domingo, agosto 31

Quando reluz demais

é problema.

Tão feliz

Fiquei feliz em te ver, feliz demais até..
Você conversava com ela numa alegria,
gesticulava adoravelmente, tinha uma leveza no andar..
Interrompi quase que sem querer, um esvair
das mãos ao vento para dar-lhe um adeus de olá,
e fui-me sorridente por te ver reluzir a beira mar.
E assim meu coração se encheu de esperança..
de ver você tão feliz, assim.

Ao fim de Agosto

Esqueci,
do morno
que é Agosto.

Mas já passou,
já passou.

Pesadelo

Sonhastes dois sonhos,
os dois não tão bons.
lembrastes de outros sonhos..
vividos com os olhos abertos,
com os olhos bem abertos..

A salvo

Saiu do murmúrio e cortou a cidade
tarde, tão tarde.
mochila nas costas, casaco as mãos, um
pouco de sono, desconversa no vagão.
demora a chegada, mas chega, uma hora.
desce, olha... já estão a sua espera, conte
nos dedos o tempo até chegar aos portões,
e isso, terá para chegar. Então corra,
depressa.. e chegue a salvo, pois de longe
os espectros vagam a sua procura.

sexta-feira, agosto 29

O Sabor de Eros

Tanto estorno de corpos vis, até as bacias de lemes apertados e encontras seu ímpeto na nudez, descobres o fruto do ventre escondido.. a sua demência e satisfação.
Contorce os ventos por reclamar, não encontras nas cores, aromas e corpos... o sabor do seu bem maior. Não há fruta tão deliciosa e bem feita.. que reconstrua o amargar do fim da fruta proibida, recolhida em seu coração. E tomas a boca o sabor que não reconheces e a língua formiga de saudade.
Os cantos de seu corpo estremecem, pedindo, balindo de um gosto austero. Mas traz ao paladar o gosto sacro, do certo e divino gosto, correto. E devoras em outros pomares, tudo que engordar o seu prazer. E a boca mastiga o intempestivo, saliva de imediato a boca traidora. Mas a garganta se contorce para engolir, o fel, o mel... do gosto falível da satisfação.

O Reclame

Não queres toda essa vivacidade,
nem toda essa inverdade.
Prefere ser sorridente por dentro,
e precisas sorrir menos por fora.

Pois o riso desmedido cala o coração,
cala os olhos que temem a solidão,
cala o abraço enfeitado de não,
reconstroi a velha muralha.

E a lágrima que desce na imagem,
é a mesma que brota no peito.
E aquele que dorme no chão,
tem a paz que o seu coração não conhece.

Loucos, queriam ser loucos..
e preferem a loucura do que a certeza,
que priva, remete e incendeia as vontades..
vontades incertas, cobertas de esperança vã,
de quem nem te conhece... não te vê.

Sublime

Os lábios
que beijam
a testa,
os mesmos
que tocam
os olhos..

...permaneço em mim,
e esqueço lá fora.

Errante

Maldita errante,
consumista do acaso.
confraria do impensado,
costumeira indecisão.

Pobre diabo dos ventos,
sopram as velas da
nostalgia, cobrem a popa
de incertezas..

Volta ao mares revoltos,
segue em meio as ondas..
maldita fala de seu reino,
de um coração frustrado.

Corre até a imensidão,
só se descobre em tudo,
nada lhe cabe as mãos.

Espelho da vida errante,
em visões de outro rosto,
e Ícaros morreram ao sol,
como morrerás, errante.

Tão cansada

Estou tão cansada,
que as vezes desisto
de abrir os olhos.
Esqueço de beber água,
prefiro o sofá..
só para não ter de andar
até a cama..

quinta-feira, agosto 28

Partir

Você me diz,
que vai ficar bem..
Mas o teu olhar
ao léu, diz que não.

Você me diz,
que não quer ir.
Mas sei que há de voltar,
em breve.

Você me diz,
que lá não é feliz..
Mas felicidade se constroi
e a caminhada é árdua.

Você me diz.. me diz.
E eu nada posso... fazer.
Além de me despedir,
Adeus... boa viagem..
fique com Deus.

Teu Samba Rock

Teu Samba..
teu Rock,
teu Samba Rock me encanta.

Essa vibração,
esse meu coração,
acelerado.. disposto..
dança conforme a batida.

Esse teu Samba Rock,
inebriado, apaixonado..
feito no miudinho,
no sapatinho
na mais pura satisfação.

No teu Samba Rock
me perdi por querer.
Agito meu peito em compasso,
com toda essa música..
com toda essa tua vibração.

Teu Samba Rock
me pegou de jeito,
teu Samba Rock deixou
no peito.. a saudade daquele som.

Do teu peito, Samba Rock.

quarta-feira, agosto 27

Ao meu querido,ido,ido.. idolatrado.

O que forçosamente
cumpre o destino
de um coração amargurado?

Talvez a dor,
talvez o sofrer,
de uma tola vigência.

De mundos separados,
de destinos esquecidos,
de amores impossíveis
e passados resgatados a mente.

Tudo isso, de imediato.
Trocar um coração por
uma lembrança,
trocar o peito por um filtro.
Quem precisa de um coração?
Quem precisa de solidão?

E de mãos se façam vento,
e de abraços se façam amigos.
Talvez, nem tanto quanto digo.
Ou quem sabe, de uma forma amena..

Qual o destino de
um coração amargurado?
A contente vitória de seguir
os caminhos mais espinhosos,
pisar nas flores venenosas..
e ver o grande inebriar das cores,
até que o veneno lhe tome a vida.

terça-feira, agosto 26

Fuhrhh..

E respiro fundo,
paciência.
E suspiro alto,
condescendência.
E reclamo baixo..
maldita hora.

Reclamo?
Não reclamo,
aclamo..
ó paz, vem até mim.

Amado

Não aguento mais,
te ouvir, amado.
Não aguento teu tom..
Não aguento tua
espera, dilúvio..
não consigo suportar.
Não venha mais, amado..
não venha mais me atormentar.

E quase sem perceber,
já estou a cantarolar..

Lá, laiá.. laiá.

Silêncio

..e de nada mais preciso..
nesse exato momento.

Meus olhos

Como amo meus olhos,
janela da minha vida.
dicionário do meu pensar,
caleidoscópio do meu mundo,
lente da minha alma,
corpo de meu cérebro,
câmera do meu lembrar,
esbanjador de minha tristeza,
calcificador de meu pesar,
intensificador de meu sorriso,
amigo, amante... de meus sonhos.
Como amo meus olhos...

O porto, eu e você.

O porto, eu e você,
éramos apenas um.
Ele a nos observar,
nós a contemplarmos..
eis o dia que é nosso,
Eis a minha gratidão.

Dia bonito de sol,
e a tarde crepusculária..
as cores do mundo,
o mar que nos banhamos,
o vermelho das bochechas,
e nosso riso, imediato.

Eis que sois você,
de três marias em falsete,
de braços avermelhados.
Eis que sou eu, cabelo desgrenhado
e juras do passado, de triângulo
de um amor eterno.

E o sol que se vai,
depressa como nossos pés,
seguindo até o mais alto,
o semear da vigilância,
o altar da mais bela imagem..

Depois do chão verde,
depois de tanta andança,
fiz do teu o meu olhar,
e olhamos como um só,
enquadrando o altar.

E adeus ao dia ensolarado,
bem vinda estrelas, luar..
Mas onde está a lua querida?
Para despedir-me talvez,
eis que fora porto,
eis que fora você,
e eis que sou eu, novamente..
eu de tantos eus a escrever.

Escolhendo, flores.

