segunda-feira, março 31

Baiana.

Baiana,
Não gosto de te ver assim,
não gosto de senti-la triste,
não gosto de ve-la esmaecer
sobre os dias, a fim...
Baiana,
Não gosto quando te escondes,
quando nos cantos te enraízas
quando esquece das flores
tua real e delicada beleza.
Baiana,
Não gosto de ve-la lacrimejar,
fingir não chorar,
mentir pra si mesma
tentar se enganar....
Baiana,
Só você poderá ajudar,
esse teu peito, esse teu amor
essa tua saudade inexistente
esse teu vazio incoerente.
Cura essa tua dor, no teu sorriso.
Sorriso só teu, Baiana amiga.

domingo, março 30

Meu irmão.

Ele, que não vejo a uns dias
e que saudade que me dá.
De sempre chegar a me fazer
um carinho, ou até mesmo pra discutir.. brigar.

Ele, que me é tão amado
que me ama e o amo sem cessar,
que ajuda, me acolhe.. e eu adoro.
Que me cantava pra dormir,
que me olhava de longe, cauteloso.

Ele, que nos meus dias não é mais
tão presente, mas que dele não há
quem faça, não há o que faça, tirar-lhe de mim.

Ele, o meu contrário de muitos pensamentos
o meu contrário de muitos sentimentos
de sonhos ou de conquistas.
Mas que me é fraterno, me é eterno..
me é um elo jamais rompido, jamais.

Sobre ela.

Ela, que conheci tão rápido.
Que me conheceu alegre,
que me percebeu, bem.

Ela que visitei por muitas,
que me fez sentir-me em casa
que me disse o que precisava
que conversei, indaguei.. perguntei.

Ela, que admiro tanto
que ouço sempre que posso
que digo que não tem preço,
mas falo, tamanho é o apreço que tenho.

Ela, que visitei a casa
e que visitou a minha,
que fala manso e abraça saudosa
que se desprende de tudo
mas não dos que ama.

Ela, que foi.. que é que sempre,
terá essa outra ela, pra quando
precisar.

Placa

Derrpente cai em mim, não pensei do modo que hoje existiu
de todos esses cantos por onde vivi, de todo esse espaço que me consolou.
Cada dobradiça que me via sair e entrar, cada janela que me debrucei, cada
plantinha que me fez sorrir.. e o azulejo, que tanto deitei.
Ela mudou tanto e eu também, mudamos juntas pelos anos a finco de dores
e felicidade. Agora quem sabe uma separação, um adeus cheio de saudade.
Dela que foi sempre minha e eu sempre fui parte dela, nós que fomos uma
da outra, por tantos anos. Onde aprendi a andar, aprendi a falar, aprendi a amar.
Aprendi que o adeus é necessário, mas que da vida, haverá sempre a lembrança
do que tanto nos fez parte, ou do que fizemos.. obviamente.

sábado, março 29

Mundo cronologicamente ditado.

Lá vou eu novamente, atravesso a rua apressada
o carro quase me pega, mas o que me pegou mesmo..
foi aquele bendito meio fio. Me arrancou um pedaço,
sem mais nem menos. Manquei mas uns metros, pedi
ajuda com os olhos e todos me olhavam de volta, mas
onde estava o socorro?
Santa burrice, que falta de sorte, sempre acontece
comigo.. Indaguei, enquanto contorcia o rosto de dor.
Então, me arrastei, alguns metros até chegar lá.
Chegando, todos me perguntavam, todos me faziam
cuidados. Santo Deus, Ainda bem!!! O que me sobrou,
latejava incessantemente.. quase escorreu dor dos meus
olhos. Quase. Mas dor, era de ver o que se foi e o restante,
realmente. Essas coisas só acontecem comigo... Santa burrice.
E ao bater o meu ponto no trabalho, bati primeiro um ponto
no dedo.. e me disse com um tom sarcástico; bem vinda ao
mundo cronologicamente ditado pelos curativos.

Rotina.

Depressa!
Lá vem o ônibus,
fone nos ouvidos
andar frenético
olhos se fechando
aonde está meu remédio?

Vai logo!
Senta no chão pra pensar,
corre pra ir pro almoço, vai almoçar!
Atravessa a passarela, olha pro sinal
corre pela rua, pelo passeio..
Olhos perdidos, vamos lá.

Rápido!
Chega logo na estação
pega o mini ou o busão
espera na fila pra sentar
eles passam na frente e você vai se calar?

Vaaaaaaamo!
Corre pra casa menina,
pega as chaves antes de descer..
abre o portão rápido, fala com ela
lava, come e escreve, dorme pouco
sonha demais? Tolice...
Amanhã começa tudo de novo.

sexta-feira, março 28

Teu.

Só o teu cheiro,
só a tua boca,
só a tua face na minha
seria-me respirar em paz.

Só teu abraço,
só teu carinho,
só o teu andar ao meu lado
só o teu jeito de atravessar meu caminho..

Só teu jeito de falar,
Só teus olhos nos meus,
Só teu dormir engraçado,
só teu papel de bobo
só teu cheiro tão amado.

Só teu escorrer de suor,
só teu medo de ser só
só teu jeito cativante
só teu coração, imenso.

Só teu saudoso jeito de dizer,
só teu poder de me fazer tremer
só teu prazer de fazer prazer
só teu modo, de tentar esconder.

Só teu corpo, tua alma e teu ser
só teu eu e o meu, nó sem temer.
Só teu sorriso que me faz sorrir
só teu dançar esquisito,
só teu jeito... que me faz querer.

Esse teu amor,
esse teu calor,
esse teu eu, tão meu..
esse coração, meu coração.. tão teu.

Beba Cicuta, sempre.

Lá me vem ele,
com esses olhos de criança.
Com essa bochecha que ri sozinha.
Com esse abraço carinhoso
e com essas palavras.. seja de amor,
de dor ou de consolo.

Lá vem ele, com aquele cigarro nos lábios
com um papel uma caneta e uma ideia,
de dialogo de triste e tristeza de choro e de vela.
De diabos de poesias, de poemas e quem sabe até novelas.

Lá vem ele, com esse ar de psicólogo
com esse andar despreocupado
com esse mundo de inteligência, com
essa dor que tanto lhe funde a cabeça...

Lá vem ele, com essa vontade de me dizer
com vontade de me contar, como foi e como vai ser.
Como se sente, o que lhe traz dor e prazer.
Divide comigo tudo que pode, por querer.

Lá vem ele,que se diz poeta da tristeza,
mas triste não é.. se por assim dizer..
É um sensível amigo, robusto rapaz,
imenso ser humano, bonito, risonho e
apaixonado pelos seus grandes amores.
A vida, o futebol e alguns poucos romances..

Lá vem ele, ao me surpreender novamente
ao me trazer um bilhete, uma carta, um rabisco..
a me fazer desmoronar por dentro, a carinho lhe remeter
a lhe agradecer com um abraço e com as palavras nada lhe dizer.



"Que as margaridas continuem lindas,
quando o inverno chegar e a Primavera se for."

A Primavera nunca irá de ti, meu bom amigo.

Maybe.

Talvez, tudo que me fosse palpável
seria finito aos meus olhos.
Talvez o que me fosse eficaz,
não seria o limite que o meu peito procura.
Talvez, se fosse-me mais fácil
não teria tanta vontade, verdade!
Talvez se descobrisse a chave,
não teria olhado pelo buraco da fechadura.
Talvez se ao menos tivesse tentado,
não teria agora tantas, imensas dúvidas.
Ou talvez quem sabe, se não tivesse vontade..
nada disso seria-me fato, acredite.

Ao longo.

Me perdi nas nuvens, após subir tão alto. Ao longo toda aquela cidade, rodeada por águas. Águas dessa ilha tão bonita de se ver, dessa ilha que tanto amo.
Subi com tanta vontade, que nem ao menos lembrei-me de como sequer iria descer...
Só desprendi meus pés do chão e fui ver lá de cima o que ninguém vê. O céu ao longe, se confundia com o mar e eu, me confundia ao delirar. Tento recobrar-me e falho... falho feio.
Lá de cima, meus braços podem se abrir sem cautela alguma, meus olhos podem brilhar sem medo e meu rosto pode sentir o vento a me envolver... Poderia ficar pra sempre por lá... e se despencasse, olharia do chão o céu de algodão, que torna meus braços tão saudosos.

Rascunhos.

Lhe escrevi tantos rascunhos,
dos quais ainda na bolsa guardei,
as vezes por puro esquecimento.
Daquilo tudo.. que por ti sempre guardei.

