segunda-feira, janeiro 26

De mil novecentos...

Eu era de montes, de fortes abruptos,
de ventos altivos e cordas flamejantes.
De poços e caldeiras, de ventres dourados,
e velas alvíssimas.
De águas puras, de um saudar monstruoso.
De fitas e laços, montes e castelos,
etiqueta aos céus, providência divina.
De sacos de ouro, de birras antigas,
e espadas cortantes.
Do bem hereditário,da força de meu nome,
do alto do esplendor.


E ele, apenas um mestiço.

Credo

Mas credo que crê,
é a crendice de quem acredita?
Credo! movido do ser..
vontade de crer no incrédulo.
Quem disse? Crendice...
é apenas acreditar, tolinho.
É se por a crer, somente.

Georgia

Suspirei aquela canção,
de um monte de saudade,
era o fim daquela canção,
mas não foi por maldade...
mas por condição.

Leitura dinâmica

Quem quiser me ler, não precisa de muita coisa,
apenas me olhar. Meu jeito de mover diz tudo,
minha fala relutante me conduz, meus olhos são janelas das ações,
mas minhas mãos a tradução do sentir.

Quem quiser me ler, desde que não sou livro,
não precisa nas palavras minhas, nem no monte de ilusões...
Pois recrio meu mundo, da minha realidade ao irreal fato,
em forma do que me impulsiona.

E se quiser me ler, desde que livro não sou,
acompanhe minhas páginas. E me conhecerás.

Sabotage

I don't belive in two times,
but is not enought...
its not my words,
is just a sabotage.
the world change the views,
and i didn't...
its difficult to make a decision,
when you are blind.
you dont move,
you way is broken,
your heart is broken too..
i'm soo sure when my voice says,
but my mind don't reproduce...
Don't make any sense...
Maybe in cup of minutes
or cup of years... i will understand.
And not hear when i say:
"I dont belive in two times"
( desculpe pelos erros no inglês chulo)

"Irrelutantemente"

Em toda minha vida, nunca fui tão sincera, nem comigo, e ela...
Toda parte minha, já pedia, pedia sempre. E antes insisti, de malefício.
Quantas vezes, fui quem nunca, e deixei de ser quem fui.
De fato, sequer ninguém. Prever era mais fácil.
Um alívio póstumo, na condição humana de se arrepender,
e de perceber... quando a falha é eminente. Tão grandiosa e
visceral, que tais olhos fechados não poderiam mais.
Então, permitindo, pude permitir.... e renasci nesse exato momento.

Duas vias


Quantas vezes, sincera pergunta
por quê a lágrima?
De tudo, sentimento agudo e incessante
desmedido ardor do que aflora por dentro.
Pedaço de cada um, se esvai derradeira..
e some, mas não seca tal verdade.

Imprudente realeza, nasce do alvorecer do pedido sentimental,
e morre rainha do ápice emocional.
Inverdade da passagem, momento tão frágil,
quem dirá ao mundo que pare.
E quando fluir tal condição, aceitar e permitir..
talvez, melhor conclusão.

sexta-feira, janeiro 23

Indo embora

Não tenho motivo algum
pra dizer adeus.
É sempre um separar
de anos e palavras...
Mas as minhas sussurram
baixinho por aqui.
Enquanto não estiver por perto...

Ao meu queridíssimo Rafael Loiola

No dia 23, em que o sol entrou
na casa de Aquário...
o mundo se vestiu de sorrisos.
E eu contemplei a minha vida
com sorrir do teu viver.


Meus parabéns meu querido,
felicidades !

quinta-feira, janeiro 22

Sobre apodrecer

Tenho essa má convicção,
e sei do que se trata.
Essa minha falha humana,
esse imundo ser pensante.

Do que se trata a bondade,
quando se tem essa maldade,
esse inverso temeroso.

*Fruto mais maduro do pomar de Deus,
perdido no esvair de dias tão mórbidos.
Já que o apodrecer está tão próximo.

De que valem todas essas farças,
roupas não lhe permitem carinho,
maquiagem não te traz dignidade...

Nem a força de toda essa parafernalha,
fará dessa vida um regar sincero.
Tudo deveras poderá partir... tão rápido.

E apodrecem os frutos preciosos,
os ventres vazios de um mundo seco,
esquecido de si mesmo...