Rosas e Jasmins
Eis a Rosa viva,
robusta e vermelha
cálida e sensual.
Ou Jasmim delicada,
sensível em seu ímpeto,
pálida em suas vias..
A Rosa que todos conhecem,
de cores inimaginávies..
e atenção de amores.
Jasmim de nome na memória,
e uma vaga lembrança no peito.
Poucos conhecem, poucos reconhecem...
Há quem goste de Rosas,
há quem prefira Jasmins..
E há quem, apenas... ame
as Tulipas.

A ela e seu batom bordô

Há quem não quisesse acreditar, na força daquela mulher. Que acorda cedo sem reclamar e da sua vida até mesmo a quem não quer. Se eu pudesse captar sua força, ah se eu soubesse residir no seu pensar.. travaria minha busca pela felicidade e tentaria ver o mundo em seu girar.
As manhãs em que os dias foram calmos, as vezes pude em suas palavras me inspirar. De todo brilho oculto e espasmos, as vezes do velho e intenso conversar.. Se pudesse atravessar seus olhos, veria suas tristezas, mazelas e dores, talvez não quisesse olhar tão fundo e continuasse, a ver-te como posso. Só enfim poderia descansar..
Temo que o mundo gire em seu estado e que os olhos insistam em se fechar, temo que a vida passe num segundo.. e que o mundo esqueça do meu caminhar. Mas onde estão meus passos na estrada? Se não pude aos poucos cantar... Talvez toda glória do mundo, reside em algo que não posso conseguir, mas posso, devo, e quero tentar. E que o mundo deixe de girar.. e que a vida me diga que não. E então voltarei as suas palavras novamente e retornarei.. ao ciclo, ao mesmo mundo com os olhos de criança, sem filtros, sem falhas... sem cegueira.

Amigas

Quase tudo,
que eu pude..
que eu pude dizer,
ou que eu posso.

Quase sempre,
que eu o faço,
não me há resposta,
não me há afago.

Quase nada,
é o meu retorno,
falho.

No quase sempre fico,
do quase sobrevivo.

Nas águas

As vistas próximas,
nadei até o barco,
num ritmo bom.
E de uma forma repentina
tudo ficou tão longe,
o cansaço me esvaiu,
minhas pernas cansaram,
meu gás, sumiu.

E vi na metade do caminho,
o medo de não conseguir.
Então parei por alguns segundos,
tentei perceber como chegar.
Assim diminui o ritmo.. e pus-me
a nadar.. novamente.

segunda-feira, agosto 25

Deleite

Hoje sorri um sorriso estranho.
Faz tempo que o tempo
não me dá essa certeza.
De sorrir um sorriso.. de pura certeza,
sem saber se o tempo, incerto...
me contemplaria.

Só mais um..

só mais um blá blá blá,
que insisto em dizer..
que insisto sustentar.
Suspenso na ordem das
palavras, recluso no certo
aguçado no estranho.
E avulso a todo resto...

Blá, blá e blá.

Costa

Quero me prender,
gosto de estar preso.
Quero me findar..
solto não me satisfaz.
Quero ser, ter, saber
e estar..
quero tudo que quiser,
tudo que quiser me dar.

Mas estar preso,
é apenas um passo...
que não precisa do título..
para estar preso, é só..
e somente só, se apaixonar.

Doce prisão

Preciso dormir,
mas estou aqui,
mas estou aqui..

Novamente presa,
reclusa em meus dedos,
amordaçada por
meus pensamentos,
encurralada por
meus sentimentos..

Mais uma vez,
preciso dormir..
e estou aqui,
e estou aqui... escrevendo.

Segunda feira

Mais uma feira,
para minha semana...
de tantas mais,
de tantas quantas,
irei precisar?

Já tenho uma,
que chegou..
e o resto,
está por vir.

Seja bem vinda,
minha querida,
tome minha vida,
que é sua.. só sua,
por hoje..
..só por hoje enfim.

domingo, agosto 24

Vira!

Vira noite! em mais um dia...
Vira logo.. bem depressa..
que já não me aguento
de esperar.
Vira noite! vira dia..
pro meu consolar.

Degelo

No dia em que minha corrente se partiu,
meu coração caiu no chão.. perdeu um pedaço.
Você ficou preocupado, talvez ficasse. Já eu
fiquei arrasada, não disse, claro que não.
Uma parte do meu coração se foi, ficou no chão frio.
Mas o peguei do relento, catei seus pedaços e
refiz minha corrente. Pendurei-a no pescoço,
e mesmo de coração partido, ainda saio com
ele as vistas... e pelos dias, sorridente.

Que mudou?

Sou a mesma,
criatura de ontem.
Mas não sou,
a mesma, hoje.

Que mudou?

Desisto

não me sinto satisfeita,
com minha insatisfação.
que vá embora o quanto antes,
que a calmaria se faça,
nesse (quase) eterno turbilhão.

Me diga

Quem é você?
Atravesse meus olhos,
mas não permaneça
em minha mente.

Bandoleiro

Bandoleiro,
deixou de tocar.
Recortou suas notas,
esqueceu dos versos..
agora só faz calar.
E a corda-amiga,
foi-se ao esquecimento.

Só resta, isso.

medidas,
devidas,
estouram,
curiosas,
ultrapa..
pedras.

Junta tudo,
só resta, isso.

Compreensão

um pouco de fumaça,
um pouco de ilusão,
um pouco de verdade,
um pouco de evasão.

um pouco de silêncio,
muito silencio aliás,
um pouco de bons ventos..
que talvez tenha ficado
longe, longe demais.

Abigail

Abigail mulher
de todas as horas.
se doa,
enfrenta,
sacode a poeira.

Abigail mulher
de todos os tempos,
és filha,
mãe
e esposa.

Abigail mulher de
dias passados,
estudante,
empresária..
esculacho.

Abigail mulher de
visão,
enxerga,
conduz
e conclui.

Abigail mulher vivida,
vivida .. vida sofrida
que só mesmo, Abigail.

Breve conclusão.

Dias passados,
não em mim...
Caem como luva,
para uma discussão.
Mas os dias apalpados,
esses são, os piores..
dos piores dias de reclusão.

Pessimismo

se ela acorda,
eu durmo

se ela planeja,
eu desfaço.

se ela quer,
eu esmaeço.

se ela promete,
eu não cumpro.

se ela tenta,
eu desacredito.

e se ela ama?
eu já não sei mais o que faço.

Seis cães

Seis cachorros,
um cavando,
dois brincam,
um investiga
e o outro salpica
suas patas na
água do mar.
e o último?

Dorme no relento da praia,
mais seguro do que estou, aqui dentro.

Garça

Garça solitária,
de onde surgiu e desceu as veias da orla?
Nesse pantanal soteropolitano,
arranjo do branco em meio escuro.
Desde sempre eras ilusão, desde
sempre deslumbre.. do não acreditar
em dúvida, por achar impossível acontecer.

Garça solitária das veias negras,
porque sempre te escondes?
vagas pelo verde das margens,
e se mantém parada por dias...
branca como neve, de bico fino e
claustrofóbico, teme o que quer
que seja balanço e foge quando pode.

Mas sou contente,
de ve-la resistir aos dias.
Por tantos dias, meses
que a vejo vagar solitária..
parada em meio ao mundo que corre,
que corre e tropeça... no tempo.

Falando alto

Não vale a pena
nem comentar,
chego e escuto
pra variar...
só assim,
só posso ouvir...


e calar.

sábado, agosto 23

Não usei sapatos.

Para que tanta artilharia?
se já estou de peito aberto.
meu sangue já correu e estancou.
As feridas se curam aos poucos,
e em caminhos montanhosos,
por onde meus pés adoeceram..
fui eu quem não usei sapatos..
... fui eu, só eu.