Eu sequer sabia o quanto tinha escrito,
sobre o esconderijo da carteira minha voz se fez
minha voz escrita, descrito meu amor
minha paixão e logo depois, meu adeus?

Rascunhos de um novo mundo,
mundo que se fez dentro de mim
li e sorri de canto de boca, calada
por dentro, nem tão calada assim.

Lá eram mundos e fundos,
eiras e beiras, sentimento profundo.
Naquelas depressões que se fazem
ao lado das grandes montanhas.

Era você o meu riozinho,
que descia dentre as nuvens,
era você, aliás... sobre você
todas aquelas palavras que despencavam dos céus.

O papel terminou e as palavras ?
Não sei por onde o fim se deu,
se é que realmente teve um fim.
Sei que te escrevi, me descrevi enfim.

Esses meus rascunhos, sempre.
Sempre que os acho, me encontro um pouco.
Acho que meu outro eu faz de propósito
para lembrar-me do que me faz feliz.

Queria escrever rascunhos a vida inteira,
não ter compromisso em acertar ou agradar,
só amar simplesmente, por escrever.. descrever.
Trilhar meus rumos em um belo rascunho.
Rascunho dessa minha vida, que só quer tentar.

Sobre eles.

Eles, ali juntos.
Não tão juntos
não tão separados.
Ela mulher, sorridente
ele pingo, pingo de gente.
Gente? Cachorrinho!
Pingo lhe apelidei...

Ela? Apesar do medo
de lhe tocar, enfim
não deixava de brincar
brincar junto a ele.
Um pedaço de plástico,
sobre seus pequenos olhos
ela o balançava, freneticamente.
Sobre seu focinho pequenino.

Ele? Rabinho a balançar,
corpinho a delirar..
coçava daqui e de lá
medo da outra que sorria a olhar.
Juntos? Naquele momento,
ela a sorrir e ele a saltitar.
Pulava baixinho, a cauda feliz
retrato do seu coraçãozinho, acelerado.

Era branquinho, pequenino
filhote, de uma avidez delicada.
Seguia o plástico com os olhos
duas gudes cor ônix.
Ela morena, cheia de livros
lhe dava ordens simples,
e ele obedecia, feliz.
Uma embalagem lhes fez elo
que ninguém sequer poderia separar.

Aos olhos preconceituosos ao longo,
ou aos de outros ao encantamento.
Era lindo de se ver, sorria de contente.
Ao ver aquele rabinho que dizia tudo,
e o sorriso ao longo do gracioso pingo.
Quando um plástico fora a ligação de
mundos tão distintos, sobre ela e ele.
Sobre eles, naquele determinado momento.

quarta-feira, março 26

Não te querer por querer.

Não te querer por querer,
é bem simples assim,
te quero, e muito bem.
E bem pertinho de mim.

Mas te quero de jeito,
de forma e conteúdo
mas não te quero pra mim
Te quero por perto, abraçado
enfim, te quero, desse jeito assim.

Se te quero, te preciso.
Mas não te quero por querer,
te quero pois de mim és pedaço,
e eu pedaço de ti.

Te quero do mais bem querer,
se querer é tão bom quanto te quero
e te quero, enfim, por ser o meu
bem, meu único e insubstituível,
por tanto querer-te perto, assim.

terça-feira, março 25

O monólogo de Ulisses - Um ensaio sobre a solidão.

Agora aqui, nem mais nem menos, apenas distante de mim novamente.
Me perdi tanto em ti, nas tuas profundas e calmas águas, que antes me eram refúgio, por tantas, nesses mares turbulentos por onde naveguei. Até esqueci de ancorar-me em teus braços, enfim, te perdi. Perdi.
Você era meu destino, era meu presente, meu palpável... Era-me tudo, de fato. Depois que viraste areia, nas margens de tua boca fiquei apenas. Ás margens do seu nome, no subúrbio dos teus olhares e na periferia de teus beijos... longe, tão longe. Ancorei aqui, nessa ilha de solidão. Redigi cada vez mais meus atos, sobre mim e você, sobre nós enfim... Já recordei, de tanto que passara... desse teu jeito de me fazer, como só você sabe. Como era mesmo? Assim prossigo tão infame.. Aos poucos tenho medo de esquecer-te, de perder esse teu nome sobre os ventos, de esquecer o som da tua alma a me tocar. Delírio sobre essa ilha, chamada solidão. Apenas me tenho uma certeza nas mãos, apesar de incerto, incoerente por muitas. E seria, o medo de esquecer-te, e sim seria, a pior perda que teria de ti, apesar de toda essa tua enorme ausência. Acho que esquecer meu soletrar de tuas lindas vogais e tamanhas consoantes, que me eram tão grudadas ao gosto, esse teu véu de delicadeza e essa teu florescer nas mãos.. Esse teu florescer... Acho que esquecer de como você se mexia, seria como arrancar-me um pedaço, seria sim Ulisses, seria...
Um outro gole? Oh sim, mais um pouco por favor. Preciso beber dessa tua lembrança e afogar-me no que ainda de ti me sobra a mente, já que, foras com ele para outro lugar, tão longe de mim. Ele que me era, me era? Me é tão injusto, me fez uma fenda a tua presença, roubou-a de mim sem um gole de arrependimento. Levou-a nos braços sob meus olhos, sem que ao menos eu pudesse realmente ver.. Ulisses, você perdeu novamente. Perdeu, a perdeu.
Roubou de mim, esse maldito, maldito Tempo. Esse Tempo que me roubara você, meu único resquício, minha única esperança... mas ainda posso sonhar contigo? Será? Se escrevo na areia teu nome, as águas levam devagar, quem sabe você que se põe em mãos a levar resquícios teus... suas mãos que vão e vem nessa beira.
Mas me parece que você foi por conta, conta própria? Ou por conta dele? Ele!!! Ele... Foi com ele pra me fazer infeliz? Se ele pode te dar a eternidade, eu posso, também.. minha infinita forma de amar-te, por tanto que me amara, te amei em dobro. Lhe peço, lhe rogo, deixe-me escrever teu nome novamente na areia, longe das águas, mas não de ti. E quem sabe assim, esquece dessa tal eternidade, e vens à mim... teu Ulisses. Vem a mim Felicidade, antes que esqueça esse teu nome e me afogue em outras águas, ou me perca, quem sabe? Nessa ilha tão deserta...


segunda-feira, março 24

Helena.

Ao meu ver, ela estava tão triste..
Fumou um cigarro de pura ansiedade,
comeu por pura gula, abraçou o
travesseiro por pura desistência.
Desistiu.
Até mesmo quando tudo lhe dizia o
contrário, quando seu coração batia
forte ao telefone, quando uma tela lhe
fazia sorrir e uma carta chorar..
Agora longe de tudo isso, só se põe
e calar.Anda sozinha e desanimada,
sem mais porque nem pra que, sabe-se lá..
Rasteja pelos corredores, sorri sem
emoção, fala por pura educação.
Abraça apertado, contra o colchão.
Pra que alguém acuda.. contorce os
lábios por pura chateação.. sente-se infeliz
por controvérsia desse teu tão reservado,
calado,teimoso e incompreensível coração.

Não me perdi.

Não me perdi nesse teu sorriso
nem um pouco nesse teu olhar
não me perdi nas tuas palavras
nem nesse teu debruçar..

Não me perdi nessas tuas mãos
não me perdi nesse teu carinho
nem nos teus braços me perdi,
a ti sempre, sempre fui alheio.

Não me perdi no dedilhar de tuas
canções, nem nesse teu véu de sabedoria
não me perdi nesse teu amor, nem
nas tuas velhas e boas maneiras.

Não me perdi nesse teu ar de pintor
nem nos seus velhos amigos,
não me perdi nesse teu belo rosto
pouco menos nessa tua cara de bobão.

Não me perdi nesse teu andar calmo
nem nas suas coisas pelo chão
não me perdi nesse teu eterno mistério
não me perdi em ti jamais, então.

domingo, março 23

Nuvens.

Existem dois tipos de nuvens, as que parecem se manter imóveis
e as que estão em movimento contínuo, mais acelerado que a primeira.
A que se mantém mais agrupada, ao meu ver se mantém mais alta se
mantém mais calma, mas não deixa de passear devagar sobre os céus.
A segunda, dispersa.. passa sobre nossas cabeças com pressa, sem dizer
Olá nem Adeus, só passeia sobre o azul rapidamente.
As duas vêem tudo aqui em baixo, uma delas lhe é mais lenta, demora de
mudar de um lugar ao outro, vê tudo com uma paciência remota, e passeia
de leve sobre o mundo. A outra deseja mudar, constantemente ver o frenesi
do mundo, as cores que se formam nos céus, tão iguais.. e tão diferentes. Correm
apressadas e vão a outros olhares visitar, olhares que as vezes não as alcançam.
Nuvens rápidas, outrora lentas, essas ou aquelas, nuvens do céu.