* K. Gibran

O céu

De longe talvez sempre possa olhar de uma forma tão bela. E como poderia dizer algo que não fosse tão belo ao céu. Sentada no segundo degrau da minha varanda, permaneço. Recosto a cabeça sobre a pilastra de um tilintar cintilante, um areal gostoso de se sentir à pele, não é gelado e não incomoda. Cultivo em meus olhos a imensidão de meus dias, sobre minha cabeça tantas estrelas, e a cada segundo que perpetuo minha visão, cada vez mais delas surgem para me cumprimentar. E que sorte tenho, tantas delas nessa noite puderam comparecer.
Logo Sagitário me dá alento, de fato, não era sequer Escorpião... mas uma vontade sincera de reconhecer o murmúrio daquela constelação inquietante. Apontava pro sul inusitadamente, de uma forma que aposto, me lembrarei por um bom tempo. E de que estrelas posso dizer mais? Talvez o brilho de nenhuma delas existisse, se o céu não se cobrisse com um manto azul escuro, se ele não resguardasse o seu celestial matutino ou seu crepuscular diurno. E nenhuma estrela brilharia tanto ao lado daquele apontar silencioso, se não fosse o céu. Se não fizesse um acordo perpétuo com a maior das estrelas, e pudesse esclarecer quem poderia, quando, e de que forma maravilhosa. Assim de tão grandioso, parte dele se perdeu em minha memória falha. Em uma memória seletiva de aquisições, onde reside um fado imenso de repercutir indagações pálidas. E que cor tem a minha memória, se não esta.
Já não enxergo sequer varanda, se alguém me visse as vistas, enxergaria uma enorme galáxia. Giraria em torno desses meus momentos tão singulares. O céu sou eu quando adormeço, talvez meu brilhar se apresente de dia, pois sonho melhor acordada do que de qualquer outra maneira. E de noite? ahhh de noite, sou apenas um calar singelo, uma reflexão do brilho ao longo do dia. E se o céu a noite sou eu adormecida, meu brilhar noturno se apresenta em estrelas diminutas, cada uma apontando pro seu cardinal preferido. E onde está a minha estrela D'alva? talvez guardada num sorriso interno. Meu manto azul-escuro são meus olhos, que me permitem ser dia e noite, a qualquer momento. Mas se por hora me perguntarem se gosto mais do dia ou da noite, acho que responderia por imensa facilidade, gosto do céu.. e nada mais.

quarta-feira, janeiro 21

Filmando

( Ao meu avô)
Não há coisa mais linda,
de ver quem se ama... de longe.
É um sorriso bonito de sorrir,
os olhos apertados e risonhos,
o coração que bate carinhoso,
e com tudo isso não pude me conter,
tratei de guardar essa lembrança,
num lugar onde sempre poderei ver..

terça-feira, janeiro 20

Adeus insônia

Apesar de vastas as noites,
de rolar na cama até as quatro.
Hoje enfim o sono me convidou...
e não pude hesitar, fui dormir.

Provação

Por que a certeza de caminhos tortos,
dão origem a verdade de nossas vidas?
A conclusão de nossos destinos,
em temerosas linhas trepidantes...
tudo é sempre tão difícil.

Maria Clara

( Para minha amiga Jaqueline)
Não sei a dor de um ventre deixado,
do vazio de um ser que não será amado,
não em mãos e braços, um ninar tranquilo.
Mas amado numa lembrança de ultrasonografia,
de um acariciar da barriga... de uma promessa futura.
De um participar não tão íntimo.
Não faço a mínima ideia de como dói,
de como dilacera um ventre agora vazio,
espasmo do ser que habitava,
e não há conhecer de seus pés minúsculos,
nem imaginar a trajetória de seu crescer.
Não imagino como deve doer.

track I

O que é esperança,
se não a fagulha que ainda não existe,
assim só quando o estalar vier...

o que é a esperança,
se não a inconclusiva força,
que se dispersa em si mesma,
e se alimenta de crença.

o que é a esperança,
se não o alento do sentir,
talvez o respirar da emoção,
o inspirar dos sonhos....

Óbvio

Sou tão corajosa
que nem consigo falar.
Sou tão altiva,
da mágoa que me cobre
tão desmedidamente decidida,
que hesitei em decidir,
e tão esperta..
que minha própria esperteza me baniu de mim.

