segunda-feira, setembro 26

Era irmã

... e então sou tia.

Hábito

Lá vamos nós,
eu e meu mau costume,
como de costume fomos.

entramos nas casas e
roubamos atenções,
como se o alimento
da alma fosse participar.

então enrugamos o rosto,
quando sóbrios demais,
de tudo aquilo que inebria.

e ficamos aguardando,
no próximo passo, na próxima esquina
a mesmice do novo hábito.

quarta-feira, setembro 21

Sentindo

Nunca duvidei do meu sentimento,
quando alto, e quando baixo.
O mais duro de sentir, é respeitar o sentir.
Ser digno de cada sentimento,
ser sentimento quando se é digno.

segunda-feira, setembro 19

O candelabro

Você estava lá e acendeu uma luz. Andou um pouco e iluminou alguns pedaços, mas só aqueles em que próximos estavam. Sentiu a chama arder próximo ao rosto, tão alta e ambiciosa quanto o próprio pensamento. Consumiu alguns pedidos que por ali voavam, que caíam chamuscados. As pedrinhas de carvão incineravam também o chão. Então sentiu-se como a própria chama, ao retaliar as asas dos pequenos pedidos.

Capitulo II

Acordou desajeitada, parecia irreal a falta de entendimento. O mundo lhe enxergava como seus olhos lhe mereciam; distorcidos. Levantou cortando mais um espaço de tempo, que com sua alma erguia um pilar inquieto. No chão os pés prendiam seu corpo, seu agora corpo de meio metro. Não sabe ao certo a que veio despertar, e de longe batia na porta do entendimento, sem resposta. Sentia na claridade a força do inesperado, e na escura noite, um apelo. Algo pulsava em seu existir.
Como se jamais soubesse que existira, vivia cercando sua alma de inverdades. Como cheiros e gostos, prazeres e sentimentos. Sentia-se vazia. Como se enchesse suas mãos de água, e visse dentre os dedos derramar o que era verdade. Ou parecia.
Olhava para a imagem viva, como se olhasse um espelho dagua, sua superfície liquida transpaçara linhas imaginarias, e em seu mais profundo, somente águas desconhecidas. Um tanto quanto para si mesma, mergulhou a sua procura e no longe que é o conhecer-se, perdeu o rumo em um de seus mundos. Agora começaria a história.

Capitulo I

Levantou-se, em medo cruzou a sala e andou aos onze meses. Dos dois anos cantou liras de sua terra antiga, aos cinco nadou num mar de cloro azul. Dos dez embalsamou o braço, pulou de uma ponte aguda e travou sua batalha contra a sujeira do mundo. A cada passo conquistou a história de sua vida, onde sequer sabia da súplica maior de seu mundo. Agora tem de reconquistar na sua memória, a paisagem do que um dia aos seus olhos erguiam. E descobrir do descontentamento a única maneira de força-se excelente. Palavra distinta a si.

segunda-feira, setembro 12

Em tempos de ser forte

Em tempos de ser forte, amedrontamos.
De cara que angustiamos, rijos, presos na falta de força.
Mas que muro é esse que destrincha nossos corações?

Em tempos de ser forte, tentamos.
Subimos a frente de nossas dores,
e nos olhos olhamos suas firmes tragédias.

Em tempos de ser forte, seguimos.
Onde travamos a batalha de sempre,
rompendo a miudeza do corpo. Em alma branda.

Em tempos de ser forte, enfrentamos.
E num passar de anos na dureza da vida,
prendemos o ar e torcemos a madeira.

Em tempos de ser forte, somos.
Além de tudo aquilo que se desespera,
o fio brando da força persiste.



domingo, setembro 11

Por quase trinta anos.

Entrou e sentou em seu lugar. Um banco enorme de madeira rubra, em cruz passou-lhe as mãos e aos céus rendeu seus olhos. Fechou os olhos e uma prece baixinha pediu-lhe; guarda a vida daqueles que amo. Ao voltar das vistas, a frente um homem estranho. Sua estranha maneira de existir se juntou ao momento de prece, num ato incomum, mágico. De levantar-se, o vestido arrumou e olhou-se como um todo, estava incomodada. Ao mesmo que o outro levantara, um sinal ao rosto cobriu-lhe de confusão e então, até a porta daria seu adeus silencioso. Andando ao mesmo que pensando, alguém lhe espera do outro lado. Como pudera? Mais uma vez, confusa rendeu-se a uma conversa estranha, em que em um café conhecera o tal outro. Que jamais existira, de café a conhecimento.
Apesar de um tímido sorriso e um sorrateiro modo de conhecer-te, o fim ao longo iria lhe manter longe de tuas expectativas. Uma aliança, a bendita que lhe acompanhara. E se pensar que o outro a guardara em seu dedo, que não, era tua a aliança. Que num arrasar dos gestos despediu-se do outro, tão frustrado quanto nossa heroína, que separada a dois anos e ainda usara a aliança que já do seu dedo fazia parte.

Um pouco

Já foi-se o tempo em que me via desta maneira, deste jeito ao qual me encontro. Não entendo como, por tantos passos.. esqueci. Ter todo esse medo, toda essa angústia, e talvez padecer o mais rápido do que imaginaria.

Como se fosse eu.

Como se fosse eu,
e que pudera, ser.
Ouvi aquilo tudo
e fui sem ser.
Parecia-me tudo, próximo..
e da proximidade me manti.

Como se fosse eu,
e de fato, já era.
Me rendi.

sexta-feira, setembro 9

Contentamento

Entrei e vi aquela mesa com uma pessoa, que de prontidão já exalava a saída. Não que eu a pusesse para fora com meus desejos, nem com meus olhos castanho-pedintes. Ela se foi e vagou um lugar ao lado de uma janela, poderia ver o dia enquanto me recostava por ali. O banco era de um estofado vermelho que me lembrava as frutas de minha cidade, tinham botões em seu centro que tornavam o acolchoado parecido com um botão de flor. Fui me aproximando para que não houvesse ninguém entre meu delírio diurno e esses menos de dois metros da rua. Andei e senti o mundo parando ao meu redor, pois não havia percebido que podia ser-me com tão pouco. E agora ponho minhas mãos nessa mesa e sento-me devagar. Sinto a madeira reclamar minha pele, e meus olhos descerem as vistas. Estou sentada, é tão aconchegante quanto imaginei. Mas de inesperado tenho receio de ver lá fora e o brilho do dia ofuscar meus olhos.

sexta-feira, setembro 2

O que há?

o que há de errado com o que poderia dar certo não ser um fato?

É tanta dificuldade quanto entender a primeira frase. Ela vaia seus sentimentos como se fossem uma apresentação barata no meio da praça. Ao mesmo tempo dignifica-se com um pensamento ironico sobre a vida, talvez tão plástico quanto seus cabelos. Já pensou em manter-se puramente burra, talvez não precisasse pensar e enrolar novamente. Todos e tudo aquilo que se mexe cobra uma verdade sua, caso não lhe seja inteiramente certo, pulsa então sua mentira. Quando a rua cobra a verdade de seus pés, corra até a calçada no débito que lhe deves, perguntar-lhe. Quando o céu pede-lhe a verdade, olhe com carinho ao azul do claro ao escuro, não tenha medo de que as nuvens lhe impressionem a verdade delas está acima de qualquer tamanho que sua existência possa ter. Quando as estrelas lhe permitirem dizer, diga-lhes sua verdade. Assim como contas a lua a sua apatia, o seu veraneio na dúvida. Conta o que lhe corta as tripas de tanta dor, o que lhe fere os olhos, o que lhe interrompe o ar.