Discurso solitário

Quando falo de mim,
de mim, para mim..
não há quem possa julgar.
e as vezes, por artigo..
o mundo pensa,
que é até a terceira pessoa,
que indago meu discurso.
E só falo, só digo..
sobre quem posso,
sobre a quem posso dizer...
e digo a mim, só de mim..
meu discurso solitário,
onde só eu, irei perder ou vencer..

Volte ao curso, a vela clama...
ou o mar irá lhe engolir, menina.

Inconstante

Quero,
não quero...
e desquero,
como quem.

Como quem,
quer e não quer,
dispõe de nada,
requer um tudo.

Gosto,
como gosto,
do gosto teu.

Assim como espero,
sentir o mesmo gosto,
do gosto, meu.

Espero, eu espero..
paciência e despejo..
não é preciso ser meu..
nem posso.. nem tudo posso.

Novamente, você.

Em um segundo,
e lá estava você.
em dois milésimos,
e aqui estou eu..

surpresa em te ver.

Pois não?

Só agora pude ouvir,
você que nada me dizia,
e tudo me falava.. com os olhos.
Abrindo os meus,
deixando sua marca..

indolente, eu sei.
controversa, a mim.
Dispersa, ao resto..
Quem não viveu assim?

Quem passou pelo quê,
quem viveu aquilo lá..
e me esqueci de ver o outro,
esqueci do seu próprio falar.

Inebriada em minha dor,
inconsolável em meu tormento.
Alçando voo ao meu mundo,
deixando de lado... tudo,
que meu umbigo não tocasse.

Pois sim.

Em apuros,
me pediu.
Cale a boca,
me falou.
Ouça agora,
me indagou..

e então calei-me,
e então deixei..
deixei de ser egoísta.

sexta-feira, agosto 22

Pois bem.

só quem vive, sabe.
tudo tem dois lados,
tudo tem dois lados.

só quem passa, entende.
não há dor que não se cure,
não há dor que não se cure.

mas quem magoa, falha.
não sabe o que.. o outro passa,
não sabe o que.. o outro passa.

E indaga, e indaga.
Sou eu e meu nariz,
apenas meu nariz e eu.

Aos motivos do anonimato

Aos versos do capitão,
pairando sobre a Cecília..
recrutando novos sabores,
desfrutando novos amores,
e em anonimato seus versos.

Motivo do qual se sabe,
aliança de um velho amor,
não despedaçado.
Há quem pense, política.
Mas apenas existiu um apreço,
um cuidado e um respeito..

..a dezoito anos que se passaram.

Igual

Está frio, não tão frio... como antes.
Porém ainda estremeço, aqui.
Daquilo que mesmo não vendo,
faz tremer por dentro e por fora...
...está tão frio, como esteve,
como permanece o frio de outrora.

quinta-feira, agosto 21

Onde está Hermes?

Onde está Hermes?
E aquilo que me prometeu..
levar minha alegria aos deuses,
mas parece que esqueceu.
Só trazes mensagens dos céus?
Mas Hermes, há fogo e rubrica
na ausência dos animais.
Há um tecer e glória, fúria e sagacidade.
Tempos mórbidos e gloriosos,
assinados pelo criador,
a criatura. Névoa.
Mas não esqueço ao dizer,
Hermes, você prometeu..
você me prometeu.
Prometeu?

quarta-feira, agosto 20

Garganta

De pequena minha sina,
dor de garganta.
que inflama e desanima..

Oh céus, oh vida.

Não sou grande

Não sou grande,
em estatura.
sou pequena,
diminuta.

Não sou grande,
em largura..
sou pequena,
em medidas.

Não sou grande,
em beleza,
sou pequena
pequenina tulipa.

Não sou grande,
em certeza..
sou pequena,
pequena...
tão pequena...

Meus pés

Meus pés, queridos.
Que tanto me aguentam.
Poderiam desconversar,
falar de outra coisa
nesse exato momento?

Meus pés, traidores de si mesmos..
meus pés que insistem.
Fiquem calados, pés.
Meus pés, malditos..
meu peso não lhes faz maldade.

Meus pés, amados..
não queiram mais a ilusão.
Meus pés, acreditem..
em cetim eram sofridos..

Melhor em chão.

Ócio

Amanhã quero..
amanhã eu posso,
amanhã tenho tempo..
aliás não tenho,
volto ao velho ócio.

É você, não,, nada disso.

É, é sim...
e é a mais pura verdade,
e sou mais feliz assim.
Não,
não me diga nada,
não quero mais ouvir.
Você só diz falsas promessas,
que não quero mais ouvir.

Beijos

Beijo, beijinho beijado.
beijo, agudo gostoso e molhado
beijo de boca de nariz e bochecha..
beijo de pouca certeza,
Beijo.

Acontece

Acontece que um dia, eu acordei assustada.
E nem ao menos tive um pesadelo, acordei e
não vi do meu lado aquele corpo, só havia
uma colcha grossa e um travesseiro.

Acontece que um belo dia, o sol se fez agudo.
Fez calor demais dentro de casa e resolvi abrir
as janelas...
Não era a mesma coisa ver a rua sem você.

Acontece que um dia desses, passei na rua
e as pessoas me olhavam torto. Curiosa,
procurei logo saber.... Que aconteceu?
E perguntaram; quem era eu sem você?

Acontece que a uns dias atrás,
teu nome me foi lembrança das piores,
passeou por lugares onde jamais pudera,
e fincou tua haste sobre a saudade.

Mas acontece que um dia, eu acordei sozinha novamente.
E a saudade havia partido, como o teu nome também..
E ao acordar, não fiz uma prece aos céus para que a sua
vida fosse plena e radiante, junto a minha.

E um belo dia, eu enfim acordei feliz.

A quem se ama

A quem se ama, se ama?

Se ama por destino, latitude ou conclusão..
Por tempestade, ódio ou confusão ?
Por inconsciente, amizade ou combustão..
Por química, física ou linguajar?
Se ama por tempo, espaço ou paciência..
Se ama de longe, de perto ou ao lado..
Por vontade, verdade ou passado?

A quem se ama, se ama por amar o que?
Uma vontade, um querer..
se ama por continuidade, por comodidade ou lazer?
Por casualidade ou por falta do que fazer?
E se ama por maldade, por crueldade ou sem querer?
Se ama pela vontade, pela disparidade do saber,
pois quando se ama de verdade existe mesmo um saber?

A quem se ama de verdade, só se ama com vontade, se houver um entender.
Pois há verdade no amar, há verdade na própria verdade de quem de diz amar?
Ou o amor é só uma palavra, só uma fachada que todos usam para se auto-afirmar...
Pois se ama com bondade, se ama com verdade, ou se ama por falar?

A quem se ama de verdade, há enfim pedaço em falta dessa verdade do falar?
E se ama um olhar, descobrir que no calar.. existe a possibilidade...
A quem se ama num beijar, só se sente quando há um tremelique de saudade?
Só há amor em verdade, se sobreviver a vontade de ser e estar?

Como conjugar o verbo amar?
Se eu te amo e tu me amas, somos então o próprio amor?
Que ser se apodera dos sentimentos, que realiza o contratempo.. de dizer que és puro?
A quem se ama tudo pode, a quem se ama tudo é verde... claro e amenizador?
Ou o que se ama é uma vontade, percebida numa pessoa que a sua verdade capturou?

E descobrindo aos poucos, somos todos, todos loucos.. por esse tal de amor.

terça-feira, agosto 19

O meu samba

O meu samba,
só recua quando peço.
Estremece na cuica,
coroa a felicidade.

