sexta-feira, outubro 30

Pratinhos descartáveis

Pratinhos descartáveis?

A comida cai,
a faca rasga,
o garfo fura
e tudo vai embora de qualquer jeito.

Realmente

...nada disso, saliento.
Me deixe em paz,
na paz de me deixar,
é que me encontro realmente.

sábado, outubro 24

23:43

Parece estar tudo errado,
tão deslocado.
A dissonância dos passos,
a frigidez de outros fatos.

Requer a tudo um ajuste,
incompreensivo, de fato.
Recluso e conciso, longínquo.

Uma pedra

Uma pedra como esta
preciosa e cintilante
aos olhos tão cheios de vontades.
Infelizmente,
está perdendo seu brilhar,
está perdendo seu mirar,
está se tornando opaca.
Uma pedra, apenas.

Sono

Está chovendo, mas aqui dentro está tão abafado. Posso sentir a carga pesada no ar, o peso de respirar essa massa quente. Depois das onze não abro mais a janela, das frestas é tudo que se refresca. Tenho medo. Já não tenho nove anos e pulo de pontes sem sentido, meus deslizes são mais perigosos e minhas pontes traiçoeiras. Penso em beber água, vou pra cama. Deito e reflito sobre a vida como se fosse minha última chance, impune. Como é difícil pensar nessa densidade. Rejeito os primeiros, decoro os segundos e no terceiro, finalmente durmo. Daí pra frente tudo se acalma. Tudo faz sentido...

sexta-feira, outubro 23

Carta do Limiar

Você,
De minha maldade a impunidade; é você meu limiar. Me transpõe em algo que suponho não ser, nem saberia se só. Ainda que possa, se desejo é cada pedaço de meu pensamento e se fracos os vestígios são amontoados... subvertem minha bondade. Será que é verdade? Não há mistério nos meus dizeres, há controversa nos meus fazeres. A tua fala que abrandava meu coração agora se despede, se o costume regenera minhas forças, eis que troco o não pelo que seja. As vezes, você, do gosto mais profundo das minhas recordações, da fala trancosa de meus dias solitários... as vezes você é a parte de mim que rejeito. Essa rejeição com gosto de prazer imediatista, eis que provo formoso e descontente, com a boca cheia de tuas formas. E me engulo de tanta rejeição, sentido a cada destilar o calar desse teu significado ausente.

quarta-feira, outubro 21

Ele eu

Ele tem,
o que eu,
o que nós,
nós teremos,
sou sorrir,
dividir..

sorriremos.

Não gosta

Jamile não gosta de quiabo,
não suporta quiabada,
não entende o quê da baba,
traz prazer ao paladar.

Eis cruel.

Eu desminto

Eu a amo como um desejo secreto,
que desminto aos poucos....
porque nascerás de minha conjunção,
e serei plena quando vieres.

Eu desminto o meu amor de mulher,
porque quero poder abraça-lo,
distante sonho de pernas grandes,
me abre os poros e vais embora.

Eu a amo porque é a margem de minha vida,
será o deleite de minha criação maior,
nos braços de quem te ama, pequena...
Serás o mundo de minha feição.

Eu desminto o meu amor de mãe,
não sou mãe nem de mim,
não construi meu castelo conexo,
que pasta nas veredas do meu querer.

Eu a amo porque me escolheu,
e se sou da pequena a escolha, serei.
O grande afago da sua vida inteira.

Eu desminto tudo ao passo das minhas expressões,
onde fala a boca e desmente o olhar,
nada posso, mas penso em verso sim,
em poder realizar.

terça-feira, outubro 20

Sem sequer

Se te olho e não te vejo, que maldade desses dias.
Na docilidade de meu olhar as peças que preguei no teu nome.
Cada vez que proponho um avesso, não enxergo sequer solução..
é mais fácil e prazeroso ver-te em nome agudo, do que não.
E congruentes segues em nome que soletro devagar,
que nos dias corrompidos são alento, e esperar.
Talvez porque nem saiba, nem tente sequer...
não me encho de prazeres, sem sequer estar lá.