Fim.

Mesmo que não quisesse ver,
era realmente o que parecia.
Sorria para não perder a compostura,
e acene de volta quando preciso.
E fim.

segunda-feira, janeiro 19

Coisas que eu não sei.

Não sei lidar com o amor,
desconheço seus artifícios,
suas manhas e bases.
Talvez não sei jogar,
seu jogo de amar esquisito,
fingir que finjo ser discreta,
mas não sou nem por um segundo.
Toda vez é um desencontro,
eu e minha voz tremula,
meu desdenho ao amor romântico...
não sei lidar com o amor.

domingo, janeiro 18

Dicothomie

Da contrariedade de ser quem fui,
não sou porém, nem de certo.
Sou a tênue visão do âmbar noturno,
a oscilante corda daquela guitarra.
Tudo gira no ímpeto e nada me toca,
tudo me completa em verdade,
e tudo me tiras em descomeço.
Nada sou do pouco que me resta,
sou um novo ser de velhos dias,
e a mais de toda vida que me sobra,
tudo cheira novo e tentador,
como assustou a um tempo atrás.
E assim meu começo é tudo que tenho,
pois o fim de quem fui, só agradeço,
mas que fique exatamente onde está.

sábado, janeiro 17

Quando eu não puder.

Quando eu não puder,
ahhhh quando me faltarem...
todas, todas as palavras..
Vou ser um amor calado,
digno de si mesmo, perdido lá fora,
e de encontro marcado aqui dentro.

Quando eu não puder,
dizer que sou todo amor,
que me faltam os dias,
as horas e os segundos..
em que a companhia me faz falta,
e a timidez, talvez orgulho bobo..
me deixe tão dispersa.

Quando eu não puder,
dizer que fui, que sou
e não sei se serei, não importa.
Não importa mais nada,
além do que existe agora,
incluso, confuso e em suma, bonito.

Quando eu não puder,
admitir essa seriedade,
eu vou ser mais uma boba,
solta em tanta condição,
essa indulgência do amor.

Que lhe cobra tão caro.

sexta-feira, janeiro 16

Mercedes

Pequenina minha
vem aqui,
abraça tua cria,
fica perto de mim.
Toda vez que te chamo,
o chamar não ajuda..
mas quando estás por perto,
nem sei por onde começar.
Mas sei que estamos,
e isso é o bastante...

Minhas mais queridas viajantes

Quanta saudade, das minhas irmãs.
Um sopro gelado assola meus dias,
de como seria, tão longe de mim.
E que medo que dá...
só de pensar na possibilidade.

Ainda, bem aqui.

Vamos ser sinceros
isso não vai mudar,
cada passo atropelo..
é tão difícil levantar.
Não insisto nem fico,
toda vez posso pensar,
e assim é um novo começo...

Uma das portas abertas

O sol desperta as curvas das folhas
todas elas se apresentam no muro laranja,
as cores expressam um minuto de solidão
e logo são acolhidas por quem vos escreve.
O contorno é forte como suas raízes,
e o sol é forte por si mesmo.
Não há nada mais suave que a brisa nas folhas,
as flores pequenas que se agitam
e os galhos que dançam uma sinfonia única.

quinta-feira, janeiro 15

Passarinho

Passarinho pequenino,
é que nem sentimento,
segura-se com mão de concha
não se aperta contra os dedos,
nem se inventa solução breve.

Continua ali olhando,
com ternura e carinho,
descobrindo a cada segundo,
aquele mundo pequenino.

Que se expande em você,
toma conta de sua atenção,
até que saiba o que fazer...
mas por hora, não sabe não.

Mafalda II

Então agora, que farás?
Acho que mais uma injúria,
mais um amor despedaçado.
Tão crente quanto tuas vistas,
que se inebriam tão fácil...


és tão absurda, és tão cega..
e tão amada.

Mafalda

De tudo, sentimento não existe
nem mais um pedaço.
Nem resgate de suspiro,
nem órbita crepuscular.

Talvez o vento malvado,
levou tudo e mais um pouco,
e só deixou esse silêncio.