Janela pro quintal.

Subi até onde pude, meus pés de mansinho contemplavam os degraus. Sozinha agora, não tão só quanto lá em baixo.. apesar de tanto querer estar.
Assim que nas alturas me vi, na janela me debrucei, ao encantar-me com o céu, não despido e não tão cinza como ao dia se fez.. apenas um debulhar de gotículas lá em cima, nas vastas nuvens. Os espaços entre uma e outra, eram fendas para o infinito, que me faziam querer-me cada vez mais, em toda essa inquietude que sempre me encontro. Apesar dessa translação de pensamentos, calei-me a boca e o pensar demais.. contemplei a minha volta, a baixo meu quintal e a cima o meu outro quintal, tão celeste.
Roguei a uma estrela, que de mim faria um novo eu, sempre peço-a ajuda... quase constante. Ela me respondeu da mesma forma de sempre, continuou a brilhar quietinha, minúscula e longe, tão longe de mim. As vezes as respostas são mais descritivas no silêncio e na solidão.
Quando as fendas se tornaram enormes, lá em baixo vi uma piscina de luz. Luz da lua que se fazia em meio aos dois telhados, posto que eu estaria em baixo de um, na minha querida janela, minha janela ao infinito. E se fez tão clara, minha piscina de esperança sobre a noite úmida e não tão estrelada, noite de minha eterna reflexão.
Depois de balbuciar algumas palavras ao vento e assim esquecer-me de todo o resto, lá em baixo não mais a minha piscina e nem acima a lua se mostrara, somente as nuvens foram e são, a esconder-me aquela que tanto por mim olha. As nuvens, que fizeram do céu azul um lamento cinzento, me mostraram a escuridão e a hora enfim, de finalmente descer para o meu não tão solitário espaço. Minha infinita vida de solidão, não tão só quanto imagino.

sábado, março 22

Enfim.

Não, é a sua certeza simples.
Do que outrora lhe era em mãos
a sua amostra de uma vida feliz.
Recortou todos os pedacinhos
e lhe fez retalhos junto a um novo
pano, chamado planos opostos.
Os reuniu de forma tão delicada,
de merecidos pedaços da vida e assim
costurou o pano colorido.. e junto
a ele, colocou pedaços cinzentos.
Lacunas que o tempo a reservou.
Passados, o azul, o amarelo, o verde
o vermelho e o laranja se foram.
Só restou o cinza, através do ecoar dos
ponteiros, que se fez único e piedoso
sobre tudo. Tudo aquilo, que das mãos
lhe fora, que das mãos não se tornam toque,
mas a linha da vida que agora enxergara
quando o vazio das mãos se fez perpetuo.

Essa tua luz

Talvez não ver-te reluzir por vezes,
escondida atrás da tua sombra.
Talvez, não senti-la como antes,
que me envolvera todo o ser.
Talvez essa tua luz, que reluzia-me
olhos, corpo e mãos..

Essa tua luz, teimosa a tilintar
nesse teu olhar delicado, nessa
tua pele alva, pele fresca.. pele tão única.
Essa tua luz nas mãos, que me faz algoz
de não te-las.. junto as minhas.
Essa tua luz na mente, que me reflete
faíscas de pensamentos escondidos..
de florescer os brotos da minha essência.

Essa tua luz corporal, que me invade
ao amanhecer... antes a noite, onde me
fizera resplandecer junto a ti.
Essa tua luz, antes percebida em não
tão grande intensidade, vestígio da certeira
paz que encontraria nessa tua mão, tão
amada pelo meu ser, essa tua luz..
Essa tua luz que não prendes somente a ti...
E me fizera renascer, em tua luz enfim.


Amar quem não se ama.
(Um pequeno recado, relevante)

Amar quem não se ama, é como ganhar
na mega sena e não poder aproveitar.
É como estar do lado de alguém legal
e nem ao menos conseguir dela gostar.
É como comprar um cavalo de raça,
e não ter pasto aonde o colocar.
É como subir uma montanha
e lá de cima o céu azul não avistar.
É como ter um molho de chaves
e não ter uma fechadura de um lar.
É como fingir que ama,
e simplesmente não conseguir amar.

Versinho.

Teu beijo estalado, me trouxe timidez
Teu beijo ardente, me trouxe calidez
E esse teu beijo carinhoso?
Esse sim, me fez amar-te de uma vez.

Flores no campo.

Flores no campo não se misturam,
elas só se espalham sobre o verde.
Não as consiste verde, mas azul e amarelo.

Flores do campo não lamentam,
dançam sobre o véu da brisa que lhes abraça
seu cálice púrpura toma a curiosidade de insetos
mas és tão segura de si, que nem lhes condiz.

Flores do campo não falam,
lhes dizem com as pétalas suaves
com o aroma que entorpece
com suas folhas pequenas, lanceoladas.

As flores do campo não cedem, se mantém
esguias, fortes e intocáveis. Orgulhosas.
Até que alguém que não lhes convém do campo,
as retira com a mão, corpo, fineza e orgulho.

Vieste do mar.

Quando vieste do mar amor,
fiz tua comida favorita, enfeitei nosso lar.
Arrumei meu cabelo como gostas
coloquei aquele meu perfume,
me vesti para amar-te marinheiro.

Quando vieste do mar, amor meu..
Senti um frio na barriga, antes de
deitar no colo teu. Abracei teu ser.
Recobrei todo meu amor, que vivera
só de lembrança e saudade tua.

Quando vieste, do mar enfim..
Trouxe-me a paz ao peito,
trouxe-me teu carinho imenso
me trouxe novamente teu amor
e esse teu adeus, eminente.

sexta-feira, março 21

Eu queria ser.

Eu queria ser esse teu boné, pra ficar
grudada na tua cabeça todos os dias.
Queria ser esse teu óculos, para em seu
rosto poder me encostar, te envolver a cabeça...
Queria ser essa tua tatuagem, pra ser eterna
na sua pele, na sua lembrança.
Queria ser essa tua bermuda, pra flutuar ao
andar contigo, ser parte do que vejo em ti
pra quem sabe assim, ter você aqui comigo.

Where's my sunshine?