O meu samba reage
a toda e qualquer situação
a vontade de seguir em prol,
de uma vontade superior.

O meu samba me faz bem,
o meu samba me cobre de vontade,
me cobre de saudade,
de sambar outra vez.

E eu vou..
quando meu samba me chamar.

Contrapartida

Tenho medo,
em contrapartida
tenho a mim.

Tenho fome,
em contrapartida
tenho mais sede.

Tenho vontade,
em contrapartida
tenho dúvidas

Tenho perguntas,
em contrapartida
tenho minhas respostas.

:)

Hoje pude respirar,
sentir que habitam
os ares da felicidade.
Ou talvez, da intenção.

Sim, pude respirar
assim que as vias
puderam se impregnar,
pude também sorrir.

E sorrir é tão bom.

Eu e minha dúvida.

Eu e minha dúvida, fomos passear.
andamos de mãos dadas na rua, saltitando pelo passeio..
Todos nos olhavam, descrentes e maldosos..
Pois eu e minha dúvida, éramos inseparáveis.
Eu e minha querida dúvida, éramos grandes amigas...
Contávamos segredos a noite, imaginávamos a vida de dia.
Mas sem querer a minha dúvida, começou a se esvair..
Começou aos poucos a me evitar...

Pois quando me deram respostas demais,
para o que eu sequer pedi para ouvir...
A minha dúvida, começou a se calar.

Hoje, só hoje.

Hoje, só hoje..
tive o prazer
de me apaixonar.

me apaixonei,
sem querer..
sem saber,
sem falar.

me embriaguei,
retornei a acreditar
naquilo tudo
que tanto não quis.

e hoje descobri,
não me iludi,
em me entregar..

me apaixonei,
pelo intenso,
saudoso e bonito,
balanço do mar.

segunda-feira, agosto 18

Válido até 30/08

Validade do oportuno, do novo consolidar.
Mas não consolida, nada demais..
É só mais um contratempo,
só apenas, mais uma.. pequena distração.
E a validade vai controlar,
novamente o rumo.
E pum!
Fim.... acabou novamente.

Fim

Fim do desterro,
e as mãos aos céus..

Ainda bem!
ainda bem...

Coragem

Tomou uma, duas e foi.
Andou duas vezes,
ao seu clandestino destino.
Para quê tanto ino, certo?

Enfim... estalou os dedos,
antes de chegar.
E com os mesmos,
o dedilhou... a chamar.

Se apresentou sem pestanejar,
de mãos recrutadas, ao balançar.
Muito prazer em vos falar,
te via pelas ruas e não pude me calar...

Quem é você, pode me falar?

Eu não vim aqui pelos teus lábios,
não vim até aqui para te abraçar..
Só vim, enfim, conhecer a quem sempre vejo..
A essa sua face que insiste em permanecer,
de longe, só nesse calar.

Muito prazer vos digo...
é um prazer imenso te conhecer,
agora sim agrego um nome,
a essa face que na rua posso reconhecer.

As minhas

Três Marias,
de ventres,
luas e entoações.

Três correspondentes,
de estrelas flamejantes,
solstício de inverno
e chuva de verão.

Três estações,
a calorosa rosa,
a sorridente vida,
e a entusiasta dançarina.

Três vidas minhas,
nossas vidas,
tementes vidas,
conjuntas e inseparáveis..
mesmo em reclusões bobas.
De ponteiros diferentes
e linhas tênues.

Minhas vidas, três.

O Bobo

Sempre te achei um bobo,
até quando me apaixonei por você.
Soube que no seu dançar a corte,
estariam as minhas palmas a sua disposição.

Seus gracejos de veludo,
sua veemência e auto-confiança,
tudo isso em palavras difíceis
e balançar do corpo.

Talvez a minha forma que assiste,
não tenha entendido o bastante.
Até que ao recitar um monólogo,
pude desvendar tua compostura de bufão.

E de lá eu assisti a sua delicadeza,
e de lá, vi toda sua sincera inspiração.
Vi que bobo é aquele que ama a vida,
e não tem medo de ser com quem, por que
e para quem realmente se ama.

Ser bobo na vida é viver,
é compreender por perder,
por perder quem se ama...
é ganhar sem vitória.

É perceber nos mínimos detalhes,
na dúvida, na concentração e na espera,
é contentar-se por diminutivo,
e sorrir por caridade, a si mesmo.

Ser bobo é conhecer e desvendar,
o que nos olhos de outros residem,
apesar de todo esse calar...
esse nosso calar cotidiano.
Escondendo o Eu te amo.

E hoje lhe conheci no salão,
toquei a tua veste aveludada,
e dancei contigo sob a plateia
dos mais relevantes da corte,
o céu, as estrelas, a lua e o mundo.


Obrigada.

sexta-feira, agosto 15

Dizeres.

Eu só digo sim,
se você disser.
Eu só digo não,
se eu quiser.
E vamos dizer
talvez, se o destino preocupar.

quinta-feira, agosto 14

Boa vontade

..sincera,
ligeira
& desaparecida.

Transcê,dê,lê,mê e pê.

Para o alto,
e avante!
Segue a ordem,
de quem diz.
Ouve aquele,
que entende..
obedece, quem..
...quem não tem juízo.

Juízo algum.

Marvel II

" Adonias, capataz de minhas obras.
Ergue aqui nesse mundo,
o meu flagelo inocente..
Pois aqui tudo nasce, tudo brota..
pois daqui tudo há de crescer.
Adonias, flagelo de minhas causas..
a mata já está se esvaindo e o dia
já se despediu... agora sim é hora
de acender a fogueira alta,
e acabar com todo o resto. "

Uma rosa em botão

Ganhei uma rosa em botão..
que desabrochou em Maio,
linda e elegante.
Suas folhas lanceoladas,
agridem minha visão.
e seus espinhos, acabam
com minha vontade de cuida-la.

Ganhei uma rosa,
que morreu sem cuidados..
secou... despedaçou.

Bonita

Bonita, cadela de ventre já deixado. Cachorra de crias e patas amareladas. Que segue sua dona até o ponto de ônibus, enfrenta os carros, sinais, malucos e desterrados. Protege com seus olhos de marmelo a feição de sua amada. Bonita, cadela de ventre vazio.. cadela de cores alvejadas, orelhas despertas e rabo entre as pernas. Bonita, cachorra de retorno solitário, de passear em ruelas, transpassar passarelas e faixas... Bonita, cadela de barriga branca.. mamilos inchados e olhar penetrante.
Mas quando sua dona se vai, Bonita.... cadela de ventre já deixado; onde está sua cria?

Certamente.

Hoje, certamente
conseguirei o que quis.

Hoje, conclusivamente,
invadirei aquela obra.

Hoje, impreterivelmente
acertarei os ponteiros.

Hoje, contundentemente
assobiarei sobre tuas perguntas.

Hoje, arrependidamente..
descreverei minha infelicidade.

Hoje, novamente.

quarta-feira, agosto 13

Midas

Triste realidade do tangível,
o que acertas, de ti vai embora.
E o que fica, não podes conceber.

Eis a tua dádiva.

Marvel

" Adonias! Busque os cavalos,
hoje é dia de pairar sobre os pastos..
cada vez mais irei conduzir-me sobre
a mata virgem. "

terça-feira, agosto 12

Tarde demais

Depois de tantos rodeios,
meios e completos,
ela conduziu suas
pernas ao seu destino.
Ele, ofegante e apressado
procurou nos bolsos
um pedaço de si,
e na pasta, enfiou a mão
a procura de um pedaço
de papel..
e em vão, ele tentou.
Pois ela já havia partido.

