,
tão distante de mim...

meus olhos quase não te alcançam mais.

Renovação

Mas que besteira,
bobagem pura,
por uma distração,
um mero esquecimento..

paguei o pato.

Trocando

Troquei aquele velho olhar,
por um novo mirar, tão bonito.
Deixei o tear da velha preguiça,
larguei a falta de atenção...

mas nada disso seria possível,
nada disso faria realidade..
sem essa vontade, de agora.

Quinze dias

Outro dia,
e mais um..
se aproxima.


Ainda bem..
ainda bem, eu diria.

segunda-feira, março 9

INTERMITENTE


Pense num dia, brilho constante.
Mas constante não existe,
emerge, sublima e desaparece.
Não desaparece, transmuta sua vida.
De vida se torna outra coisa, coisa alguma a sua.

Pense num estado de espírito,
estado algum pode de permanência,
imprudência da palavra aguda, incitante.
Estado algum de ofício a seus cidadãos.

Pense numa instituição,
coordena e acelera, desprende, colore..
indica tudo a qualquer situação.
Intuição alguma permanece, declina.
O rejunte não acrescenta a palavra vã.

Pense num mundo,
Cresce, desenvolve, transforma.
Mundo ambíguo, decadente.
Uno algum de pensamento,
uno algum de decisão.

Pense em mim,
Esse mim é você que lê,
ou esse mim,
ao mim que escreve?

Mim algum poderá permanecer,
Mim algum poderá sobreviver...
sem o Mim que do outro procede.

Luiza, novamente.

Antes que sequer fosse Luiza,
antes, um ofegar de vontade pulsante,
mãos de um piano sincero,
de lábios sedentos desse debruçar das palavras..


Um respirar azul de inebriar,
um ruído de timbre macio...
Quem dirá do único sentido,
sentido esse, Luiza apenas!


Luiza, até que fostes.
Que as mãos pudessem tocar,
Luiza, fostes o único motivo,
Luiza, fostes a única razão.
E de qual motivo maior haveria de ser Luiza...


A não ser a sua espera sonora,
o crescer de condução única,
de uma única via chamada Luiza,
que conduzem a todas as outras avenidas,
e ruas, e sentidos que se pode conduzir.

Há de ser.

Há de um dia,
em que sejas autocrata.
Corrigindo o insulto,
emergindo da saudade,
contrariando o submundo,
reorganizando sua vontade.

Um dia serás,
regente de suas vias,
dono de seu feudo em bordo,
consciente de mãos e pés,
junto ao logos da vida,
serás vencedor.


Há de um dia,
de peito aberto,
de olhos vidrados,
e respiração tardia,
chamastes de amor.

sábado, março 7

Provável

Muito provável,
que se disponha menos..
até que a indisposição se vá,
vá tão longe que se perca,
e o vislumbre do desgosto
deixe de acarinhar sua pele.

Pois bem.

sexta-feira, março 6

Passagem - Parte I


Ao passo que o mundo transcende ao meu olhar, a cada pedaço resguardo um esboço de minha lembrança. Talvez possa não desfrutar de uma nítida construção de sua imagem, mas reside em exílio um acenar. Me esqueço a cada segundo,dos rostos que a vida me tomou, dos traços estreitos e narizes únicos. Seus cabelos e mãos congelados pelo tempo. E de forma quase imaginária,pois o pensamento compõe a lembrança,cada rosto se apresenta como um espelho embaçado.
Ao olhar não me vejo, mas está tudo bem ali.. de alguma maneira.

segunda-feira, março 2

Tormento visual

(Baseado num tormento visual)

Hoje pela manhã,
me ocorreu tal sintoma,
quanta memória viva,
há na tênue visão?

Passei num arco vermelho,
num ar de poucos amigos,
dobrei a esquina e sentei-me,
de onde lembrei de você?

Pisei num plástico azul,
com tudo chutei-o pra longe,
respiro tão mal e incomum..
porque lembrei do recital?

Um vulto sincero de desapego,
cores em tons em um milhão,
toda curiosidade é excitante,
mas as vezes é só uma visão.

Uma visão não tão seleta,
inconclusiva em si mesma,
resgata do despretensioso mundo,
mundo de tanto, inconsciente.

O palpável á memória é a visão,
de sons e ruídos sobrevive a dúvida,
mas que mais e além do visual
contempla a comoção?

Nada tão ajustado como a visão,
nada tão dissidente como a visão..
nada tão perene como a visão.

domingo, março 1

Cânticos da janela

Já não me basto dos blocos de anotações,
nem das janelas em que me sento.
Se escrevo num mar de poesia moderna,
se esqueço tudo por um simples mirar.
Nada é tão colorido quanto o mundo
que se pode dar tantos tons.
Mas sempre se faz do modo mais difícil,
em que em segundos,
o descolorir se apresenta,
num assobiar... tão triste.

Cocá

Galinha dangola,
e seus filhotinhos.


Cabaça pintada,
de dorso negro,
pintinhas brancas,
pintinhos negros.


Bico amarelado,
papo e crista vermelhos,
olhar desconfiado,
a prole de três pequenos...

Rápido

Março se apresenta,
sem licença..
e eu nem sei o que dizer.

Público

Há quem diga,
que é de coração..
fala bem, torce..
vibra até não poder mais.

Mas na primeira decaída,
no primeiro vacilo,
logo saberás dos medíocres,
e após, reconhecerás os fiéis.