domingo, agosto 30

Primeiridade

Peguei o meu amor de onde jamais houvera, sentei no chão e comecei a desvenda-lo. Onde sequer pensei que pudesse, fui. Percebi a sua forma delicada, seu imprevisto azul e a maciez de sua sonoridade. Meu amor indizível, de circundar os dias de pequenas vistas. Meu amor perdido, em meus braços murchos e cansados...
sentada lá, erguida de tanta primeiridade... é sempre a ultima primeira vez.

Eis

Eis que arriscam,
todos os pontos,
nas dúvidas menores,
no arco do em frente.

Reluz do pranto,
a condição humana.


Eis que arriscam,
todos eles, vivos.
perdidos em si mesmos,
distintos de todo o resto.

E sobrevivem.

quinta-feira, agosto 27

Impossível

Mais uma vez, sentada.
Olhando para aquelas escadas,
tão vazias de você.

Esperando o impossível,
o improvável...
de se acontecer.

segunda-feira, agosto 24

Nota arraigada de descontentamento

O que estou perdendo.



Hoje estava lendo sobre dois expoentes brasileiros da comunicação. Talvez possa chama-los assim porque souberam utilizar de suas habilidades, de um momento propício e de uma cara de pau estonteante. Por quê? Pergunto incessantemente. Nessa era de tanta informação e com uma maior facilidade de chegar ao conhecimento, porque não existem praticas e endossos ao mesmo?
Poderia dizer que o caminho onde se trilha a profissão e o reconhecimento é árduo, mas, poderia dizer também que simplesmente nos falta disciplina. Ser disciplinado é compreender as arduras de se ter paciência, de produzir pensamento baseado em experimento, de se experimentar usando do mundo.
Ser jovem as vezes é produzir instantâneidade, tudo sou e de tudo apareço. Aparento? Não digo que acho e nem dispenso o que pensam. Só me produzo as vezes num descontentamento imenso, queria dessa instantâneidade me cobrir de novidades. Ser, estar e reconhecer. Mas quê? As portas estão todas abertas, qual delas adentrar? Me perco numa gama de novidades incríveis, e a maior delas é que o mundo só ama quem ama todo mundo.
Até que ponto se pode esperar para brilhar? Ou descobrir que brilhar é necessário a vida, que produzir é construtivo, viver e sonhar é um balbuciar de novas tendências. No sonho me pratico como bem sou, e se sou aqui fora onde me pratico, porque não transpor meus sonhos?
Perder tempo no afável, no medíocre. Quanta coisa jogada fora, quanto tempo desperdiçado. Meu mundo se perdeu na comodidade de minha cara. E a cerca de minhas vísceras me faço em plena insatisfação. Reclamante do provável, formadora de atividade alguma. Que pulso pulsa se o sangue não corre? O caminho da vida se estende nas linhas do corpo, fluindo na magnitude de seu coração. Meu coração quer derramar em meus dias todas essas vontades. Descobrir a vantagem de existir nos planos de hoje, e retomar toda a função de uma outra vida. Que chama.

sábado, agosto 22

Minha tristeza.

Estou tão triste,
que minha tristeza,
não quer nem falar.

Ela está quietinha,
no cantinho dela,
com o nariz vermelho.

Só esperando pra derramar...

Relato numero dois

"Me possuo,
de grande poder.
um poder imenso,
lanceolado...
e a curto prazo."

Relato numero um

Enquanto fui atravessar a passarela, uma nota tocou meu coração.
Chorei de um desespero momentâneo, soluçando de interferência.
Não me trouxe alento algum, e de onde viera, pra lá voltara.
Tão sorrateiro choro, estremeceu toda minha certeza.
Então passando as mãos nos olhos, continuei a caminhar.

E ninguém sequer pode ver.

Jamé

Nunca amei ninguém nesta vida. Nunca fui amada.
Nunca senti que fui amada, nem sequer, amada fui.

Nunca vi meus poros reluzentes, nem minha alma vibrar.
Não senti o calafrio de manhã, perdida em um mirar.
Um sorriso displicente, dorminhoco. Anestesiado de outro dia.
Não soube observar, nem sequer amar,
um escovar de dentes, um lavar do corpo,
um café na tarde vazia. Nada disso.
Não acordei com um nome na boca,
falando alto no estremecer do pensamento.