Paciência.

Passe,
toda aquela ciência.
de vida plena,
de classe e demência.
Como ter a permanência?
Dessa haste velha,
repleta de consciência.

Não quero a paz,
nesse alarde enorme..
prefiro o anonimato,
discreto, disforme.

Quero passar,
do que há..
em competência.

Mais, onde está?
relutar..
provar da tal paciência.

Hoje

Hoje eu quis me apaixonar,
por você, por você..
Hoje eu quis te falar,
te dizer, te calar.
Hoje eu disse aos céus,
é você, ou será..
que hoje novamente
vou erguer, ornamentar..
esse seu eu que não me diz,
não me faz, apaixonar.
E novamente desisti,
de te ver, repetir.
É melhor eu ir dormir...
é melhor ir dormir.

Minha dúvida

Minha dúvida,
mais serena..
é aquela,
que mais me dói.

Por ser simples,
e esperada,
minha dúvida,
me trai.

Posso senti-la,
bater forte..
e me decepciona,
minha dúvida,
me entristece.

segunda-feira, agosto 11

Sai daí

Sai daí.. por favor.
Fica aqui, fica aqui comigo..
só um pouco mais.
Só mais um pouco.

Herói do absurdo

Estamos sempre juntos,
recolhendo o inesperado,
recobrando a insolução
tementes a tênue resolução.

amantes de absurdos,
paixões inesperadas,
ligados em rochosas vidas,
ao subir incessante de montanhas.

de torrentes de crenças,
de matas selvagens,
de pedras lapidadas,
e dolorosas contorções.

mundo controvérsio,
Deuses e tarefas,
punições da humanidade,
reforçadas por atributos.

verdade da contemporaneidade,
rotina das clausuras e trabalhos,
temente... discreto.. sem alarde.

há suicídio na solução?
Há solução no suicídio?
Não há questão a morte.
Há recompensa na solidão,
e em cima no alto preserve,
contemple toda a estação.

ao respirar do cume,
a pedra novamente caiu,
rolou nas inserções,
divagou sobre outras pedras,
mas se foi novamente.

mas estamos vivos,
e estamos juntos.
E lá de cima, vemos..
recomeçamos, nos revoltamos..
nos reinventamos.

Apenas, Sísifo e eu.

Maldito armário

Meti o dedinho,
na quina do armário.
que dor, murmurinho
do dedo quase arrancado.

e reclama em vermelho,
o pequeno coitado..
socorro! socorro!
grita louco, dolorido.. desvairado.

Amigo

Contigo
e não abro,
desvio do resto.

as vias de suma,
e loucura infindável,
e torço, amigo.

te levo,
te espero
e te busco..

mas você, vem comigo?

Me disseram.

O amor de muitas frestas, as vezes pequenas demais.
O amor de tantas festas, mas nenhuma satisfaz.
O amor de tempo e glória, perdeu a cor aqui dentro.
O amor de datas e emoções, para mim só contratempo.
O amor que não reside, há algo aqui dentro?
O amor inexistente, oco, vazio permanente.
O amor complacente, horário, data.. presente.
O amor de nomes, dúvidas e pensamentos.
O amor perdido nos outros, sem o amor, aqui dentro.

Desconhecidos

Olá novamente,
mais um que conheço
pela rua da vida,
pelos bares do vento.

Como vai meu amigo,
de onde surgiu você?
Muito prazer eu lhe digo,
é um prazer te conhecer.

Do Rio, Áustria e Venezuela
de pontos, portos, faróis e venezianas..
azul marinho, cor de abóbora e cerveja.
Água que refresca, vento que abraça..
que maravilha, que beleza.

Desterro a conversação,
de planos e afins,
caneta e papel para anotação,
teu telefone? teu e-mail?
Como assim?

E as horas são rápidas,
talvez minutos, enfim.
Não vá antes de dizer-me adeus,
não vou sem me despedir.

Te ligo, te envio e te chamo..
volte aqui, e nos veremos.

Madrugando.

Uma da manhã, levanto da cama como se algo me chamasse. Era a minha vontade subscrita de dizer-me algumas coisas. Na madrugada tudo se impõe contra o pensamento, talvez pela estática contribuição do sono, ou de sua prévia. Quem irá dizer a si algumas coisas na calada da noite? Talvez alguém que precise contribuir para o findar de seus dias.... findar das grandes comoções que as artérias produzem, findar a monumental maneira de pensar e pensar pela vasta madrugada.

Matilde

Matilde,
Findar dos amores, estrela dos dias...
Em Matilde ressurge amor,
nela as batalhas estão vencidas.
Matilde de poemas e canções,
Matilde de pão, água,vinho e folhas..
Matilde de compostura e afeição,
Matilde de apego, apreço, conversação..
Matilde pós dezoito anos,
onde Matilde, fora única.

Assim

Assim que saiu,
correu bastante,
pegou um, dois
três ônibus..

Assim que chegou,
meia hora antes..
foi n'uma banca
e comprou o jornal.

Assim que embarcou,
tentou respirar,
fingiu reservar,
e voltou ao sufoco.

Assim que saiu,
a chuva fina acolheu,
o casaco preto até que tentou,
mas não havia escapatória..

e assim se molhou.

domingo, agosto 10

10 de Agosto de 2008 - Um ano de mim.

Há um ano decidi desabafar, coloquei tudo que sentia num papel. Só que ele foi pouco, para tudo aquilo. Então decidi fazer com o que esse papel pudesse aos poucos falar comigo, e nele escrevi tudo aquilo que se pode quando se sente. E o papel conversava comigo cada vez mais, e eu o via como num espelho, um pouco de mim em algo austero.
E há um ano, por quase todos os dias... jamais deixei de escrever.
Jamais deixei de conversar.

sexta-feira, agosto 8

Poente cores.

Do azul de meias palavras,
e o dourado de palavras diretas.
Do branco risco a despedaçar,
ao cinza encorpado de nuvens solitárias.
Até o lilás tímido e sorridente,
a areia que se espalhara junto ao algodão.
De incrível, até o verde oliva em tons delicados..
como se pudesse dizer tudo que pudera,
naquele céu... é a vida que chama minha alma.

Quando cheguei

Rezei por dias, descansar na plenitude.
Plenitude essa, que não reside na morte.
Está no mar e no sol, tranquilidade do eu.
Daqui sou montanha, verde por fora,
rochosa por dentro..E minha grama cresce
a cada dia mais ao sol da manhã.
E me despeço a adormecer, quando vais
enfim, sol querido. E fico com o ninar
do mar, e a mãe lua que me observa dormir.
Enfim descansar.

Ruas de Fevereiro, em Agosto.

Andei pela rua que corta Fevereiro, até o Farol em xadrez. Antes de chegar, perguntei ao mundo inteiro; Que farei por lá?
Atravessei ao centro, dentre as ruas e vielas ensolaradas, em direção ao rajar das luzes noturnas.
Guiada pelo vento, olho para cima, e lá vejo um manequim sob a casa amarela, suas pernas cruzadas e suas vistas ao mar. A baixo, um velho corredor e sua face que o mundo e o sol ainda beijavam, talvez correndo ao que de súbito, também seria meu destino.
Só mais um pouco e logo desembarquei, e erguido a montanha o Farol se fez. Aos seus pés casais enamorados, a paixão residia em cada um de seus dedos. Sob sua face, um borbulhar de pássaros e uma névoa cristalina de salitre. Em seu ventre, alguns visitantes de outros mundos. Mas, na margem de suas costas o sol se despedia acenando das margens nebulosas do céu em areia, das cores do mundo, do espelho do mar. E assim desci de minhas dúvidas de entardecer... sentei-me sobre a montanha de gramado baixo.. abraçando uma única certeza;
Como foi bom andar até aqui...