Tão injusto.

segunda-feira, janeiro 12

Manuscritos

Não começo um texto, muito menos o termino nele mesmo. As frases voam quando se aproxima o inverno e se encontram ao sul, todos com seus respectivos adornos, cores diferentes e tamanhos indecisos... As vezes crescem, decrescem ou se tornam um apagar discreto, não tão discreto na lembrança. Um papel que guardo no bolso, uma crônica de cinco linhas ou um poema de amor eterno, tudo uma coisa só. Tudo uma pulsante forma de dizer que meu coração está cada vez mais livre, e cada vez mais ele se apresenta nos detalhes sobre meus dias. Tudo incita a escrita, desde flores azuis da varanda à doses quase letais de café. Cada pedacinho do mundo é um espaço constante de observação, talvez sábia ou só um abraço apertado ao meu sorrir. Mas sempre existe o lado negro do mundo, como existe um lado negro de quem escreve, descreve. E seja qual for o lado dessa observação, meu motivo é o reagente da escrita, o catalisador de sentimentos e o revitalizador de forças. Manuscritos de datas felizes, ociosas e de importante significado, seja lá como for.

sábado, janeiro 10

Mil beijos sarados e guerras incessantes

E Chegamos, depois de umas três horas de muita maquiagem. De certo que a minha até onde me encaixo, era bastante. Atravessamos a cidade num cortejo de jovialidade pulsante, em promessas a meia noite e cálices de alegria duradoura. Masquei cinco chicletes e lá estávamos.
Comi um quê de o que mesmo? Não tinha gosto de nada. Daí minha boca só tinha gosto de cerveja, que me fazia indigesta a cada gole. Depois de quatro copos, cortei relações com o lúpulo-encevado gelado e declarei minha independência. Aliás minha transferida dependência ao suco gaseificado de limão. Já se foram cinquenta fotos e meu sorriso está tão duro que não consigo parar de sorrir. Na frente o bar estava lotado, e dentro da festa o som me exauria de ouvir algum besterol alheio. Sempre ouço o que quero, incrível.
Entramos as dez e a cerveja fez um pouco de efeito, comecei a dançar e perceber a magnitude da caça noturna. Eu que falo de Aquiles e Atlas, não fiz juz a deuses ou humanos. Mas o dom da conversa me abstem de traumas beijoquícios e mãos bobas. Deus salve minha boca grande.
Até onde pude perceber a animação corporal começou a se inflamar após as onze e meia, bocas se juntavam em um segundo, e no outro, só havia o espaço em branco dos artistas. Acho que perdi o ritmo das festas badaladas.
Quando subimos ao palacete, se desencadeou uma frente de homens famintos e desesperados por um corpinho novinho de forma que, ao ve-las dançar - ve-las temporalmente de certo me inclui - dançava algo maciço dentro de cada um deles. Logo me sentei, meus pés me matavam e meus chicletes estavam sem gosto, assim os troquei.
Mais tarde voltei ao palco, mas me recostei um pouco na sacada pra ver o show melhor. Depois que retornei ao grupo que a mim convinha, conversei dois segundo e olhei pra frente, e atrás, um, dois e três, casais de uma aposta espumante e amarela. Sobrei, óbvio. A moça casada que fazia meu par de conversa, tinha ido comprar algo para comer. Então me salvei num ar de pipa voadora, quer dizer, que de súbito uma amiga chegara nesse momento sublime. Salva enfim. Fiquei conversando um bom tempo por lá, até que o pessoal se acalmou um pouco, retornei para saber se respiravam e disse que estaria próxima se precisassem de um cilindro de oxigênio. Mas já não estavam tão como os deixei.
Após essa estrutura complicada que é beijar a boca alheia e sumir, me sugeriram ir dar uma volta pela festa, achei até interessante. Desci e cheiraram meu cabelo - ainda bem que o tinha lavado- andei mais um pouco e conheci o sósia nominal do meu irmão querendo relações nomincestuosas. Estacionei entre alguns sarados e logo um deles era parte de uma das que me acompanhavam. E eu de não, obrigada, pude me abster. Mais um passeio e buum! Outra explosão de hormônios incandescentes, pensei estar numa faixa de Gaza hormonal, onde os foguetes atravessavam o Estado e caíam no colo dos israelenses. Em meio a esse bombardeio todo avistei terra firme, uma terra de olhos castanhos aveludados e barba mal feita, bermuda amassada e camiseta branca, um sonho de território verde e produtivo. Dei um zoom imaginário sob minhas lentes observativas, e sim, sim, SIMMMMMMMMMM! Aliás não, não... ele estava em uma conjunção com outro Estado maior que fizera de seu país um anexo intermitente e incorporado. De certo deixei de dar uma de Pedro Alvares Cabral.
Bem, de volva ao conflito maior, nessa guerra era a Palestina que se recolhia do campo de batalha e ia passear pela Síria, Cisjordânia, Egito... inchalá! A paz era maravilhosa, os países tinham representantes de Relações exteriores perfeitamente aptos. Em dois tempos assinavam acordos linguísticos, a coisa não era nada parecida com a Guerra fria, diria mais uma investida no mercado de ações salivares, por lá muito lucrativas. Depois do passeio, somavam juntas quase a quantidade dos países do Oriente médio em alianças multifacetadas. Eu era um país de anistia, não aderi a nenhum acordo pois minhas relações exteriores estavam meio comprometidas no contato direto.
Depois de terminada a visita ao Oriente médio, retornamos a nosso país de origem. O palacete dos homens-bolinados, ainda esperançosos. Fiquei por lá até a proximidade do fim da festa, conversei com algumas pessoas bem cativantes, papos interessantes em meio a tanta comoção desenfreada. Mas como de costume meu, até que meus olhos brilhem quanto ao objeto conversativo, fiquei só no papo mesmo. As horas corriam e o fim chegara, não sei quantas vezes reclamei do meu pé, e quantas outras vezes reclamei de reclamar do meu pé - algumas vezes em pensamento, outras no momento mesmo - mas ninguém reclamara. Descemos para ir pra casa, eu gratificada por esse ato, mas algo estranho acontecia. Uma conspiração a frente, percebi que o cessar guerra ainda não era verdadeiro. Só que meu país foi convocado a prestar união a um outro país que de certa forma sabia que só queria me colonizar. Mas que diabos, sou um país livre e independente, não estamos mais em mil e quinhentos! Logo com meu poder de persuasão não-convidativo, pude enfim deixar bem claro ao colonizador-frustrado que a minha nação era livre.
Enfim voltara pra casa, sã e salva depois de mil beijos sarados e guerras incessantes, ufa!