Onde está, por favor?
Sempre me procuro nas ruas, na tv ou pelos mundos e fundos que canso de ver ao dia. Nas caras, nas palavras e nos obstáculos, será enfim a busca incessante de cada um?
Hoje remeti os meus velhos sentimentos de criança, ainda vivos e como. Senti-me livre para desperdiçar meu tempo, para falar bobagens, ficar de pijama, laços no cabelo e loucura nos quadris, dançantes.
Coloquei o som bem alto, pulei entre os azulejos grandes... cada um se fez um espaço, para que meus pés (juntos) pudessem tocar o espaço interno quando pulava, lembrei rápido das amarelinhas e os bambolês nas gincanas do colégio, se mantinham no chão e nós tínhamos de pular de um ao outro, rápido!
Bem, a música? Bem dançante eu diria, não mais do que meu corpo.. engraçado, Ninoca sempre me acompanha, ela gosta... corre comigo e dança no chão com seu pelo esvoaçante e seu rabinho minúsculo que incessantemente balança. A salão se fez pequeno pra nós, enquanto a pego do chão e no colo aponho seguro sua patinha e danço com ela, não sei se pensa que sou louca, mas ela adora. Depois a solto no chão, corre feito uma doida.
A chuva lá fora se fez maior, grossa e impiedosa, adoro. A casa fica úmida e o ar delicioso, uma aroma que me lembra meus avós. Minha mãe estava estudando, parou um pouco e veio até a sala, eu sentada na cadeira mexendo as pernas e os ombros, ela me olha, me vê e sorri. Passo-lhe a perna sobre as costas da cadeira e logo viro de frente a ela, que fica impressionada. Levanto rápido e ela faz uma dancinha junto a mim... depois sai correndo, vou atrás e a agarro, aperto sua barriga e ela morre de rir. Engraçadas essas coisas, sempre acontecem. Corremos, deitamos no chão gelado e ficamos, a falar besteiras e colocar a Ninoca na barriga e ela dorme, claro. Fora as dancinhas, como ditas antes, sempre inesperadas, de tango, rock'n roll à salsa.
Chuva e feriado é uma delícia, pra quando se sabe aproveitar. Meus olhos sempre atentos a um filme, ou meus ouvidos a uma música, um pedaço de chocolate a minha boca e enfim, esse é meu êxtase, tão simples.
Meu irmão foi trabalhar, mas é tão louco quanto nós. Talvez a responsabilidade bateu a porta dele cedo demais e o fez tão homem quanto é, eu diria. E como o admiro, pela sua frieza não tão fria e pelo seu coração caloroso e gentil, apesar dessa casquinha ruiva.
A varanda se fez molhada, meus pés fazem lama a porta da garagem, saio sujando tudo... mas depois volto e limpo. Parece que as plantas vibram quando essa chuva se apresenta, depois só as gotículas em suas folhas fazem festa e deixam aquele aroma no ar, tão gostoso. Engraçado, depois daquela chuvarada o céu se despiu de azul em lacunas tão grandes e generosas. O cinza aos poucos se desprende e vai embora pra onde veio, ou vai enfim, aonde nunca foi.
Os sinos anunciam o sorvete, loucura? Nada, delícia. Corri daqui, parei de escrever imediatamente, peguei umas moedas no bolso do short de ontem e fui, correndo à porta, como criança atrás de doce -eu!- haha.
Nina claro, corre atrás de mim. Consegue ser mais curiosa do que eu poderia na vida quem sabe ser. Pego ela no colo e abro a porta feliz, e ele estava lá! Mas, não era sorvete! hunf... era picolé!!! Gosto de picolé, apesar de me sujar toda. Gritei na garagem que tem duas janelinhas pra cozinha, onde minha mãe voltara a estudar na mesa de jantar. Mangaba,Amendoim,Cajá,Açai ?????? E ela de longe responde, Cajá!!!! O velho homem empurrando aquele negocinho que não sei o nome, não me pareceu nada molhado, talvez, se escondera pelos telhadinhos dos portões das outras casas. Algumas tantas moedas lhe joguei as mãos, ele me perguntou quanto queria, eu lhe disse o que desse. Quando escuto lá de cima meu pai me chamar, Jammmme, amendoimmmm!!, Ohhh ok, disse. Desce um amendoim ai meu tio!
Então me veio, dois de Amendoim, um de Mangaba, outro de Açai e o de Cajá. Enchi a mão e os olhos, uma das mãos claro, na outra carregava Ninoca, que cheirava de longe o picolé. Só de longe. Me despedi e agradeci, fechei o portão, a soltei no chão e fui pra cozinha. Meu pai logo desceu, e minha mãe esperava junto a mesa. Deixei o Cajá ao seu lado, peguei o de Mangaba e entreguei nas mãos, o Amendoim. Faltou alguém que me olhava lá de baixo, e lhe disse não, com um sorriso na boca, ela entendeu claro.
Há sol aqui o ano inteiro, essa terra ensolarada é propícia ao sorvete... picolé.. mousse.. hmm. Bem como nos dias chuvosos, legal ir na rua feito uma maluca com uma calça cinza de dormir e uma blusa velha, um rabo de cavalo com um imenso laço preto ao segurar, algumas moedas nas mãos e uma cara de quem acabou de acordar. O sol me é saudade até quando é noite, não só o teu calor mas tua luz, porém, fico feliz o bastante quando chove.. aproveito essas peraltices em casa e tomo picolé de mangaba. Hmm..

quinta-feira, março 20

Essa tua cara, menina.

Essa sua cara, já diz tudo.
Esse teu ar de que não quer
esse teu jeito de que não precisa.
Esse teu andar desmedido, essa
tua certeza no falar. Tá estampado
na tua cara, você não precisa de
amor, você não precisa de amar.

Muitos nem chegam, nem falam
você nem espaço dá, mesmo com
esse teu jeito sorridente essa tua
luz estridente, não há quem consiga
te dizer enfim. Cuida da sua vida
como nunca, corre o tempo todo,
corre de todo mundo.

Apesar de saber o que sente e como
sente a falta, falta do amor esse teu
jeito é que mata, qualquer um que
se aproxime, que sente esse teu ar
de independente, essa tua cara de
pouco achar, pouco ligar para o que,
o que os outros vão pensar...
E sabes que vive, nesse eterno embate.
Dessa tua cara que diz muita coisa, essa
tua, cara de desprender-se do amor.
Mas que vive em eterno embate, pra
quem sabe assim ter um pouco.. pouquinho de calor.

Observação.

Eu aqui, agora, parada com a testa sobre o vidro.. olhando o mundo lá fora. A chuva cai tímida, depois de ter tanto castigado as ruas. Talvez ser o aclamar de uns e o retorcer do nariz de outros, ela simplesmente me fascina sua fineza e delicada forma de se apresentar me produz o mais puro encantamento. Como devagar e vejo a rua se mover, eles vão e vem... se cruzam se laçam e talvez, se encontrem, quem sabe. Nem percebem a chuva, a não ser que ela as molhe.. ela as impeça de andar pelas ruas livres de todo aquele aguaceiro.
E ela ao cair se torna córrego, ao lado do meio fio... o asfalto brilha e me parece plástico, de longe tudo é inesperado, como sempre. Segui a comer, terminei logo minha refeição. Assim como terminei essa minha... louca, sincera e irreversível observação.

Livro velho, homem novo.

Segurou no alto das mãos um livro, trouxe ao rosto
as velhas folhas amareladas, apertava os olhos
para conseguir ler. Falava palavras bem baixinho,
seus lábios soletravam e até mesmo conseguia os ler.
Senti que tinha dificuldade apesar de se mostrar tão
concentrado, as rugas se faziam aparentes quando
os olhos se tornavam apertados. Era um velho homem,
de roupas simples, um molho de chaves do pescoço,
sandália de dedo e uma calça amarrotada.. tentando
virar um novo homem, com aquelas tão queridas palavras.

quarta-feira, março 19

Ela prometeu.

Quando houver de ser,
enfim serei, se for de ser.
Serei aquela que sonhas,
que dizes baixinho... arranca
pétalas para saber se sim
ou não? Apenas duas palavrinhas..
Quando eu tiver certeza
de você, tiver certeza de nós
e finalmente, certeza de mim.
Serei tua por completo, confie em mim.
Não vai te arrepender...
Quando você for o meu amigo,
quando você for o meu amor,
for meu amante, meu marido,
meu encanador... quando for
meu parceiro, meu príncipe
meu salvador, quando for.. meu
herói, colega encantador.
Quando for meu... e eu.. serei sua, enfim.

Meretriz!

Maldita meretriz,
roubou-me o marido
roubou-me um lar
destruiu minha família
fez meu amor acabar.

Maldita meretriz,
o enfeitiçou demais
fez tudo e um pouco mais
roubou-me noites de sono, paz.

Maldita meretriz,
teu perfume me fez odiar
teu nome me fez calar
todo amor por aquele
traste, só apenas recordar.

Maldita meretriz,
como pude pensar assim?
Maldita tanto és tu, enfim?
Se ele que era meu marido
meu tão querido amado querubim.

Maldita meretriz,
será que deverás me enganei?
você foi apenas o estopim
daquilo que ele tentava
esconder de mim...

Bendita meretriz!!!
Hoje tanto lhe agradeço,
fique com esse traste..
não aceito devoluções..
Só você pra me abrir os olhos..
nessa eira e beira de ilusões.
De um marido que não presta,
vida ilusória, casamento mentiroso
quando ele trai e ainda sai orgulhoso..
eu não preciso perder meu tempo
com esse fingido marido carinhoso.

Olheira

Cheguei atrasada novamente, corri pra faculdade, corro o tempo todo, quem me vê bem sabe. Um chocolate, um capuccino pense na felicidade? Estudar que é bom.. só fica na saudade.
Conversas e sorrisos, aquele miudinho de vaidade, por todos os corredores eu lanço meus olhos curiosos por toda a parte. Depois do estudioso tempo, o trampo me espera, antes dele ônibus, peso e barulheira. Lá me é um pouco mais calmo, sento, digito e pergunto. Como é que faz aquilo mesmo ? Depois de oito horas, de lá saio correndo, pro ponto de ônibus..
mas não adianta muito, o horário é de caos... mas a esperança de chegar em casa cedo me cutuca.
No ponto vejo tudo quanto é tipo de gente, do executivo ao baleiro.. da mulher bonita ao pedreiro, da menina baixinha e invocada a moça bonita vestida de terninho.
E como me apertam esses sapatos, as vezes penso em joga-los longe.. por muitas, penso.
Pego o bendito novamente, nem sento, não mesmo. Fico uma hora e alguns minutos nele, provavelmente uns quarenta minutos em pé, caindo de sono, caindo de fome... uff!
Quando chego, sabe-se lá porque.. sempre me sento no computador. Maldito sedutor, me chama pra escrever, pra falar, pra mandar um alô.. sabe? É um apelo que ele faz, me der por perto é sempre sentir-se útil, e quando vejo? Ahhhh quando eu vejo, já é tarde, bem tarde. Vou com essa cara de múmia dormir, lá pelas tantas da madruga.
E acordo com aquela bendita olheira que me faz chegar atrasada... novamente.

terça-feira, março 18

Onde?