Amo

Não amo uma pessoa, amo sim um gesto.
Amo as poucas palavras, que me recorda as flores.
Amo um nome, com um sobrenome que não ouso pronunciar.
Amo, uma circunstância, futuro inexistente e passado onipresente.
Amo uma lembrança, várias delas.. que me amaram tanto quanto
as amo, ainda hoje.
Amo uma saudade, essa maldade que se faz contra si.
Amo o fato, de nem sequer ao menos perceber quem amo,
e o que amo, de verdade. Pois amo sim, se amo em inverdade.
Prefiro a dúvida do que amo, daquilo que, posso entrelaçar
as dobras de minhas perguntas.
E perguntar-me a todo instante;
E será que amo?!

Bom dia

bom dia ao dia que chegou,
bom dia a todo momento,
bom dia atraso dessa cor,
bom dia, bom dia contratempo.

Murmurinho

..deixa eu ficar aqui, aqui do seu lado.
Não tão do seu lado, só perto.
As três cadeiras, vazias entre nós,
e assim te enxergo de longe..
Talvez estaria com uma perna cruzada,
ou quem sabe com a janela aberta.
Sei que gosta do vento da noite.
Seus olhos vidrados em um mundo
austero, assim como eu, que me perco,
que me perco nessa banco vazio...
Creio que vestiria preto e azul,
talvez um cinza nas calças.
Penso que colocaria um dos braços
sobre o banco e o outro apoiado ao joelho.
E assim pincelei sobre minha solitária
estadia, a vertente de um ser, sem ser.
Naquele banco vazio ao fundo..
..que eu pudesse ter essa viva alma,
por pelo menos, alguns segundos.

Vidro

Na janela aparece,
de novo a frente
no vidro molhado,
uma parte da gente.

que surge lá fora,
passeia no vento,
percorre a cidade,
em transporte lento.

divaga sua forma,
perambula pelos ares,
no preto exala,
no branco se recolhe.

na escuridão tudo se forma,
no vidro o rosto se faz,
se olha de lado, agudo..
transpor vida, em um mundo..
só sob trevas, meu rapaz.

quinta-feira, agosto 7

O louco

Uma vez caminhara até onde os olhos não alcançavam, até que cansado, pôs-se a sentar. Reparou que não havia mais ninguém ao seu redor, apenas vozes que diziam ao sete ventos coisas que, não lhe faziam entendimento. E a primeira ecoou da esquerda:
- Estou farto!!! Há de se colher bons frutos por aqui... mas, onde está a colheita?
Os montes não podem ressurgir sem terra, o grão não pode ser sem chão!
Mas enxergo ao longe a terra prometida, mas essas malditas cercas me reprimem! Estou farto disso tudo!!

Não entendera qualquer que fosse o assobio, nem retrucou por não compreender. Apenas
de onde sentara, ouvia as dissertações ao léu. Mas, onde estariam todos?
E ao olhar novamente ao palco de suas ilusões, sem certeza de que vira o que quer que fosse, conseguiu ouvir novamente a segunda chamada à direita:
- Estão querendo me render! Todos estão querendo me render... onde estão louvor das boas coisas? Onde está a circunstâncias e as opções? Talvez se existir a mediação correta, possa enfim me libertar. Minha consciência está cada vez mais dispersa, por vezes, penso estar caindo a beira de um profundo buraco. Um abismo em mim ressoa tudo aquilo que posso tocar, e o que é intangível, desconheço, desmitifico apenas em minhas considerações.... mas, ainda sim!!!! SIM! Eles tentam me reprimir.. eles tentam me ocultar! Absurdo... absurdo!
Novamente em deslumbre e inércia, olhara para o nada e assistira tudo. Tudo pelo qual a loucura lhe proporcionara. Duas vozes, duas? Muitas vozes. E sem ao menos poder lembrar do que ouvira, a terceira, lhe acertara sem pedir permissão:
- Vem a mim clausura! Vem a mim que te espero... Te aguardo desde sempre, te procuro e infindáveis vidas, todas as que vivi. Vem a mim criatura, consolida sua vida na minha vida, corta a púrpura forma de meu viver. Expõe tua cara a minha frente, para que possa enxergar o teu viver, meu viver.
De imediato levantou, que criatura poderia tirar a vida daquele que reside na luz? Talvez o susto lhe fizera medo, talvez, porém depois sentira um doce tocar nas papilas, talvez o doce e amargo discurso o fizera contundir suas idéias, e provar de um sabor agridoce lhe cabia no momento. Ao lembrar que sozinho estara, olhou para o céu cinzento, as vias vermelhas que inflamam todo o mundo e circundam por linhas que se dividem circulares. E lá de cima ouvira o apelo de alguém que lhe resignaria:
- Tenhas paciência, recrie tua alma. Ela precisa ser recriada nesse exato momento, precisa de sua ajuda, de sua atenção. Sua fase embrionária se foi e a metamorfose precisa ser completa. Retire o veneno de sua carne, mas antes, é preciso drena-lo, com sua própria boca, e assim, retira-lo sentindo o desgosto da dor e da lápide. Acredite que, aquilo que lhe forçara descanso, exausto, é o que irá lhe reacender a alma, o que prosseguirá seu legado. Não esqueça de vagar pelas incertezas, pois das certezas tenha medo, lembre-se das sete máscaras, jogue-as fora. Sinta o sol beijar o seu rosto nu, como fizera o profeta. A arrogância irá lhe enfurecer, e a raiva é a desculpa de quem não deseja conhecimento. Se caminhares no vale da morte, veja o que as árvores dizem, elas sempre vão te dizer o que o mundo lhe pede. E respire fundo, precisas sentir o ar recobrar sua botânica via aérea, para os frutos conseguirem sobreviver.
Ao fim do último discurso, abriu os olhos. Todos estavam lá novamente, de uma misteriosa e repudiosa forma. E percebera, que enfim, não se passaram anos, nem décadas, passaram sim, alguns poucos minutos em que se sentira da única forma que a vida lhe propunha prazer, em perder-se em si.
E pôs-se a caminhar até onde os olhos alcançavam, não podendo ouvir as vozes sem rostos, mas ver os rostos que não lhe diziam quase nada.
E todos ao seu redor lhe conversavam em outra língua, e por não conceber aquele estrangeiro falar, por não responder o que quer que fosse, lhe intitularam sob tantos outros nomes, o único que entendera.

O louco.

quarta-feira, agosto 6

Trinco trancado

Bati à porta duas vezes,
com um ar que me faltara.
Pedi abrigo outra vez,
mas o trinco do portão..
outra vez estava trancado.

Permanecer

O que te faz forte?
Uma certeza?
Uma pessoa?
Uma caneta?

O que lhe faz livre?
Uma bituca?
Um instrumento?
Um ideal?

O que te faz melhor?

Um remédio?
Um programa?
Uma balada?

O que te faz sincero?
Um momento
Um sentimento
Uma garrafa de vinho?

O que te faz autêntico?
Um modo de vestir?
Um gosto?
Uma risada incomum?

O que te faz feliz?
Um pouco de dinheiro?
Um pouco de carinho?
Um MONTE de amigos?

O que te faz, ser você?
A vontade de viver,
Os tropeços cavalares?
A constante insensatez,
e a bruma de ilusões?

Isso faz, faz parte de você.
Isso é o que faz..
é o que te faz, permanecer.

Objetos do saber

Quem?
Me diga, quem?

Quem reconstroi
quem destroi
quem repudia
e quem dilacera?