Nem contei as horas de ansiedade, não.
Não me cobri de esperanças esquisitas.
Não pude, em sincero. Jamais fui, nem serei.
Não cobrirei a casa de flores, não farei amor, nem amarei.

Não desejarei os dias, não farei das noites, lindas.
Não amarei, nem ficarei. Do lado sem dizer nada,
encostada, de sobreaviso. Olhando a nuca alheia.
Segurando um dedo, parecendo criança.
Não viverei de amor, amor não me alimenta.

Não fui nem serei mulher, mulher de alguém.
Não vou preparar, nem me vestir. Não vou.
Não beijarei as orelhas, nem os olhos.
Pedirei ao amor que se afaste, perigoso.

Sequer trouxe flores, em meus sorrisos.
Não acordei com um olho só, nem abracei.
Não rezei pelos planos, nem acolhi.
Não chorei de felicidade, nem dei carinho.

Nunca fiz nada disso, nem farei... jamé.

Sentidos

Meus sentidos,
todos eles, reprimidos.

Minha boca não gosta,
meus ouvidos não captam,
meus olhos não se abrem,
minha pele não almeja...
meu nariz, coitado.

Nada sinto.

Feche a porta

Quem disse,
quem falou,
quem esbravejou;

"Feche a porta"

Não me ensinou
a girar a maçaneta.

Quanto te magoei

Quando te magoei,
deixei.
Parti dos rumores amigos,
me despi.

Quando te magoei,
me retirei.
Descumpri.
Nem sequer alardei.

Quando te magoei,
permiti, fugi.
Precisei.

Quanto te magoei,
me magoei também,
de tudo que lhe deixei.

Uma criança.

Quem me sorri melhor que uma criança?
Que sorri com a vida que Deus lhe entregou.
Não há sopro de tristeza, não há uivo de solidão.
Pois uma criança, acolhe tua vida com seu sorrir.

Que mistério contagioso, que permeio perfeito..
da alegria do maior bem, o mais valoroso...
do sorriso lindo que uma criança tem.

Não sei do bem até que ele invade,
transpõe qualquer significado,
na vida do rosto de um pequenino
um sorrir do peito amigo, coração amado.

sexta-feira, agosto 21

Meu dia favorito

Particularmente diria que meu dia favorito é o dia de encerar. Aqui do aquário vejo a alegria transbordando das calças azuis à toquinhas brancas. Os baldes se jutam e os fios atravessam quase todo o corredor. Os sapatos de segurança num reluzir mais bonito, as conversas são mais do que agradáveis de se ver. Tudo se ilumina e o ar pulsa frescor.
De certo que não há cera alguma, nem há chão de madeira. É água e sabão num girar de cerdas vermelhas e numa limpeza profunda. E enquanto se empurra o carrinho amarelo para dar início, ele estica a extensão para dar vida ao limpador. A máquina escova o chão, joga água e sabão e depois com um rodo traz a água de forma que espalhe, secando mais rápido.
De tão rápido que é, o condutor lhe diz que já está acostumado. E quando se pega a manha, tudo fica mais fácil!.
E lhes pergunto, quem sou eu pra não amar as sextas-feiras? Limpas, agradáveis e tão cheias de um sonhoso descanso.

segunda-feira, agosto 17

"Fraca"

Ando preocupada, calada.
Silenciando meus propósitos,
aquecendo minhas pátrias.
Você me deixa assim,
das luas de suas visitas.
Do sol que tendes a esquecer...

Nota de dois tempos amadores

Ontem comecei a travar uma bela luta, e enchi-me de esperança contra meus diabos. Passei duas horas tentando compreender meu inimigo, duas horas poucas, duas horas bobas. Duas horas não me foram nada, além do perceber de pura imprudência. Não se analisa nada de imediato, não se tira conclusão alguma de rapidez. A não ser, a velocidade em si.
E então, como progredir do poço de minhas intromissões? Se lá, no fundo do significado que é ser e estar, estão também um mundo de interpretações. Se sou porque meus acertos e minhas falhas me produziram. Reproduzem-se as dúvidas. A água reclusa apodrece em si ou resvai no extrair dos baldes? Respingos só contam histórias de morte precoce. De morrer já me canso em pensamento, não dá morte morrida, mas da morte do pensamento. Por quantas vezes morreu uma ideia, faleceu um conduzir brilhoso, um suntuoso sentir. E quanto as próximas, que sejam sedentas de viver, por favor. E como caminhar no desviar de minhas intromissões? Como meus diabos retratam seu espaço maduro e conciso, pode também realizar-se o recriar. Ponderar, talvez.

sábado, agosto 15

Será?