Onde está o bom dia, o boa tarde e o boa noite?
Onde estão as maneiras, as boas maneiras e os velhos costumes?
Onde está a cordialidade, a ternura e a fidelidade?
Onde está o com licença o obrigado e o por favor?
Onde está o você primeiro, o me perdoe e o vamos conversar?
Onde está o sorriso na cara, o abraço amigo e a palavra que não quer calar?

Onde está o tudo bem, o tudo bom e um pouco de humor?
Onde está o rosto amigável, a mão que se estende e a piada de bom valor?
Onde está o riso estridente, a cara de valente e o piscar esbanjador?
Onde está a simpatia, a humildade e aquele friozinho na barriga pelo amor?
Onde estão os amigos queridos, a espontaneidade e a boa e velha sinceridade?

Onde está o riso em demasia, o andar de mãos dadas e o ceder um pouco mais?
Onde está o levantar-se por bondade, fazer uma caridade e o cantar no elevador?
Onde está o grito de liberdade, a confiança sem vaidade e o amor sem dor?
Onde está o cantar pela cidade, o amar sem responsabilidade e certeza do novo amor?
Onde estão as crianças correndo, o rapaz tremendo e a menina ao ganhar uma flor?
Onde está a família feliz, o cata vento a girar e o cachorro que corre sem parar?
Onde está a bandeira estendida, a velha cidade querida e a saudade daquele mar?
Onde estão as pessoas felizes, os casais que vão se casar as latas no chão a tilintar?

Onde está o profissional satisfeito o consumidor respeitado e a carta de amor?
Onde está o andar descalço, o tomar chuva e o amar sem sentir dor?
Onde está o respeitar dos mais velhos, a cantada sem critérios e a amizade sem mistérios?
Onde está a compreensão, o vaso de flor regado no chão e a voz da paixão?
Onde está a paz no mundo, o cuidar da natureza e o agir sem rancor?
Onde está a vida tranquila, o usar de chapéus e o abrir dar portas?
Onde estão os casais apaixonados os amigos embebedados e o conto enfim, contado?
Onde está o rapaz que se apaixona, a menina que diz que o ama e o casamento por amor?

Onde estão as roupas mais simples, a cara de sono e o disco do vovô?
Onde está a música antiga, a comida preferida e o gostar sem sentir vergonha?
Onde está o se redimir por errar, o perguntar e não se calar e o esforço por tentar?
Onde está a vida que nasce do chão, as vidas que brotam dele e as palavras do ancião?
Onde estão os livros que são lidos, os poemas aclamados e a poesia recitada?
Onde está a prosa que encanta, o conto que seduz e o escrever sem temer?
Onde estão os bons governantes, as pessoas conscientes e o brigar por causas reais?
Onde está o não ao etnocentrismo, o não a xenofobia e o não ao racismo?

Onde está o médico que ama, o jornalista que depura e o publicitário que não faz juras?
Onde está a vida descrita em versos, o esquecer de todo o resto e ver o sol se por?
Onde está a vontade de ser feliz, a voz que no peito te diz..
vá amar e seja, simplesmente feliz.
Onde está aquele que confia, aquele que é confiável e o sentimento valorizado?
Onde estão aqueles que se perguntam, aqueles que se questionam se tudo é real ou só ilusão?
Onde está a compreensão, o reconhecimento e o amar que vem de dentro?

Onde está o aluno interessado, o professor bem pago e o estudo prazeroso?
Onde está o dinheiro no fim do mês, aquele que vira freguês e
o bom e velho uso do português?
Onde está, pelo amor de Deus... o acreditar em alguma coisa, a vontade de
seguir em frente e o dar a mão a aquele amigo inconsequente?
Onde está o sentir-se saudoso, o pai amoroso e o aluno curioso?
Onde estão os novos filósofos, os novos presidentes e a palavra que valia tanto?
Onde está o chorar por felicidade, o sorrir de verdade e o gostar com sinceridade?
Onde está o gostar de si mesmo, o reclamar seus direitos e o conhecer sem preconceito?

Onde está a pura realidade, o telefonema de saudade e festa surpresa?
Onde está o pássaro que voa, a música que ecoa e o verde que lhe encanta?
Onde estão os planos pro futuro, o não se manter em cima do muro
e aquele que não diz eu juro?
Onde está o relacionamento que dá certo, o conceber o incerto e o crer que vai dar certo?
Onde estão os olhares delicados, os jantares não calados e os bons conselhos dados?
Onde está o senti-se feliz só, o sentir-se triste só e o sentir-se cada vez melhor?
Onde está a vida descrita em versos, o esquecer de todo o resto e ver o sol se por?
Onde estão os quadros pintados, os cavalos alados e o os amores não rejeitados?

Por fim, onde estão todas essas coisas que pra mim tem tanto valor?
Até mesmo escrever por tantas vezes, por tantas frases..
tudo que no peito se torna único, não vacila.. não solta minha mão.
Todos esses sentimentos, pensamentos de tudo isso que se torna meu querer.
Talvez escondidos por ai.. por aqui ou por acolá...
Mas pelo meu.. pelo seu, pelo nosso querer.

Coisas que não me dizem.

Peguei o preço na vitrine
olhei o tamanho da cifra
voltei pro bolso vazio,
esqueci que não tenho nem um prato de comida.

Andei com os pés semi-nus,
meus sapatos as solas perderam,
foram-se junto com as verdinhas,
me deixaram, se venderam..

Como é que pode um troço desses?
Nem o cabelo consigo cortar,
essa minha cara de mendigo
que ouço todo mundo à reclamar..

Mas se tudo que ouvisse fosse-me
atingir, seria pior que um depressivo
maníaco a desconstruir...
Destruir minha pessoa, daqui pr'ali..

Sou louco, nada certo.. ando por ai
sem aviso prévio. Não me importo
mais com isso ou aquilo mais...
só ter um pão, água.. me satisfaz.
Um banho quem sabe? Meu rapaz...

Essa vida te dá e sobra,
mas quando lhe falta, tudo incomoda.
Sobra tempo, fome e solidão
falta pão, açúcar e o bendito sabão.

segunda-feira, março 17

Receita pra não te magoar.

300 gramas de carinho,
1 colher de atenção,
respeito a gosto,
bata tudo, não erre a mão.

Um pouco de sorriso,
1 tigela de sinceridade
misture bem com um pouco de humor.
Unte a forma sem vaidade.

Bote a mistura no forno
faça a cobertura de humildade
ponha pedacinhos de delicadeza
e outra camada de felicidade.

Tire a mistura do forno
espere um pouco e ponha a cobertura
fique de olho se não solou..
porque as vezes esquecemos de colocar ternura.

Coma enquanto estiver quente
divida com alguém que goste
aproveite cada segundo com ela
e não tenha medo de errar, aposte.

Chuva sobre a rua.

Redigi tanto meus passos aos teus naquela rua, que agora quando por ela passo nem meus pés mais me dizem coisa alguma, eles não me dizem para andar devagar à aproveitar tua companhia ou seguir em frente o mais rápido possível, para chegar ao seu encontro. Nada me dizem.
Por segundos resmunguei só, olhei o chão molhado, mas algo me fazia meramente não remoer mau humor, e era você. Você ali nos coqueiros, no céu que se mostrou aos poucos.. após a chuva que se fez, cessara quando naquela rua pisei. Era aquele céu, momentaneamente cinzento, que reclamava seu tom azul celeste e o tilintar das luzes amarelas, que cresciam sobre as nuvens... ao canto dos coqueiros que apontam ao meu destino. Era aquele horizonte brilhante, sob uma linha que me faz sentir infinita, me faz recobrar consciência e respirar, calmamente. Era meu horizonte de águas, de tantas águas... tantas.
Andei por onde sentira medo e descobri o tamanho do medo que sentira, meu medo por atravessa-la um dia sem estar junto a ti. Medo que se fez amigo, que se fez companheiro. Atravessei com um vazio constante, sob o verde que crescia aos poucos e o embalsamar de objetos jogados ao chão. A relva que me fazia,medo, tinha explicação.
Contei os segundos que por lá me angustiavam, fizeram-se quinze de agonia. Andei apressada, tímida e calada.. nem sequer olhei pra trás. As poças de água me fizeram demorar, mas ao meio fio me fiz apressada, então logo cheguei.
O portão correu, aquele barulhinho me era feliz. Sorri de canto de boca e atravessei a frente, subi as escadas e encontrei você, novamente. Você em fotos, palavras e objetos, você por todos os cantos da casa, sem sequer admirar-me. Você em pensamento bobo de ver-te, quando entrara, que surpresa seria, não saber se viesse... e abrir a porta com cuidado, você ali no canto da sala deitado, pensei por tantas vezes que esqueci de lembrar, tua ida.
À noite, fui-me embora. Passei novamente, agora calma sobre o que me fazia medo. Antes de passar, uma voz me dizia para não temer o infinito, não temer o desconhecido.. nem o inconstante. Guiei meus passos rápidos, mesmo que tremendo por dentro, mas dessa vez olhei pra trás e vi, o quanto de mim... é que eu realmente tinha medo.