sexta-feira, janeiro 9

Hoje pela manhã

Hoje levantei tão cinza quanto minha sandália se tornou em dois dias. Meu cabelo estava sujo, minha cara amassada e minha cabeça não calava a boca. Bom dia sexta-feira, dizendo com ar de chuva se aproximando. Levantei as onze e lembrei que dormi as três, férias malditas. Férias demais servem pra você olhar para um monte de coisa errada que tem dentro de casa e perceber que você não tem um pingo de saco pra arrumar de verdade, limpar com fidelidade e comprar por necessidade. Comprar é uma palavra que ultimamente tenho substituído por "preciso" apenas, sem continuar a frase. Todo santo dia eu gasto o resto do dinheiro pequinês que ainda me resta. Mas, me pergunte com o que foi que gastei? O consumismo é um amigo imaginário da criança que mora no meu cérebro, e ele sempre consegue o que quer. Depois de descer as escadas, tirei dos olhos um cisco, ainda não colocaram o forro no primeiro andar e isso me irrita profundamente. Os pés ficam pretos como se pisasse em carvão e por outras alguns desses ciscos caem como plumas em seus olhos. Mesmo assim, desci não tão irritada.
Na minha cabeça haviam três alternativas possíveis; cozinha, sala - ou computador, se preferir - ou banheiro. Digo que a maioria das pessoas iria primeiro escovar a dentadura, tomar um banho ou sei lá o que. Decidi ligar o computador e desdenhar de algo que mal começou, escrever com humor sobre o forro da casa, ou de como eu estou desesperadamente entediada nessas férias e quem sabe falar um pouco sobre a monogamia dos pombos, fiquei no primeiro.
Geralmente meu dia só melhora com música, portanto tratei logo de ouvir Supertramp pela manhã. Assim deixei o ar cizudo de serragem preta sob os pés e passei a sorriso amarelo e bafinho matinal, ô dia maravilhoso!
Tomei meu lindo banho e por conseguinte escovei os dentes, tomei o meu café, e sentei novamente com o ar de brilhantismo e sinceridade sarcástica. Bem como mamãe me ensinou.

Há dias...