Como?
Me fale, como?
Como pode existir,
como pode resistir,
como pode continuar
nessa loucura?

Onde?
Pelo amor de Deus, onde?
Onde está a vida?
onde estão as pessoas,
onde está a felicidade,
onde está a humanidade?

Quando?
Imploro, quando?
Quando tudo vai se acalmar,
quando o rumo vai se orientar
quando a tristeza dirá adeus,
quando a força recobrará.. quando?

Quem e onde, quando e como
tudo se tornará unânime.
Um grito de misericordia,
conta a turbulência da vida.

terça-feira, agosto 5


Sono lunar

Meus sonhos divertem,
os pulos no colchão.
No ar sou única,
e o vento acompanho.
No leve de minhas cores,
passeio em algodão,
abraço o infinito,
amo essa entrega.

E me reviro na cama,
travesseiro apertado,
comprimindo a dúvida,
retorcendo o coitado.

Voando bem alto,
quase nas estrelas,
faíscas pequenas,
azuis como seus olhos.
Esqueço sua face,
relembro tua voz,
dizendo em doce amor,
aquilo que não se diz mais.

O cobertor escorregou,
no chão se instalou,
acordo com frio,
e o puxo sem paciência.

Cai do céu anil,
em terras frias.
Corri até uma casa,
que dividiu comigo sua solidão.

Voltei ao sono lunar,
mas esqueci a senha,
para voltar a minhas andanças,
de retorno ao céu azul.

Relógio

As horas,
descritas
nesse ponteiro.

não são,
as horas,
daquele primeiro.

não são,
as horas,
dos dias atrás.

nem são,
as horas,
dos dias atuais.

as horas,
do tic e o tac,
ressoam assim.

talvez outra hora,
mas as horas,
fogem de mim.

Cartas do pensar - Helena

Helena cara amiga,

Há dias tento escrever-lhe cartas que possam desterrar as minhas lamentações. Tento por tantas vezes dizer o quanto sinto a tua falta, o quanto os dias estão sendo tão difíceis... e o quanto as notícias dos mares me trazem intenso pesar.
Por dias cruzei as ruas em busca de notícias suas, mas as portas que a mim foram abertas, na casa haviam apenas sombras. Um deserto sob toda tua lembrança, e animais que se alojavam pelos cantos dos cômodos.
Sinto-me completamente sozinha, as vezes é bom saborear o silêncio e a solidão, como o barulho do mundo as vezes me é esquisito, já percebeu o quanto é assustador fechar os olhos em meio a uma grande multidão? É como se fantasmas fossem percorrendo aos poucos a sua mente, cada um num linguajar singular, numa mistura de povos e línguas, em igualitária nacionalidade.
Oh minha amiga, preocupo-me com as desventuras dos mares que a ti rodeiam, eles traduzem cada vez mais os infortúnios que os dias irão trazer. Que medo que me forja as circunstâncias, e que indecisão de retrucar-lhe mesmo essas palavras de desilusão, essas pequenas notícias aglomeradas em uma carta de saudades. Sinto que as vezes a tua presença em minha mente se perde, e retorna, sem motivos. Talvez pelo tempo em que passara teu retorno em contramão, ou talvez pela pura e singela lembrança do subconsciente.
Helena, soube a mim que os barcos do sul novamente retornaram, trazendo consigo as mazelas dos sete mares, que por antes, havia passado sob tua vida. Sinto muito em dizer-lhe, que a contravenção do mundo é surreal, ela descreve suas linhas e abusa das silhuetas, mas não diz, não fala, não conduz em direto a sua aceitação. Queria que soubesse das armas que as embarcações utilizam, canhões de início, ladrões, corruptos, assassinos e contrabandistas em seus cômodos, cada um esperando a desembarcar em matas silvestres, retirar toda sua seiva e seus tesouros, voltar as pressas a terra do nunca, e dizer a quem quer que seja, que o ouro é de quem vence, o ouro, é de quem tem força. Ainda mais, trazem em suas veias de laços fortes, em cordas de inverdades, a fúria e a cólera, desmedida condução da loucura humana.
Minha amiga, estou apreensiva. Rogo pelos dias em que a costa possa ser forte o bastante, e que você regresse a sua pátria, na luz que guia todo esse teu ser. Espero Helena minha, que essa minha irmã consiga construir suas defesas, resplandecer sua armadura, para o confronto final. E rezo Helena, para que toda a batalha seja justa com a verdade, e que possas reestabelecer teu rumo, debitar sua dívida com a felicidade, pois essa, já está mais que absurdamente pronta para o proceder em fato. E até lá minha querida, aguardo notícias suas... em saudades, em preocupação, e acima de tudo, em preces para o seu bem estar.

Alívio

Sempre que as vezes, abraço teu nome aos meus lábios...
lembro de como gosto de toda vez que a tua vista estou.
De como a segurança que me passa é incrivelmente aceita,
de toda conversa desmedida e sincera, me acalma.
De todas as bobagens e mistérios do falar, o mais gostoso
é perceber tudo que ao teu redor emana meu sorriso.
Jamais pude negar o meu carinho pela tuas vias, pelo
teu jeito amoroso. Relembro do dia-a-dia, que me falta,
quanta falta me faz. A certeza de te ter me fazia costumeira,
rotina do abraço pelo demasiado e contundido carinho.
Sorrir para você é padecer em construção, de uma era em
minha vida - em sua existência plena - em que reside a
vontade de ornamentar meus adjetivos, acariciar as vontades,
tecer toda e qualquer receita sobre auto-afirmação.. assim
tão desnecessária por quem quer que possa, mas você, pode.
E reafirmo aos meus dentes a mostra, o quão é gostoso
residir na tua vida, contribuir para uma construção,
de uma desmedida e sincera tríplice, onde estamos,
eu, você e a amizade, perfeitamente juntos.

segunda-feira, agosto 4

Raiz

Nada é reciproco,
o bastante.
Tudo é unilateral,
concebido um pouco mais,
por quem acredita.

E eu acredito,
tudo se sente diferente,
nada compõe igualdade,
quando se trata de gente.

Quando se trata da gente,
esse tal ego natural,
esse amor universal,
que não transita a vida do outro.

A demanda não é reciproca,
o valor, ficou menor.
Talvez as trocas sejam falsas,
talvez não exista a justa troca.

Há sempre alguém a mais,
a mais de vontade,
a mais de querer...


Há sempre caule,
e há, uma raiz, forte.

Pessoas

Fecho os olhos,
na multidão.
Há tantas vozes,
naquele saguão.

Não as conheço,
desconheço suas vidas,
talvez apenas vidas,
outras, dispersas.

Não entendo o que dizem,
só um debulhar de palavras,
entram em meus ouvidos,
e saem sem tradução.

Que estranho

Estranho perceber a diferença.
Não as visíveis, não as tangíveis..
mas as mudanças do interior,
os esquecidos gostos,
as velhas manias.

estranho perceber a continuidade,
de alguns poucos mal-costumes,
de certezas não tão certas,
de um querer imenso.

estranho como, tudo se implica..
mesmo que algo separe as estações,
mesmo que a linha seja forte demais,
tudo se resume na tênue forma de perceber.

Tudo se resume, na estranha forma
de perceber as poucas coisas que importam.

Eu te amo, duas vezes.

"Eu te amo, duas vezes.
A primeira porque amo,
a segunda para concretizar.
Te amo em duas vezes,
te amo sem sequer calar."

Pode sentir isso,
Pode realmente sentir?

domingo, agosto 3

Você

Você me olha, e eu olho pra você.
Será que você realmente me vê?
Eu te enxergo assim, só o meu carinho
pode dizer,gosto de te ver..