Pão de açucar ao chão

Temei com o pão de açúcar na boca, espalhei tudo no chão. Cada cristal de minha saliva, a gravidade da sujeira. Sou descuidada mesmo, não reclamo não. Meu transtorno é o linear, me figuro no não. E se caiu no chão de formigas, deixem elas e seu banquete. É tão pouco do que me tenho, do que me tem? Nada me tem. Além do meu coração.

Escrito numa nota fiscal

A quem me referia,
quando falei,
se é que existe
pintura de ser algum.

A quem me conduzia,
dizia não.
Da longa doçura do talvez,
do desprazer do em vão.

A quem reclamei,
se criei, descuidei...
agora de minha solidão?

Maria Eduarda

SAIU DOS LARGOS BRAÇOS
EIS A PLENITUDE!
VOOU NO CHÃO DE GIZ,
ENCHEU OS OLHOS E O CORAÇÃO DE SEUS PAIS
TRÊS PASSOS E O MARCAR DE UMA VIDA INTEIRA...


VOCÊ ANDOU PELA PRIMEIRA VEZ!

sábado, outubro 17

O porre

Tomei um pouco, que porre.
Se bebo mais, eu compreendo,
entendo.

Aturar,
se o porre é o durante,
mas prefiro no depois,
me embriagar.

No vagão

não sei não
se esse vagão.
me segura.

desastroso como ele,
populoso assim,
e eu aqui?

minha fuga é assim,
ou eu pulo do vagão
ou ele me joga, nos trilhos....

O amor dos brutos




Tomou as mãos o frango e o arroz e enfiou tudo na boca sem qualquer parcimonia. De lá emergiam restos e grunhidos, gritos dos pobres engolidos e sacrificados. Mastigava pouco e engolia tudo tão rápido que as bocadas desvencilhavam mesas de jantar inteirinhas. As unhas cheias de carne, nos dedos a gordura do assado a criar uma película de um bordô dourado. Seus braços gordos e peludos se esticavam de forçoso para o rebobinar da situação, entretidamente consumida em si por algumas longas passagens. Nada cercara seus olhos, além do manjar de seu prazer. Nada lhe despertava o mesmo, comer era sua sina. Mas a língua não sentia nada, os dentes tão pouco... a garganta é só passagem para o que o estômago destrói. Quem sentia o que de prazer? Além da vontade de se consumir o quanto antes possível....

terça-feira, outubro 13

Distâncias

Essas distâncias
mãos unidas
de colos separados,
esses meios,
esses dias, separados.
esses ãos de todos,
essas saudades.
Essas distâncias,
corroídas pelos dias,
distâncias leves,
escondidas em bases..
esses nossos olhares,
esses olhares perdidos,
essas distâncias arraigadas..
esses finais de nós mesmos.

terça-feira, outubro 6

A desconstrução do oportunismo

Muitos podem dizer que a trajetória de quem observa o mundo de forma analítica é sinal de egoísmo e pedantismo circense. Até onde se compreende, o pejorativo impera no comum conhecimento dos adjetivos, dilacerando o âmago de seu entendimento. Oportunista eu? Assim que escrevo a outros que sim, concebo a mim a capa escura do desconfiar.

Se posso pensar um pouco mais e lembrar onde parte a palavra oportunismo, posso seguir tranquilamente em sua raiz esclarecedora; oportunidade. E o que é oportunidade, se não a esfera da vida que buscamos todo o tempo? Aquilo que separa os sonhadores dos realizadores, ou que unta esses dois artistas do pensamento humano. Pois o sonhador cria possibilidades em seu querer mais íntimo, e o realizador nada mais que abraça as suas possibilidades. Mas que sonhador por si só concebe qualquer oportunidade? Também nenhum realizador que consagre o que não cultiva. Existe uma interdependência em conceber e produzir, que faz da oportunidade o ideal.