Para te fazer feliz.

Para te fazer feliz,
aluguei a minha casa
vendi o meu carro..
cortei meu cabelo
larguei a bebida e o cigarro.

Entrei na academia
voltei pra faculdade,
trabalho bem menos
respiro só saudade.

Deixei minhas manias
comprei uma plantinha
abri mais as janelas
deixei o mau humor que me mantinha.

Limpei bem as unhas
comprei um celular
arrumei minha gravata
financiei o nosso lar.

Pra te fazer feliz,
me pus a conjugar
essa minha vida com a tua
o teu nome com o meu a falar.

E agora vejo que aquele que te amava,
lá não mais vai estar.
mudou o jeito, a cara e o endereço
tudo isso pra te agradar.

Esqueceu ser quem era,
e assim deixou de amar
por não ser o mesmo de antes
e agora infelizmente, contigo não querer se casar.

Possivelmente, impossível.

Eis que chegas assim, não me contas nada
nada me diz nos olhos... nada me vem a mente.
Conte-me o que é, estou curiosa sobre teus
segredos... Abre meu peito enfim, joga-me sobre
meus tão desacertados defeitos, dos quais não
me lembro, nem sei se fiz.
Meu maior erro.. possivelmente, impossível de descrer.

domingo, março 16

Víbora

Olhou-a da cabeça aos pés, fitou-lhe os olhos aos teus
mas nada lhe dissera. Roçou a língua sobre os dentes
e ateou palavras ao vento, como condiz sua mente.
Inveja a escorrer pelos cantos da boca, lhe faziam estremecer.
Sentou a sua frente, disse aos outros algo sobre teu jeito,
algo que não lhe pertencia. Só lhe cabiam preconceitos.
Força de uma chama infeliz, se fazia em brasa, encorpadas em
palavras cheias de desdém. Criatura rastejante e falsa, ergue
teus chocalhos e emite teu som ensurdecedor.. de maleficência
que se fez aguda, venenosa víbora de todos os dias, lança teu
rastro novamente sobre tua tão vasta mediocridade.

Visões - III

Corria sobre um quarto escuro, tantas vezes vi essa cena.
Corria sobre um quarto totalmente escuro, uma boa de luz me seguia.
Corria sem saber aonde ir, por todos os lados ela me acompanhava.
Me seguia por qualquer passo, nem sequer a driblava.
Se misturava em cores fortes, como um redemoinho de frustrações..
que tentavam me perseguir sobre a escura sala, me fazia correr sem destino...
por todos os lados seguia acompanhada, mas aquele, não era meu destino.
Corria sobre um quarto escuro, escuro que me falava... corra menina de
uma vez, siga pelo incerto e quem sabe assim, terá a sua vez.

sábado, março 15

Moon River

Vou refletir-me sob tuas águas, para que
nunca esqueças que sou parte de ti,
assim meu tão grandioso amor em ti chegará.
E mesmo que não me ames, ameno..
conseguirei ver todo amor que a ti preservei...
ao refletir para mim, todo amor que te dei.

sexta-feira, março 14

Visões - II

Há um aviso, na porta da frente.
Entre com cuidado, o assoalho é velho. Neles muitos já valsaram..
não deixe que esse passado se perca, só de pisar-lhes pés contínuos
da cidade. Entre com cuidado, pise de fininho, alguns ainda dormem
ao quarto ao lado e com certeza estão sonhando, sonhando baixinho...
Como assim? Entre, com cuidado... é bem vindo e será bem tratado,
mas só se houver um motivo do qual o faça levitar, subir e voar.
Se não for deste modo, lá fora ficará.

Visões - I

A quimera acordou. Soprou ventos sob teus olhos, e ofuscou-lhe
a paz, a paz dentro de ti... Não regressou ao antro de onde partira,
já que, fora cutucada, de vara.. vara curta. Ela despertou, para tua
vida para teu jeito, teu hábito tão medíocre... acordou, para teus
pensamentos, perdidos e jogados à sarjeta.
Cuidado, ela acordou..cuidado. Só isso me falou.

Doce crepúsculo.

Meus braços ao longo
de teus ombros.. teus
tão largos ombros.
Com todo cuidado, para
não perceberes.. para...
para não ver o quanto,
o quanto gosto... gosto...
desse tão doce crepúsculo.
Esse crepusculário aí..
aqui.. dentro, que nem
o inverno poderá concebe-lo
tão menos rosado, menos
cálido e muito, muito menos
admirado, por esses meus olhos,
tão meus... e de ver-te, tão seus...

Jurei.

Jurei não mais dizer-te uma palavra,
mas meus lábios são traidores eternos..
Jurei, pra mim.. que seria forte o suficiente.
Para me manter firme, intacta...
Jurei e cruzei os dedos, atrás do vestido..
para que ninguém visse que jurei, assim
jurei que não o amaria mais, tola.
A mais tola de todas...

Jurei com os dedos cruzados, menti sob
minha própria jura, pois quem jura mente..
mas quem mente, jura?
Jura que não vai mais embora, perguntei.
E jurei assim esquecer-te.. deixar-te a jura
de outra que pudesse ver-te.
Jurei, não jurar amar-te nunca mais, ou jurei
esquecer-te por ter jurado amores?
Já não sei...

Jurei não abraçar-te nunca mais.
Para que teus braços não me prendessem
sob teu inebriante calor, esse teu, jeito
jeito que me envolve, martírio das minhas juras.
Para manter-me firme, jurei novamente.
Até vela ascendi, rezei.. roguei pela minha paz.
Jurei, por todas as vezes que por ti me perdi
que em ti me perdi, mergulhei com tamanha
intensidade que nem vi, nem lembrei de mim.
E ao jurar com toda a força que pude ter, jurei
de todas as formas... não amar mais você.

E novamente cruzei os dedos, tola..

Meu caro amigo.

Tenho sonhado contigo à várias noites, mas pelos dias... não me fazes tão parceiro, tão presente. Sinto tua falta, essa tua falta que só você sabe me dizer, me fazer, me fazer sentir. Esse teu carisma me encanta, me assola até em meus sonhos, me mantém, me convém... sem ele sou apenas um vazio em meio a outro vazio qualquer.
Tens ainda aquele belo olhar? Esses teus olhos verdes, que mais me parecem tilintar de esmeraldas. Esse teu olhar de quem nada quer e tudo me pede.
Tens ainda, aquele teu velho ombro amigo? Que por tantas vezes fui parceira, que por tantas... tantas vezes usei e abusei. Nada me é tão seguro quanto teu ombro, esse teu ombro espetacular... que só você tem.
Tens, meu bom amigo.. aquele teu velho cantar? Baixinho sobre meus ouvidos, canções de saudades e carinho, sobre a vida que tanto brilha em teus olhos, brilho que por muitas, ofusca meus temores e minhas dores... sempre ativas em meu falar.
Tens? Ainda... aquilo que sempre fora teu. Meu eterno e devotado carinho, amigo meu.

