quinta-feira, agosto 7

O louco

Uma vez caminhara até onde os olhos não alcançavam, até que cansado, pôs-se a sentar. Reparou que não havia mais ninguém ao seu redor, apenas vozes que diziam ao sete ventos coisas que, não lhe faziam entendimento. E a primeira ecoou da esquerda:
- Estou farto!!! Há de se colher bons frutos por aqui... mas, onde está a colheita?
Os montes não podem ressurgir sem terra, o grão não pode ser sem chão!
Mas enxergo ao longe a terra prometida, mas essas malditas cercas me reprimem! Estou farto disso tudo!!

Não entendera qualquer que fosse o assobio, nem retrucou por não compreender. Apenas
de onde sentara, ouvia as dissertações ao léu. Mas, onde estariam todos?
E ao olhar novamente ao palco de suas ilusões, sem certeza de que vira o que quer que fosse, conseguiu ouvir novamente a segunda chamada à direita:
- Estão querendo me render! Todos estão querendo me render... onde estão louvor das boas coisas? Onde está a circunstâncias e as opções? Talvez se existir a mediação correta, possa enfim me libertar. Minha consciência está cada vez mais dispersa, por vezes, penso estar caindo a beira de um profundo buraco. Um abismo em mim ressoa tudo aquilo que posso tocar, e o que é intangível, desconheço, desmitifico apenas em minhas considerações.... mas, ainda sim!!!! SIM! Eles tentam me reprimir.. eles tentam me ocultar! Absurdo... absurdo!
Novamente em deslumbre e inércia, olhara para o nada e assistira tudo. Tudo pelo qual a loucura lhe proporcionara. Duas vozes, duas? Muitas vozes. E sem ao menos poder lembrar do que ouvira, a terceira, lhe acertara sem pedir permissão:
- Vem a mim clausura! Vem a mim que te espero... Te aguardo desde sempre, te procuro e infindáveis vidas, todas as que vivi. Vem a mim criatura, consolida sua vida na minha vida, corta a púrpura forma de meu viver. Expõe tua cara a minha frente, para que possa enxergar o teu viver, meu viver.
De imediato levantou, que criatura poderia tirar a vida daquele que reside na luz? Talvez o susto lhe fizera medo, talvez, porém depois sentira um doce tocar nas papilas, talvez o doce e amargo discurso o fizera contundir suas idéias, e provar de um sabor agridoce lhe cabia no momento. Ao lembrar que sozinho estara, olhou para o céu cinzento, as vias vermelhas que inflamam todo o mundo e circundam por linhas que se dividem circulares. E lá de cima ouvira o apelo de alguém que lhe resignaria:
- Tenhas paciência, recrie tua alma. Ela precisa ser recriada nesse exato momento, precisa de sua ajuda, de sua atenção. Sua fase embrionária se foi e a metamorfose precisa ser completa. Retire o veneno de sua carne, mas antes, é preciso drena-lo, com sua própria boca, e assim, retira-lo sentindo o desgosto da dor e da lápide. Acredite que, aquilo que lhe forçara descanso, exausto, é o que irá lhe reacender a alma, o que prosseguirá seu legado. Não esqueça de vagar pelas incertezas, pois das certezas tenha medo, lembre-se das sete máscaras, jogue-as fora. Sinta o sol beijar o seu rosto nu, como fizera o profeta. A arrogância irá lhe enfurecer, e a raiva é a desculpa de quem não deseja conhecimento. Se caminhares no vale da morte, veja o que as árvores dizem, elas sempre vão te dizer o que o mundo lhe pede. E respire fundo, precisas sentir o ar recobrar sua botânica via aérea, para os frutos conseguirem sobreviver.
Ao fim do último discurso, abriu os olhos. Todos estavam lá novamente, de uma misteriosa e repudiosa forma. E percebera, que enfim, não se passaram anos, nem décadas, passaram sim, alguns poucos minutos em que se sentira da única forma que a vida lhe propunha prazer, em perder-se em si.
E pôs-se a caminhar até onde os olhos alcançavam, não podendo ouvir as vozes sem rostos, mas ver os rostos que não lhe diziam quase nada.
E todos ao seu redor lhe conversavam em outra língua, e por não conceber aquele estrangeiro falar, por não responder o que quer que fosse, lhe intitularam sob tantos outros nomes, o único que entendera.

O louco.

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