Ser oportunista então é presumir que existe uma possibilidade valorosa e ater-se em utilizar de meios para conquistá-la. E o que designa se o desenvolver é bom ou ruim, são justamente os meios de conquista. Que determinam e sucumbem – muitas vezes – o sentido das palavras mal utilizadas e interpretadas. Sou oportunista porque sou egoísta, não. Sou oportunista porque sou individualista. Porque assumo o que almejo e afirmo meu querer em minha ação.

Se desconstruídas as tantas faces da ignorância, a compreensão tomaria posto. Cada possibilidade traria uma nova luta incessante para o melhor de cada um. O mérito, tão esperado e brilhoso aos olhos, seria a conquista cuidadosa e merecida de seus esforços maiores. Trazendo não só a imensa ruptura com a mesmice, mas construindo possibilidades de enxergar um mundo de oportunidades, sempre renovadas.

segunda-feira, outubro 5

Assumo

Mentiroso
é meu coração.

Ele mente,
enganador.

Meu coração é
um farsante.

Ele mente,
e eu assumo.

Ilha

Passei pelo mundo,
onde foi que parei?
Me fixei, fiquei
em que dorso me embalsamei?
Quem foi que amei?
Que foi que amei,
e se fui,
se adociquei,
e me criei.
Se perdi, perdida.
Achada de ninguém,
de nada me juntei.
De nada nem ninguém.
Se sou pátria amada,
não sou nação de mim,
sou paralelo do guiar.
Bandeira alguma.
É de muito,
isso mesmo
um vazio de achar,
o palpável do sentir,
não dá pra segurar.
Quando
Quando sei que é a hora,
me despeço em pouco olhar,
me desfaço de tudo aquilo,
me tenho, me guio.. vou calar.
Quando sei que posso,
é ensejo pro falar,
de calar não me abasteço,
posso lhe contar?
Quando é pra me dizer,
quando é pra me calar,
eu sei que vai e vai bem logo,
tudo isso, acabar.

sexta-feira, outubro 2

A tua boca

Você sabe,
ahhh
como sabe...

como espero,
almejo
contemplo,
esqueço
de tudo,
para ver
a tua boca.

E se não visse,
ah se não a notasse as vistas,
seria enfim,
que pois, meu querido..

de olhos fechados,
e peito aberto,
a sentiria.


(espero)

quinta-feira, outubro 1

As Minhas coisas

Toda minha roupa suja, ficou no cesto. Num cesto que não gosto de olhar, não gosto de ver que a roupa manchada fica no desuso da rua. Do amontoado de seu mal cheiro em minhas narinas, ardem em tamanhos desproporcionais, queimam no sentido do meu uso passado. As velhas meias encardidas, são as que mais me doem, um par de meias que me levaram com conforto a lugares nunca antes, nunca antes nada de meu conhecimento. Mas agora? Só um par de meias antigas, encardidas e furadas, da torcida que fazia parte de sua duração, só me sobrou as marcas dos dedos nas extremidades. O que de novo o guarda-roupas concebe, do pendurar dos cabides estão os casacos e as roupas passadas, passadas de lisas, de rentes ao fio da meada. Das dobraduras as calças, o uso do dia a dia onde me visto de uma aliança vistosa. Nas gavetas as roupas íntimas que se escondem sobre todo o enlace de fita. Os brincos amontoados em uma caixinha disforme, perdidos todos eles em si mesmos. Os lenços e cachecóis ficam amarrados, juntos, conexos. Esperando que algum dia os resgate novamente. Os sapatos perdidos pelo quarto, uns que se ajustam, outros que falham, muitos que só vejo. No pratico, o brilhoso pecou por magnitude, pelos meus pés desacostumados.
E se me esqueci de alguma coisa? Ah se me esqueci de tudo que me adorna. Tudo se foi num bonito saltar, tudo que é meu voou até se tornar distância, até se tornar estranho, um estranho vinculo de tudo que me constroi.