quinta-feira, janeiro 10

Recordo - I

Recordo breve do dia,
em que na chuva o som me trouxe
na pele o mesmo arrepio
a dobra de ser presente,
num passado extinto
numa véspera de som,
ali estive e cá escuto.

Sono a dois

Nas noites te guardo sob meu rosto, onde atinjo as costas a te proteger. Te prometo zelar sob a noite onde dormem todos os teus segredos. Onde tua maneira viva persegue o sonho, e teus cuidados apenas rondam o respiro. Teus pés se abraçam em zelo, sua curva me preenche em falta. Tua nuca, se assim for, prossigo a cumprir minha obrigação. Onde no mais tardar das horas e na competência dos dias, permaneço ali.

Preservar

Um dia te vi e pensei que era eu. Era quem dizia aquilo que gostaria de ouvir, e nas palavras pertencia de dizer e escutar. Fui tão longe e vim tão breve, perdi cada sentença em ser ou estar. Por mais que a voz da boca aos ouvidos me seja, e dos ouvidos saiba que a mim te pertence, a ti me guardas e preservas.

A cegueira

Existe uma dúvida que cega o mundo, que pertence a maioria dos olhares e permanece nas centenas de travessias. Por onde quer que a voz se estenda, por onde vá e retorne a vida... você sempre estará lá, astuta e vacilante. Nos mesmos modos que cumpri meus dias atrás, ainda prossegue a maneira de lidar contigo. Por mais sincera e predita que seja, ainda sim te alcanço sem entender. Onde chega a maneira velha e oculta de percorrer meus dias, e segues, mantêm... resistente.