Há dias em que estou triste,
presa, sincera solidão.
Há dias em que estou alegre,
sacio, gostosa felicidade.
Há dias em que estou farta,
amarga, temerosa reciprocidade.
Há dias em que estou firme,
brusca, quieta vontade.

Há dias em que não sou nada,
não sou sorriso nem alento,
não sou rumo não sou ninguém,
sou apenas uma palavra,
um sentido, um murmúrio.

Há dias um cisco discreto e resumido,
que consome o pensamento.
Que se apresenta em todos os dias.
Sejam rubros ou pálidos..
descalços ou sem vida.

Sobre dormir e sonhar


Até que o café não faça mais efeito nem a dúvida me corte o coração,
Até que os dias caiam do azul e no entardecer suspire baixinho
sei exatamente onde quero estar.

Até que o suco faça efeito, os carneirinhos possam se calar,
Até que a cama pareça confortável e o travesseiro cheire bem..
sei exatamente onde devo estar.


Até que o pensar deixe de rosnar e a mim me diga qualquer coisa,
Até que os olhos parem de se movimentar e o coração desacelere..
sei exatamente onde preciso estar.

quinta-feira, janeiro 8

O social

Tem dia que não gosto de gente,
gente demais me sufoca.
Multidão de um desespero mútuo,
minha luta inconclusiva.

Tem dia que de gente não gosto..
ainda bem que outro dia se apresenta.

quarta-feira, janeiro 7

"Langustia"

( Um recado de hoje )
Descobri que a angustia é fascinante,
ela brota de um mundo chamado futuro
e se insta-la na gente em forma de lembrança tola.
Pois o pensar de agora já se foi em um segundo,
e o amanha dará o que a poucos segundos se reivindicou.
Desfecho não tão imediato, infeliz.
Engraçado que cronologicamente
ela esqueceu de se ordenar,
o que foi, o que é e o que será?
Deixo entregue a Deus,
só isso tenho a lhe falar.

Descaso

Há um certo descaso em toda vida,
um descaso necessário, incluso.
Um tear de linhas solitárias,
que não toca a roca, no momento.

segunda-feira, janeiro 5

Ouvindo

Me deu até vontade de chorar,
grunir baixinho esse calar.
Quando ouvi aquilo tudo,
e nada pude responder...

ô maldita falta de recurso,
que me faz perecer.

Cheiro

Cheiro?
Que cheiro é esse?

Cheiro de infância,
lembrança querida.
Quando passeava pela imensa cozinha,
o salão de minha dança culinária,
uma travessia completa e açucarada.

De pão assado na hora,
seja doce ou salgado.
Do tacho de cocada de doce de leite,
de banana e de coco ralado.

é o cheiro da minha infância,
que hoje tanto me procurou.

Fotografias

O passado repassado
um corte na mesa branca,
tudo espalhado..
quanta lembrança.

somos nós três, maravilha..
como é bom me sentir assim.

domingo, janeiro 4

Olhinhos

Aqueles olhinhos,
azuis e verdes,
que me fazem nostálgica,
de fato saudosa.

sou só ouvidos,
a seus olhos,
que me dizem tanto..

e fico boba, perdida
nesse tempo ocioso..
que me faz longe de ti...

traz um nó na garanta,
só de pensar que vais partir,
e só seus olhos pequenos..

continuam inesquecíveis pra mim.

KL

E o que era engraçado
virou ridículo...
Nem tudo é pra se ironizar.

sábado, janeiro 3

Mediano mundo

Um cônjuge de arame farpado, união de terras distintas, em um único mundo. Um estado maior em nome dos céus, financiado pelo medo armado. Aquele que luta com Deus, quem sabe apenas um anjo caído....
E dos mares surgem os meios romanos, incumbindo e expulsando cada um no seu cada qual. Até que mil anos possam passar, até que mudem os mares e os cercados, o mediano possa respirar, mas temo que não.... Já dizia que de onde viestes, voltarás.
E o mundo respira revolta, inspira insatisfação. A população só tem um minuto até que tudo se vá, até que a paz termine, que as vidas deixem de existir. E existe apenas uma nova intifada, um
murmúrio dos inocentes.. um grito do mundo.

sexta-feira, janeiro 2

Prece

Por favor,

Faça dos meus dias um questionamento,
um exímio momento de existir.
Que percorra o sorriso e afunde no abraço,
eterno guia de todo carinho meu.
E que possa diluir o entardecer,
sorrir no amanhecer,
mas de ser sempre o sol.

