terça-feira, dezembro 8

Metalinguística minha

Passam-se dias, tristezas e origames. Já não posso mais dizer-me as mesmas palavras, elas caíram como frutas maduras e se incorporaram ao chão de meu passado. Tudo que tenho está onde nasci, e nasci de minhas palavras. Para ser mais compreensível, o sopro que sussurra meu nome descreve a minha pessoa, mas o nome que contempla a minha alma se descreve a cada minuto. Renasci em meus escritos, como se pudesse ser o que quer que fosse, para ser-me novamente. E através de tempestades pude abrandar o pobre coração que me acompanha. Gosto dos terríveis mistérios do mundo, da podridão e ressurgimento da alma, caridade e doação, adoção a vida. Não me perturbo diante de obstruções de sentimentos, os exalo como se fosse minha própria essência viva.
Caída sim está, a minha memória . Aos vinte e um anos esqueço de muito, por muito que pudesse querer. Lembrar-me as vezes é tão difícil quanto amar, estou submersa e ao mesmo tempo sou parte insuficiente da trama. Meus cavalos todos perdidos, cada um em uma rota esperançosa. Perdi parte de minha vida por esse descuido, trato de pensar se esqueço por falha aguda ou se esqueço por não querer lembrar-me de fato. Judiando da minha eterna capacidade de desvendar meus mundos.
Já disse que rasguei meus hábitos? As vezes de nocivos eles me invadem, não sou do tipo calculista e progressiva, por muitas desabo em meus ócios. Verdadeiramente os rasgo, num grito não tão esquecido que emerge, ou numa dancinha inesperada no meio da sala vazia. Não há qualquer sombra de desrespeito com essas atitudes, só são cabiveis a quem cabe nesse mundo. E transito pelos dois, sem a menor dúvida. O palpável e seguro também me agrada, não posso ser sem minhas preces, não posso ser sem minhas posses.

sábado, dezembro 5

Alberto Rosas III

Desde que suas mãos ao meu rosto áspero,
do que não se fala nem entretêm,
sou dureza em desalento.
Uma espécie de velho mendigo,
apego aos velhos trapos dissolvidos.
Grudando os dentes em podres escolhas,
olhando pro mundo como um qualquer.
Sou da voz que assobia meus sonhos,
não do tempo em que escutar era miséria.
E em meus laços de infortúnios prazeres,
és a maciez de um olhar esquecido.
No que tange minhas expectativas,
és a verdade de meu submundo.
E largado em ti como a mim jamais pudera,
vivo das cordas que tuas mãos dedilhavam,
esperando que toques para mim novamente,
e que nada reduzisse sua alegria a uma projeção.
Se conto o tempo em dedos minúsculos,
é porque fostes das horas a minha precisão.
Onde assertivo escolhia os pequenos,
em minutos dos quais procediam seus sonhos.
Travo meus pesadelos em contos finais,
e morro de pena da minha calmaria.
Por mais absurdo e desconexo sentir,
não me obstino de nada que não te proponhas.
E durmo o sonho dos rejeitados.
Presumo jamais cobiçar-te novamente,
até que esqueça o que presumi.
E lembre da força da tua lembrança, dormindo.
Caindo no mais tardar de suas lágrimas,
onde sozinha recobres a vida.

A Pedra e a Rima.

que tanto fica,
morta em desalento
reside
no chão duradouro.
e exibe, estática
sua lonjura,
opaco sentimento
de insolução.
travando, perplexa
uma luta diária
contra a conclusão.
Ser conexa ou distante,
do viver primores alheios,
cheios de condução.

Reserva

Semeio meus dias,
em um despejar de sonhos.
Coberto e cintilante,
do púrpura que é o amor.

onde conto meus sorrisos,
preservo minhas cores.
a vivência de meus pensamentos,
nos vales de tuas palavras.

e emudeço minhas mãos
a sombra de tua possibilidade..
enfraqueço minhas reservas,
e permito a condução...

do talvez.

Desidério.

assim que puderes,
de-me notícias..
de longe não posso,
nem persisto,
nessa indulgência de meu coração.
a aspereza de lembrar,
é quando a prece abandona.
dela me envaideço,
e me perco.
Desidério...

O criador de criação alguma.

Saiu as pressas num cavalgar, supriu as dores e travou o peito. Desceu a escadaria, abriu a porta e logo sentou-se. Bebeu um trago e olhou em volta, mas nenhum de todos cobriu seus olhos. Homens, mulheres e bichos dos quais a mistura era produto da falta de embriaguez - ou de sorte. Mordido dos quatro cantos, para ver melhor que o mundo inteiro tomou-se do outro a um outro embebecido, embebedado. Cantarolou o nome da meretriz, sucumbiu aos sortilégios de ser humano. Caiu em si como que no outro jamais houvera, entristeceu-se. Chorou cravos e pregos, viu o faro alheio lhe interrogar, estremeceu a cadeira. Aquilo lá de quase sacrifício, um repugno da vida prescrita, ceia de condes ricos e esquizofrenicos. A copula dos transviados, dos inaceitos, dos recolhidos de seus sois. A maestral condução do minguar do mundo, no nascer do crime havia alma. E essa esfarelava ao chão carcumido.
Presente de corpo, esdrúxulo. Sentiu medo de quando se hoje era agora, e o depois tão longe de existir. Ao pacto de suas esperanças não restava nem prece, perdeu-se no embebecer de uma droga maior, o vício. Tomado pelas pernas, pelas esquecidas tramas de sua juventude e pela emergente palidez de suas frestas onde jamais esperava residir. Pediu clemência a um estranho que lhe questionara de seus bolsos, levando-os. Estava perdoado.
Sorridente de sua conquista, andou pelo salão com um sapato e pouca visão. Mulheres desnudas de roupas e manchadas de pecado. O batom que exprimia o sexo deixara lugar para a mancha dos preservativos, não usados. O gozo de suas vistas embaçadas jamais soletraram um contentamento externo. Era melhor permanecer turvo e misterioso.
Caiu no chão de plumas vermelhas, de drogas e bebidas estranhas. Caiu no chão dos justos, o sono dos esperados. Lá permanecia como chegara, ninguém. E até que seu corpo velho incomodasse a passagem das meretrizes, nenhum o indagaria. No rodar das mesas as tropas de ricos inflamados, o jogo e a esperteza do sexo. Dinheiro e sexo erguiam as vestes daquele mundo, e por mais que de minúcias simples vivessem, do infortúnio e pesado trocavam rumores de inferno. Bebiam os desejos escondidos de suas noites, na maldade de seus olhos e no escárnio de suas mãos fétidas.
Largado e perdido de sua imagem, até que acordara com frestas do caminho da manhã. Levantou devagar segurando a cabeça, caso a houvesse perdido, talvez. Saiu como quem nem vivera nada, e de fato viver e contribuir não fosse sua melhor dose. Mas olhou para os pés com ar de enaltecido,
alguma coisa ocorrera.

sexta-feira, dezembro 4

transpor bartira

Ali parado,
descrito.
Em sinonimo,
mesmo distante.

Me abster,
de saber,
é resistir.

Mas no resistir,
persisto no sentir.
E reconheço,
despenteio..

e repito comigo;

estava lá,
e agora, aqui.