Será que posso dizer quem sou eu?

Talvez possa, enumere em vinte dígitos minhas
qualidades e defeitos. Diga meu nome e sobrenome,
o mistério das premissas de meu signo.

E talvez trace minha idade, fale de meus sonhos,
meus trajes e minhas vontades. Minhas perdas e
meus triunfos, minha família e meus amigos. Se sou
o amor que fui ou no que permaneço, se falo alto,
durmo cedo ou se festejo meus aniversários...

Se acordo de bom humor, se ando descalça em casa
ou se bebo socialmente. Se gosto de azul ou verde?
Pratico esportes? E se já pratiquei a arte de mentir, a
leveza de sorrir ou o findar do choro.

Se abraço apertado pra não perder ou dou dois beijinhos?
Se sou o meu time, minha cidade, meus versos e minhas
alegrias. Se sou as músicas que ouço, as palavra que digo
ou até mesmo quando digo não.

Se acredito no mundo, na vida e em Deus? Se tenho fé,
respeito ou gratidão? Se sinto cosquinha no pé ou na mão?
Se sou o meu amor, a minha amizade e minha emoção.
Se sou a minha mãe, a minha avó e meu irmão.


Talvez eu diga tudo isso,
e você aceite.
Talvez não.


Mas quem sou eu aqui,
além de minha verdade?

sexta-feira, agosto 14

Esta

Essa pressa, essa angustia e essa tremedeira.
Nesse impulso, essa dúvida e essa tristeza...
Esse muro, essa crosta.. esta distância.
Esse mundo, esse medo... esse silêncio.
Nesses dias, essas águas e essa desembocadura..
esses passos, essas tramas e essas indulgências,
esses planos, essas falhas e essa espera.
Esse calar, esse maldar...... esse findar.
E tudo, esse e aquele..... não consigo mais falar.

Silêncio

Hoje minha tristeza falou tão alto
que no eco de sua magnitude fui vítima.

Ressoava o cântico dos esquecidos...
e perdiam-se as falas por lá.

quarta-feira, agosto 12

Assim que tombei

Já não tenho mais dúvidas,
dessa fúria que atormenta.
A tremedeira que desorienta
um espasmo nas nossas vidas.

Tenho um pouco de paciência
um restinho de consciência,
uma pitada de carência,
mas não condescendência.

Já não tenho dúvida,
o tirar do sério é verter em mágoa,
o lavrar do ódio é subir em água,
e a resposta está na partida.

Tenho um pouco de aspereza
um restinho de clareza,
uma pitada de tristeza
mas não tenho mais sutileza.

terça-feira, agosto 4

Santa Luzia

Santa Luzia, curai-vos!
extirpa nossas dores,
incinera nosso sofrimento,
cuida do âmago de nossa alma,
cicatriza nossas desilusões.
Santa Luzia, atende!
Essa saudade dos dias,
onde curando o peito,
respirava o alento dos inocentes.
Galgando uma criança feliz.
Santa Luzia, agradeço!
Por imunizar meus desterros,
minhas lamentações.
Pois fui onde os meus foram,
e que saudades...

Partir

Você vai e fico aqui,
ou você vai...
e parto também?

Talvez partir de você,
quando você partir daqui.
Pois o partir de mim..
é o que parece acontecer.

Fatiadas as vontades

Fatiadas as vontades,
todas elas
partiram ao prato dos sabores.

um a um,
devorando aos poucos,
incumbindo de sentir.

E descendo ao saciar,
dos prazeres, todos eles.

Terminar.

Ontem no sexo

ontem mesmo
me passei
mas reparei
no teu sexo.

ontem mesmo,
reparei, olhei
transei
em perplexo.

ontem mesmo,
eu cobicei,
cada vez mais
teu nexo.

ontem mesmo,
quem diria
eixo plano,
tão complexo.