O guia dos meus dias.

Nem sempre

Nem sempre fui norte,
mas nunca fui oeste.
Nem sempre fui azul,
mas hoje sou, enfim.

Nem sempre fui ouvidos,
pois minha boca era ávida.
Nem sempre fui calma,
não sou o bastante.

Nem sempre fui escrita,
mas fui sempre pensamento.
Nem sempre fui coerente,
mas ultimamente tento.

Nem sempre era eu,
mas meu invento.
Mas era em cada palavra,
a cada suspiro...
ali dentro.

Elo

Há mesmo um resíduo em todo saber,
uma lágrima em toda palavra,
um sorriso em todo pensamento,
uma calma antes de esbravejar.

E a fonte que permite é a raiz,
e a fonte que continua é o fruto.

Nem sei porque.

Até que as horas se erguessem,
acordada me detive.
Até que o dia se apresentasse,
acordada me detive.
Até que da janela visse estrelas,
acordada me contive.
Até que da janela o céu mudasse,
acordada me contive.
Até que seu sorriso inflamasse o meu,
acordada me contive.
E até quando todos dormiam,
menos o dia ardente...
acordada fiquei.

F11 - II

Naquela casa onde fiz reinado,
hoje tremo e danço tola.
Bobo da corte.

Olho as paredes e o chão de longe,
o banheiro não me convida,
e o quarto é estranho.

Você preso a outra dimensão,
e eu reclusa na minha vida.
Coincidência corrosiva.

Mas nem ciúmes senti,
somente a dor de não ter sido..
um pouco menos.

E hoje você entregue,
a outra ilusão em demasia...

até pensei que seria diferente.

F11 - I

Era você
e era eu.
Tudo.

Era ele,
e ela, a mim.
Todavia..

não éramos nós.

Sobre a ordem de toda contemplação.

Não tenho os olhos,
nem a boca,
nem as mais claras palavras.

Não tenho nada.

Não tenho o sorriso,
nem as vísceras,
nem qualquer amor erguido.

Não tenho nada.

Não tenho os cabelos,
nem o pensamento viril,
nem mesmo seu humor-lírico.

Não tenho nada.

Mas o tenho em meu coração.
em meu pensamento,
em minha solidão.

Em minha lembrança sorridente,
em minha lasciva recordação,
em um espanhol distante,
em viagens arcaicas e cheias de mistério.

Que divida minha contemplação,
e sim a divido em tantas vezes.
Do respeito que tenho a tantos,
poucos em mim vão ficar.
Assim como o arrepio de teu livro,
assim como esse meu arrepiar...

O poeta

(Sobre as palavras doloridas e incitantes, assim tão amadas.)

Ontem poeta triste, cabisbaixo e austero.
Regando lamurias no jardim da saudade.
Despido de sorrisos longos e dos breves um mentir exaustivo.
Poetas de capas-esconderijo, de um preto colossal em luto,
um luto por sua morte existencial.
E morre a cada sílaba, poeta de pouca vida.

Hoje um poeta feliz incitante da verdade dos vales,
dos frutos que o dia lhe põe a boca, da viva terra
enraizando suas paixões, dos mundos e fundos
do amor contínuo e corrosivo.
Pois só lhe é amor se doer, e a única dor de um
poeta feliz é perceber como é bom doer.
Uma perfeita junção do irreal cotidiano,
aos sopros e suspiros do sentir-se bem,
respiras o mundo de uma forma encantadora.

E assim o poeta retornou aos meus olhos,
com um ar amarelado do fim em suas folhas,
e letras de um doer tão maravilhoso.

Temeis

Temeis a quem lhe teme a verdade,
de toda verdade em seus olhos claros.
E assim vos diz e sois um mito,
do qual não se procede vida,
nem a morte despida e errante.


Temeis a quem lhe teme um dizer,
de todo dizer desse teus lábios pequenos,
e assim nem escutas sua própria voz,
até que um dia ela lhe cale para sempre
e um lampejo dizer será somente lembrança.

Temeis a quem lhe teme pensar,
de todo pensamento que por ai reside,
e assim será um segredo só teu,
pois de tua luz e escuridão..
só teu coração pode conhecer.