quarta-feira, junho 29

Matte Kudasai

queria contar como foi tudo por aqui,
dizer que passei por alguns bocados de momentos.
tantos que nem consigo dize-los com meu corpo,
meus olhos ou minhas palavras.
está tudo perdido nesse adeus, do passo que se foi,
esse acumulo de coisas que ficaram distantes das vistas.
que só passam rápido quando reconheço,
quando me reconheço no que quer que faça.



quarta-feira, junho 15

Recosto

Há um momento em que me recosto na saudade do amor. E fico em sua fronte macia a fingir-me presente, onde sinto aquele intangível. E a olhar-te com tamanha admiração, com os mesmos olhos com os quais sorria. No pouco que enxergo, posso recordar, a cada vez que meus sentidos foram a prova, sinto muito por perder esse desafio. Amando cada palpitar em meu silencioso vício, de amar-te com os olhos sem que sequer percebesse.

terça-feira, junho 14

J.

senti uma saudade maciça
de quem, no inesperado
dos meus dias, aparecesse.

como se permitisse o perdão,
apesar de fingir não notar,
mas os olhos me dizem,
meu rosto enruga ao pensar.

no meu pedido inútil,
disse-lhe que me perdoasse,
como se pudesse perdoa-lo
de si mesmo.

penso que estou vivendo
e sentindo algumas coisas
que a mim são tão estranhas.
como antes, estou aprendendo.

mas seus olhos pesados não,
eles não me perseguem mais.
e na livre maneira de mover-me,
sinto apenas a falta de perceber,
que você poderia me ver novamente.

segunda-feira, junho 13

A dificuldade de dizer

Certas dificuldades de se dizer, falar é tão difícil . Entender é tão complicado, cheio de outros dizeres que precisam ser compreendidos. E então, me pego pensando em tantas coisas que nada que saia da minha boca poderia sequer manter um contorno do que imagino. Me pego nos dias pensando em meu rosto pálido sobre coisas que amo, ou, que não gosto o suficiente. Por outras eu visto a capa lúcida do silencio, e balbucio coisas que as pessoas não podem ouvir. Por vezes eu as digo alguns elogios, por outras somente as quero longe de mim. Falar, falar e falar. Falar é tão difícil, que me ocupo de pensar. Penso infinitamente em todas as possibilidades do meu dia, se piso no chão e sinto a sola do meu sapato corroer, talvez o sapato converse com o chão num chatear desgastado, a fala do chão é dura e áspera para eles. Ou, nas poças d`agua sinto amolecer também parte de meu pé, numa conversa molhada e inquieta. Subo uma rampa e falo em reclame, do ar que me falta, falta de fala do meu pulmão. Olho as ruas como se todos os dias falasse com meu corpo, ando desprendidamente sobre as calçadas procurando maneiras estranhas de falar com elas. Engulo algumas tristezas falando com meus pensamentos, com meus pensamentos posso tudo. Até embriagar-me de falas doces, onde conto-me poesias esquisitas, fala do meu pedaço mais íntimo. Ultimamente o frio tem falado mais alto por aqui, meu corpo não compreende porque a temperatura tem de mudar tanto em tantas vezes. Mas apesar de sentir-me tão fria, algo aquece meus dias sem sequer compreender de onde vem tamanha faísca. É algo que cultivo num modo muito silencioso, que de vez em quando se desprende e sobre a superfície constrói algum gracejo. São pedrinhas brilhantes que as vezes me lembram que ainda estou aqui, e que de longe elas estão olhando por mim. Algo tão curioso e escondido, que me diz para medir meus dias com mais cautela, perceber o mundo mais vagaroso, conter-me da falta de mim. Isso que fala comigo constantemente, mesmo que dizendo na quietude dos meus sentimentos os mais doces dias azuis. Nessas palavras onde posso tudo, na fala em que meus dias me permitem ser sincera. Nessa não vejo dificuldade.

domingo, junho 12

Red

talvez quisesse que me consumisse,
no pouco espaço de tempo que
no verso de meus olhos o percebi..

que nas mãos rígidas me sobrassem
apenas a pressão de notar-te,
e ver-me como vítima de tua existência.


segunda-feira, junho 6

Poeira - II

Sou isso que me aflige,
que me corrói os dedos,
e me açoita, nos olhos.
onde na boca tremo,
e nos braços finjo,
na fortaleza do mim,
onde sou presa,
e dos outros sou imune,
dos outros sou como deveria,
sou tão fraca como só eu sei,
como só eu sei.

Poeira

a este dia,
que a mim passeia,
e me retoma,
de quem fui,

estou vivendo
como gostaria,
e estou sendo
como jamais fui.

nas minhas palavras
sou o melhor de mim
ou o pior
se a mim chegam.

pois estou aqui
vendo a vida correr,
e me passar,
me recitar,
que estou longe.


Sobre este dia

venho aqui escrever, como se procurasse um alento nas palavras que deixam de me possuir.
e as retiro dos olhos, como da boca gostaria. sem mais sentido, algumas vezes me deixo reclamar a agonia, ou a tristeza de viver de coisas que desconheço. tudo parte em tamanha rapidez que não sei mais onde começou. minhas mãos não conseguem mais tocar o mais puro existir, talvez porque esteja passeando em tantos pensamentos, talvez porque esteja ficando louca. acordo na madrugada pensando e falando em foz alta, onde presumo que a vida se resume a algumas palavras pelas quais não me recordo pela manha, e forço a memória para todas aquelas respostas. passeio pelos dias olhando a vida, seu movimento as vezes me causa estranheza. como poderei seguir em frente, e redigir uma carta sincera sobre minhas mais claras certezas, meus mais sinceros sentimentos, minhas preces mais verdadeiras, se a mim residem todas as incertezas.