Pelô

Cores que não saem do meu ver, pessoas que não cansam de olhar, como eu.
Passos difíceis, porém prazerosos.. passear tão lentamente sobre aquele espaço, cheio de luz e sombras, cheio de arquitetura antiga, cheio de gente com algo pra lhe dizer... essa gente, gente que só existe na Bahia. Que se mistura por todos os lados, por todas as ruas, nuas e prontas para serem descobertas.... negros, brancos azuis e amarelos, juntos sob o sensível olhar do Pelô. Antes casa dos mistérios humanos, que presenciou tantas vezes a vida de muitos que se foram, foram... Cheio de Obá, Obalá, Obatolá, cheio de Jorge... cheio de Vinícius.. e até Neruda... cheio de acarajé abará e caruru... cheio de Olodum, de música antiga.. de sons indescritíveis.. cheio de gente feliz, gente infeliz... gente que luta pra sobreviver.. cheio de mim, de você e de tantos outros que do mundo, vem o ver.
Cheio de fitinhas coloridas do Bonfim ao passear nas mãos do que as vende, passear a mercê dos ventos que lhe abraçam. Antro de sorrisos estranhos, mas convincentes. Não se sabe se sorri por pura obrigação.. ou se o sorriso é seu cartão de visitas. Perde-se sob o chão acidentado, as ladeiras.. tantas subidas e descidas, entradas em becos e poucas vielas. Todos aqueles berimbaus pendurados.. a música que ecoa nos ouvidos, por mais que a boca os mantenha calada, os olhos dizem com tamanha impressão e a câmera grava seu momento de pura diversão Soteropolitana..
Conhece pessoas de boa, de má e de forma alguma, diria. Conheces, aqueles pelos quais habitam todo um mundo, habitam o Pelourinho de ventos, de altura e de solidão... Pelourinho de pessoas, de crenças de memória e magistral forma. Conheces um Pelourinho só teu, com cada olhar que o fulmina. Antes, me era tão velho como quando era pequena.. agora me parece, cada dia mais, tão igual e misterioso, como sempre fora...

Vacilão.

[..] fui pra rua de novo,
entrei no velório pulando a janela
Xinguei o defunto, apaguei a vela
Cantei a viúva mulher de favela,
dei um beijo nela. O bicho pegou
a polícia chegou, um coro levou
em cana entrou.. Ela não me quer mais..
...Bem feito!

quinta-feira, março 13

Muda-se tudo, enfim.

mudam-se os tempos, os ventos os tormentos...
mas não muda as horas que passam, o frescor da brisa e a dor da tristeza.
mudam-se os amores, as cores e os perfumes...
mas não muda o amor sentido, as cores vistas naquela tarde e o perfume das flores.
mudam-se as pessoas, as coisas e as proezas...
mas não muda o lembrar, não muda o usar e não muda o tentar.
mudam-se cidades, verdades e alardes...
mas não muda o caminhar por ruas, a palavra sincera e o aviso alado.
mudam-se beijos, queijos e desejos...
mas não muda o sentir das nuances, o gosto tão alarmante e a vontade incessante.
mudam-se os imutáveis, os egoístas e os rancorosos.
mas não muda a vontade de contrariar o próprio mudar... gracias que caem por terra.
E muda-se tudo, enfim.. por assim mudar.

Chedhitung.

Cala-se algumas vozes,
e você ai parado, também calado.
Onde estão o Che, o Dhi e o Tung
na mente daqueles jovens, que
foram tão astutos.
Já pensou em mudar o mundo?
Já pensou em construir teu mundo?

Seja aquele de sempre, retruque!
Não seja mais um na fila dos alienados
Corra contra o tempo e busque seu passado
Seus trinta chegaram mas seus vinte foram
melhores, retor-ne ao espírito dos velhos tempos!
Já pensou em mudar o mundo?
Já pensou em construir teu mundo?

Onde irão nascer teus filhos, amados.
Num lugar sem mais nem menos...
Não espere que tudo caia do céu,
Não cruze os braços meu amigo... lute
viva, VENÇA teus medos.. ajude-se!! Nos ajude...
Já pensou em mudar o mundo?
Já pensou em construir teu mundo?


Mude teu mundo dentro de ti,
mude teu mundo a partir de ti..
para que os outros possam perceber
que cruzar os braços, não é ter que conceber
nem muito menos falta de poder...
mas só e somente só não se dar por vencer...

Empacotaram o filho do coronel.

Enfim, a "blasfémia" baiana mais linda do mundo. O filho do coronel (aquele mesmo, de nome de complexo viário, antes tão querido e amado Dois de Julho) que se dispõe em estátua entre as duas pistas paralelas... se encontrou ontem, empacotado pra presente, um presente de saco preto que se colocam os indigentes, mortos e jogados em valas. Assim como tua lembrança, a meio mundo da querida Salvador, que estremeceu de felicidade quando papai foi descansar... sabe-se lá se realmente em paz. Não me detém imparcialidade, para com uma pessoa tão voraz e dissimulada.. muito dizem que já foi tarde, seja de pai de filho, de espírito... nada santo.
Mesmo que muitos daqueles que são filhos dos filhos.. (dos coronéis claro) que insistem em retrucar meus dentes que se mostram, ao lembrar do empacotado amigo... sigo com as travas abertas, do incidente feliz, ao longo da paralela.
Feliz é o bendito que fez isso...
DA-LHE!

Coisa de criança

Antigamente eu pesava
que tudo que caia do céu era bom
que tudo que era rosa era de menina
e que nada nesse mundo me abalava.

Pensei que tudo que me tinha era o bastante
as vezes moedas e moedas me faziam enorme
entusiasmo da vida que me circundava
coisas de menina tola, inconstante.

Antigamente eu pensava
que os amores eram para sempre
que nenhuma vilã era o bastante
e que nada os derrotava.

Pensei que tudo quanto era beijo seria sincero
que todas as palavras eram verdadeiras
que toda novela e cinema.. era retrato da vida
e não o contrário, do modo que me é mais severo..

...antigamente eu pensava
que existia só gente boa de verdade
que mentir era a maior crueldade
e viver era só e só felicidade....
que boba que era, a pensar tal possibilidade.

quarta-feira, março 12

Cenotes.

Me jogaria sobre as àguas profundas, mas por puro prazer de entregar-me a imensidão..
Não seria uma virgem, entregue as oferendas Maias.. não me conceberiam glória, nem jóias.. tão pouco benção. Apenas me livraria, do peso que me assola. Me jogaria com tamanha intensidade, que poderia em suas profundezas me fazer abrigo, deter pensamento, de conceber-me dúvida... incessantemente.
Cenote meu de tamanho abrigo, que me faz recobrir-me sob tuas àguas, sob teu véu de certezas..
de profundas almas que falam, surtilégios à mercê dos envoltorios das águas... dos deuses, que entregues a ti, todas aquelas que foram devoradas e consumidas por suas milhares de gotas, que abraçam as virgens e concebem a glória.

Memórias.

Ler-te, de México sangrento e florido...
me perco profundamente em tuas águas.
Nas mãos o mesmo, desprovido de joviais formas
cores alvas que se foram, só o ocre, preto e plástico
à sua capa.
Junto a mim, sândalo.. que tanto amo.
Perdido dentre tantas coisas, de sândalo, caneta,
papel, uma corrente fina e um brinco robusto.
Não me esqueço sândalo amigo, sobre tuas
pontas faíscas e aromas místicos e sedutores.
Árvore de sândalo, como me perderia em ti?
Como me perderia nas águas profundas, no murmurar
do vento ou nas flores que murcham...
Como em outras árvores jamais me perderia.. somente.
De árvore... extrair sândalo, extair papel..
nele importar pensamentos, dúvidas, críticas
e inebriar-me nas co-produções, árvore.
Palavras de um México, sangrento e florido..
de poesias cálidas e de grande profundeza humana.
De poemas nos olhos, prosa em pinturas, rimas em
beijos e sonetos em abraços...enlace de todas as palavras,
todos os sons, aromas e sentimentos, árvore, sândalo,
papel,México,águas perdidas, livros... memórias.

transe.

Ele cercou teus olhos com uma única certeza.. de um transe que haveria à pouco, concluir assim que ela, não só ela, como a outra ela haveria de tirar proveito. Ela, assim que ouvira.. com os olhos retrucou, a mente que lhe desmoronou e o coração, que ele desapontou, tentara responder.
De olhos mente e coração, nada lhe disseram, só a boca concluiu,
Que ela sim, iria transar..
Vou transar, com meu cérebro.. a esquecer-te.
transar com os ouvidos, a não ouvir-te mais.
transar com o coração, para deixar-te ir dele..
transar com o olhar, ao acostumar-se a não ve-lo
transar com a distância, finalmente distante de ti.
e por fim, transaria com o adeus, a dizer-te com a boca seca..
Pra não mais transar-te palavras...
que não transam sentimentos teus.

Quantas vezes.