Converso sobre mim, mas, vamos falar de você?
Cansei do egocentrismo.. cansei de relembrar.
Você é sempre você a todo instante, jamais
consegue calar, esse teu jeito, bonito.
Essa tua calma no falar.

Como gosto da tua presença, gosto do teu estar.
Você comigo olhando estrelas, deitado na borda
de um aquário, e os peixes flutuam no céu, respingam
em pontos cintilantes, de esperanças em forma de pedido.

Talvez seja apenas mais uma mentira, ou seja tudo
que se pode esperar.. espero que tudo se realize,enfim..
que tudo possa de querida vontade, existir, estar.

Lag mental

Teimo em residir,
nesse estado crítico.
Nessa busca inacabada,
da certeza inexistente.

Teimo em contribuir,
para esse gasto fluente,
essa tristeza enraizada,
esse esmaecer das vistas..

Teimo em estar,
em lástimas passadas,
em contos acabados,
em poesias de inércia..

Teimo do quanto posso,
e o quanto necessito teimar.
quando abraço a solidão,
quando esforço o meu calar.
Mas teimo estar incompleta,
por pura indolência do tentar.

Caneta e Papel

Caneta e o papel,
juntos, novamente.

escrevendo o que se pode,
formatando o pensamento.

as vezes cálido,
por muitas, degelo...

não há novidade em fatos,
não há condição de agrado.

se escreve por vontade,
desenrolam-se as palavras..

esquece suas amarras,
transbordam paixões.

tristeza e embriaguez,
como a caneta e o papel..

Juntos se consolam,
juntos... consolam.

Era digital em desacato

- Mas eu nem sei o teu telefone..
- Eu não tenho telefone.
- Como assim não tem telefone?
- Não tenho, simplesmente.
- Como assim não tem telefone?
- Porque NÃO TENHO, simplesmente.

Ilusão

É mentira,
a sua verdade.
A sua inverdade,
sobre mim.

É verdade,
a minha inverdade,
quando digo,ou aliás..
quando não digo nada.

E continuo, pois sim.
Não espere por mim,
não espero por mim.
Verdades são minúsculas,
para mundos alheios.

Mentiras as cabem,
pois só assim,
elas são felizes.

Já foi

Peguei o trem errado,
desci em outra estação.
Perdi o destino desejado,
agora outros estão no vagão.

Talvez contentes com sua empreitada,
e contentes de sua admissão.
Soprei duas ou três palavras em desconsolo..
sentei no banco, voltei a mim.

Ok

olhou ao fundo aquele,
que nem lhe conhecia
nem sabia do seu.

talvez por olhos vermelhos,
de choro cristalino e doloroso,
não há como ver alguém..
não sei nem se tenho troco.

a frente duas que conhecia,
talvez não quisesse cumprimentar..
ao lado mais dois que perseguem,
mas não há contorno no olhar.

Enxuga os olhos e levanta,
é hora de ir pra casa finalmente,
coloca a mochila nas costas..
respira fundo, um pouco contente.

sexta-feira, agosto 1

Ponto de ônibus, parada do cômico.

19:32

- Moço, onde fica a estátua da liberdade?
- Estátua da liberdade? Poxa, não sei..
- Dá pra ir de carro ou tem que pegar um barco?
- HuM...
- EI MOOÇO! e a Av. Paulista?
- Po... ei cara, onde fica isso?

E uma mocinha grita ao fundo:

- É PERTO DO PÃO DE AÇUCAR,
LOGO NA URCA. VÁ EM FRENTE QUE VOCÊ CHEGA LÁ!

E os indivíduos do carro exprimem:
PARABÉÉÉNS, FINALMENTE ALGUÉM QUE SABE DAR INFORMAÇÃO NESSA CIDADE!
E os de cá, indagam:
Que fela da puta... procurando brincadeira rapá.

19:40

Farol

Luz do farol,
gira em torno de si,
mas reluz ao longe, paraíso..

...paraíso longe daqui.

Juntar

Esquerda e direita,
imaculada escolha.
Vagando pela tênue brisa,
da aceitação.

Discorda da felicidade,
em notas secundárias,
recobra a realidade
em artigos científicos.

Concorda com o amor,
semeia o bater acelerado,
constroi a bondade num sorriso,
desarma o ódio, num abraço.

Lógica e intervenção,
pontos de junção linear,
exato por comprovar-se,
aceito por consumar-se.

Sentido e imaginação,
saudades e mais saudades,
intangível contravenção,
dialeto sem crueldade.

Escolha por razão,
caminho sem alarde,
prece não consiste,
vão pensamento,alarde.

Querer por intuição,
fazer por pura vontade,
agir de modo a beira-mar
amar, sem piedade.

E a brisa continua e flana,
amiga da ambiguidade,
suborno do coração,
aumento da bendita verdade.

Separar

Há duas vias,
e eu não enxergo
o meio fio.

Um tempestivo,
de diagnóstico prévio
de patologia concisa.

Outro ameno,
talvez perigoso
de vielas curtas e confusas.

E reside na rua,
nas ruas, aliás..
a contramão,
que insisto percorrer.

Mas e agora, o que é deixado pra trás?
Se o retorno virou erro,
e só pela direita posso entrar.

Malditas curvas.

Volver

Me olha,
me vê.
Melhorou para você?

De cima a baixo,
como posso esquecer..
de você.

Me liga de noite,
o que vai acontecer?
Não sei..

Não saio de novo,
e fico a volver..
eterna volver...

Quem sabe mais tarde,
eu irei te ver...

Loucura

Mentiras,
eternas,
que fazem crescer.

Mentiras,
exatas,
de mim pra você.

Mentiras,
cobertas,
de toda essa clausura.

Mentiras,
robustas,
ai meu Deus, que loucura...

Piero

Piero e seus muitos amores,
amores da vida, coisas bonitas
que ele adorava perceber.

A beleza o encanta de formas peculiares,
tudo posto em outrem, não por conjunção
mas por singularidade.

As mulheres são seus olhos,
quase juntos permanecem
e seus sais reagem a mistura,
quando os dois se encontram.

Mas Piero era um cara solitário,
daqueles de bares austeros,
de grana enxuta, de moço que esquece o pão.

Não conseguia amar,
nem sequer um pano de chão.
Apesar de dedilhar,
seus amores em canção,

Piero era platônico,
tudo ao tato lhe era vão.
Só se cobria de eternas saudades,
para não sofrer, quem sabe.. em vão.

Reluz

Sinto-me enfim,
de forma que jamais pude.
Até que o dia se fez,
reluziu a embriaguez,
assim esquecida, nua.
Como planar em duas vias,
pender para os dois lados,
e o meio que fica,
não se desespera de atenção.

Come with me

Oh sim,
estou indo.

Quase chegando,
onde você quer.

Mas vou devagar,
para te surpreender.

Há muito o que saber,
há mais do que fazer.

Diminuto eu fico,
e termino minha canção.

Vou até onde quero,
onde quero residir.

E se lá for meu lugar,
ninguém vai me tirar dali.

Semeadores da discórdia

O terreno
era inóspito,
de dúvida.

Quem reside lá,
repete o mesmo,
mesmo discurso.

Cada um por si,
e todos contra todos,
é realmente assim.

Cuide do seu nariz,
antes que alguém lhe machuque,
eles são perigosos.

Enfie goela a baixo,
a verdade circunscrita,
quem se da mal não planta,
quem se dá bem colhe flores.

Entre no clima,
antes de estiar,
esse chuvisco não é nada...

E eles vem para você crer,
que dá para plantar,
depois de um bambuzal eterno..


..depois de somente sugar.