sábado, janeiro 10

Mil beijos sarados e guerras incessantes

E Chegamos, depois de umas três horas de muita maquiagem. De certo que a minha até onde me encaixo, era bastante. Atravessamos a cidade num cortejo de jovialidade pulsante, em promessas a meia noite e cálices de alegria duradoura. Masquei cinco chicletes e lá estávamos.
Comi um quê de o que mesmo? Não tinha gosto de nada. Daí minha boca só tinha gosto de cerveja, que me fazia indigesta a cada gole. Depois de quatro copos, cortei relações com o lúpulo-encevado gelado e declarei minha independência. Aliás minha transferida dependência ao suco gaseificado de limão. Já se foram cinquenta fotos e meu sorriso está tão duro que não consigo parar de sorrir. Na frente o bar estava lotado, e dentro da festa o som me exauria de ouvir algum besterol alheio. Sempre ouço o que quero, incrível.
Entramos as dez e a cerveja fez um pouco de efeito, comecei a dançar e perceber a magnitude da caça noturna. Eu que falo de Aquiles e Atlas, não fiz juz a deuses ou humanos. Mas o dom da conversa me abstem de traumas beijoquícios e mãos bobas. Deus salve minha boca grande.
Até onde pude perceber a animação corporal começou a se inflamar após as onze e meia, bocas se juntavam em um segundo, e no outro, só havia o espaço em branco dos artistas. Acho que perdi o ritmo das festas badaladas.
Quando subimos ao palacete, se desencadeou uma frente de homens famintos e desesperados por um corpinho novinho de forma que, ao ve-las dançar - ve-las temporalmente de certo me inclui - dançava algo maciço dentro de cada um deles. Logo me sentei, meus pés me matavam e meus chicletes estavam sem gosto, assim os troquei.
Mais tarde voltei ao palco, mas me recostei um pouco na sacada pra ver o show melhor. Depois que retornei ao grupo que a mim convinha, conversei dois segundo e olhei pra frente, e atrás, um, dois e três, casais de uma aposta espumante e amarela. Sobrei, óbvio. A moça casada que fazia meu par de conversa, tinha ido comprar algo para comer. Então me salvei num ar de pipa voadora, quer dizer, que de súbito uma amiga chegara nesse momento sublime. Salva enfim. Fiquei conversando um bom tempo por lá, até que o pessoal se acalmou um pouco, retornei para saber se respiravam e disse que estaria próxima se precisassem de um cilindro de oxigênio. Mas já não estavam tão como os deixei.
Após essa estrutura complicada que é beijar a boca alheia e sumir, me sugeriram ir dar uma volta pela festa, achei até interessante. Desci e cheiraram meu cabelo - ainda bem que o tinha lavado- andei mais um pouco e conheci o sósia nominal do meu irmão querendo relações nomincestuosas. Estacionei entre alguns sarados e logo um deles era parte de uma das que me acompanhavam. E eu de não, obrigada, pude me abster. Mais um passeio e buum! Outra explosão de hormônios incandescentes, pensei estar numa faixa de Gaza hormonal, onde os foguetes atravessavam o Estado e caíam no colo dos israelenses. Em meio a esse bombardeio todo avistei terra firme, uma terra de olhos castanhos aveludados e barba mal feita, bermuda amassada e camiseta branca, um sonho de território verde e produtivo. Dei um zoom imaginário sob minhas lentes observativas, e sim, sim, SIMMMMMMMMMM! Aliás não, não... ele estava em uma conjunção com outro Estado maior que fizera de seu país um anexo intermitente e incorporado. De certo deixei de dar uma de Pedro Alvares Cabral.
Bem, de volva ao conflito maior, nessa guerra era a Palestina que se recolhia do campo de batalha e ia passear pela Síria, Cisjordânia, Egito... inchalá! A paz era maravilhosa, os países tinham representantes de Relações exteriores perfeitamente aptos. Em dois tempos assinavam acordos linguísticos, a coisa não era nada parecida com a Guerra fria, diria mais uma investida no mercado de ações salivares, por lá muito lucrativas. Depois do passeio, somavam juntas quase a quantidade dos países do Oriente médio em alianças multifacetadas. Eu era um país de anistia, não aderi a nenhum acordo pois minhas relações exteriores estavam meio comprometidas no contato direto.
Depois de terminada a visita ao Oriente médio, retornamos a nosso país de origem. O palacete dos homens-bolinados, ainda esperançosos. Fiquei por lá até a proximidade do fim da festa, conversei com algumas pessoas bem cativantes, papos interessantes em meio a tanta comoção desenfreada. Mas como de costume meu, até que meus olhos brilhem quanto ao objeto conversativo, fiquei só no papo mesmo. As horas corriam e o fim chegara, não sei quantas vezes reclamei do meu pé, e quantas outras vezes reclamei de reclamar do meu pé - algumas vezes em pensamento, outras no momento mesmo - mas ninguém reclamara. Descemos para ir pra casa, eu gratificada por esse ato, mas algo estranho acontecia. Uma conspiração a frente, percebi que o cessar guerra ainda não era verdadeiro. Só que meu país foi convocado a prestar união a um outro país que de certa forma sabia que só queria me colonizar. Mas que diabos, sou um país livre e independente, não estamos mais em mil e quinhentos! Logo com meu poder de persuasão não-convidativo, pude enfim deixar bem claro ao colonizador-frustrado que a minha nação era livre.
Enfim voltara pra casa, sã e salva depois de mil beijos sarados e guerras incessantes, ufa!

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