Quantas vezes deixamos de fazer o que se quer, para fazer o que acham que devemos fazer? É difícil enxergar que as tuas aspirações não condizem com o resto, resto de tantos outros que você tinha de se importar por não ser aceito.
Entraves adolescentes, que ecoam até nos adultos. A dita maneira, forma, tracejo, do jeito que se deve ser, a forma como se deve agir, assim, pra ser do grupinho. Me cansei dos grupinhos, de gente normal, gente boazinha demais, gente de baladinha , gente que tem isso e aquilo,da gente que se diz legal, do fato consumado, das beldades ao meu lado e até dos fins de semana inesquecíveis... das segregações, discriminações e ríspidas palavras.
Quero apenas ser-me útil, sozinha, calada por algumas.. tagarela por tantas outras. Nem mais nem menos bonita, ou melhor do que ninguém, nem aceita nem excluída, nem modelo de ninguém nem cópia de todo o resto, nem pensamento copiado nem cópia, daqueles pensamentos....
Quero poder me olhar no espelho, saber quem sou, saber do que gosto e onde estou. Saber porque meu rosto é desta forma, meu cabelo não me obedece e meu nariz tem essa dobra. Reconhecer que ali existe alguém tão sensível, tão forte,tão solitária e tão querida,tão curiosa e até mesmo tímida, tão acertada e desacertada... tão humana, em todos os sentidos, tão contrária a si mesma dos adjetivos ao mexer do corpo. Tão eu, tão meu... quanto sempre torço.

Cousas

Um papel amassado
um grampo de cabelo, pendurado.
Um anel sobre o dedo,
uma caneta na mão
um sentimento no papel, duradouro ou não.
Um cigarro,
um prato mal lavado
fumaça pra todo lado.
Um pedido de namorado,
o beijo esquecido e retardado..
o amor negado.
Um celular que não lhe chama de amor,
a voz que não te da calor..
esqueça aquele locutor.
Uma agenda dos dias que foram,
um recorte do jornal com seu nome
e aquele velho, velho fone.
Um papel com um número,
um cartão magnético
e a consulta do médico.
Isso tudo na bolsa,
reclamam a tua presença
o teu uso, nas mãos e no
pensamento, só essas cousas
cousas de momento.

Ele me diz, eu não ouço.

Fingi mil amores,
me tomaram o fôlego,
noites de sono.. e paz.
Pouco sobrou...
Vivi mil paixões,
repentinas, duradouras,
nenhuma me restou.
Falei mil mentiras,
delas poucas verdades,
outras, nem tanto.
algumas me restaram.
Pedi mil favores,
alguns gentilmente concebidos
muitos outros esquecidos...
só um me desapontou.
Fiz mil juras,
sinceras e tristes,
recortes da saudade
poucas duraram.
Fiz mil amigos,
todos tão legais,
deslizes cometidos..
poucos me restaram.
Fiz mil canções,
cantei no teu ouvido,
e cantaste no meu.
Nenhuma me sobrou, tudo se esqueceu...

terça-feira, março 11

Disse-me com o queixo trêmulo,
Agora ei de partir...
Vou partir com seu amor, e não
me peças de volta. Não devolvo,
não empresto e não vendo.
O teu amor, para sempre comigo.
E se foi, pra não tão longe, mas me
roubou o que não há de mais precioso.

Dedilhar de canções.

Mais uma vez ele dedilhou canções
daquelas que só ele sabe como, me
fez sentir especial, como nunca.
A pequena mais querida, mais feliz..
Tão querida, como sempre.
Nem ao menos escutei o resto da
música, só de inebriar-me a ouvir.
Pude enfim lhe perceber como és,
apesar dessa tua casca tão duradoura,
que as vezes me faz tão esquiva,
por ouvir tantas canções, mas ,me
manter longe... sempre longe.
Ao dedilhar suas canções, por vezes
sinto como se pudesse atravessar
aqueles teus olhos brilhantes e encontrar
no teu peito o meu afago, tão necessário.
Por todas essas canções, que rápidas
se foram dentre seus dedos... mas que
se tornam assim tão duradouras, nos
meus ouvidos, grudadas na minha pele
e invadindo por puro querer, meu coração.

segunda-feira, março 10

Como sempre faço.

Corri pro ponto
peguei meu cartão
bipei o bendito
sentei na cadeira
olhei o malandro
virei e dormi.
Dormi sentada
bolsa abarrotada
caderno na mão.
Pés doloridos
perfume esquecido
dinheiro na mão.
Olhava pro fundo
pra ver se cadeira
restara pra mim
ficar sozinha
era tudo, enfim.
Janela bonita,
praia e azul
amarelo e vermelho
areia e mar
se assim fizesse
janela pra mim
eu pudesse respirar.
Mas só olhar
olhar pro malandro
a me olhar
me olhar também.
Com tanto medo
quanto eu.
Apesar do susto
cansada estara
e dormi assim
que nem vi,
quando sequer percebi,
no malandro amigo
travesseiro fiz
chamando-me no ponto
que ele descera..
cara amassada
baba a escorrer.
Finalmente sozinha
a janela sonhada
de sono e janela
vidro e balançar,
bati a cara
essa cara amassada.
Reclamei a bessa
como faço sempre
resmunguei sozinha
voltando a dormir.
Ponto meu chegara
quase que perdi
sono que me tomara
ao sair assim
do degrau escorri,
quase cai,
mas rápido pulei
disfarçar a vergonha,
de malandra que era
sai a resmungar,
como sempre faço
faço ao falar
dormir em ônibus
pra cara esborrachar.

Me faltou.

Me faltou sorrir com os olhos, não com os dentes.
Me faltou grana, me sobrou dívida.
Me faltou eu te amo, eu te amo?
Me faltou calar-me, deveras.
Me falou um pouco de álcool, eu diria.
Me faltou afeto, me falta...
Me faltou o ar, quando descobri.
Me faltou ação, por ouvir demais.
Me faltou bondade, fui corrompida.
Me faltou dinâmica, tropecei...
Me faltou lápis, papel e inspiração
Me faltou tudo, tudo em questão.
Mas só não me faltem as palavras,
pra não sobrar vida em vão.

..Holocausto.

Que todos os filhos Auschwitz, pela covardia e brutalidade recebidas, possam hoje recobrar teu leito. Que todos aqueles, que na Cracóvia submersos ao anti-semitismo,aos absurdos deleites dos nazistas, as crueldades,aos lares rompidos.... e aos banhos, que nunca foram, só o gás lhes cobriam o corpo. Que hoje possam quem sabe respirar, enfim.
Que todos os filhos, filhos do Gueto de Varsóvia, possam não lhes contemplar sofrimento, não acordar às madrugadas ao recordar, não lhes faltar o ar.. por tentar esquecer.
E que os filhos dos filhos possam rezar, por todos os reprimidos, oprimidos e exterminados
por só carregar uma estrela de seis pontas. Estrela, que deixara de existir... como sua dignidade e como a humanidade daqueles que lhes privaram a vida.
Não só a estrela que deixara de existir, teu brilho que se perdeu... aos povos eslavos, aos homossexuais, ciganos... dentre tantos outros injustiçados.
Só as marcas do passado em seus braços, seu nome que lhe fora substituído por números, números de pessoas já mortas. Corpos que acompanhavam os comandos, famílias destruídas, mentes decepadas,crianças interrompidas, sofrimento eminente, a água que lhes faltou... a esperança que os abandonou.
Que possam, todos os filhos da guerra... descansar em paz.

domingo, março 9

Lasswell.

Só ele sabe, como me dizer da melhor forma. Como chegar em mim sem que não me seja de vontade, como, quando, porque e de forma eu sinto mais prazer ou mais necessidade.
Mesmo com todos os outros ao meu redor, ele sabe exatamente quem sou, sabe como penso... o que penso dele apesar de tudo. Me pisca a cada segundo, me seduz a todo instante.. como resistir a seu modo tão excitante? Nem posso e nem me culpo, não mesmo.
Por vezes tento me deter, por umas consigo e por outras, falho a tentar não lhe parecer interessada. Ele sabe não só dos meus segredos, mas de muitas outras, se faz assim tão canalha... tão absurdo de sedutor, a todas, aliás... a todos, simplesmente.
Só ele entende minhas necessidades e desejos, me cobre com as mais deliciosas promessas e me joga sobre todos aqueles, que sempre, sempre vêem quando adormecida estou.
Me prende de tal forma, que nem enxergo meus modos. Meu jeito se esvai a tua contundência, me prende, me cerca e me aguça. Quando sequer posso enxergar, dele sinto falta.
Me pesquisa nos corredores, me olha dentro dos olhos e dentro da mente quem sabe? Convoca meu coração a dizer sobre tais, tais sentimentos duradouros ou não.
E a cada vez que ele me vê, me ouve... me prende a suas garras, e assim me faço, toda sua. Até meio que sem querer. E me solta, depois... como todas as outras que ele pesquisa tanto, para assim quem sabe, em suas mãos ter.