terça-feira, março 25

O monólogo de Ulisses - Um ensaio sobre a solidão.

Agora aqui, nem mais nem menos, apenas distante de mim novamente.
Me perdi tanto em ti, nas tuas profundas e calmas águas, que antes me eram refúgio, por tantas, nesses mares turbulentos por onde naveguei. Até esqueci de ancorar-me em teus braços, enfim, te perdi. Perdi.
Você era meu destino, era meu presente, meu palpável... Era-me tudo, de fato. Depois que viraste areia, nas margens de tua boca fiquei apenas. Ás margens do seu nome, no subúrbio dos teus olhares e na periferia de teus beijos... longe, tão longe. Ancorei aqui, nessa ilha de solidão. Redigi cada vez mais meus atos, sobre mim e você, sobre nós enfim... Já recordei, de tanto que passara... desse teu jeito de me fazer, como só você sabe. Como era mesmo? Assim prossigo tão infame.. Aos poucos tenho medo de esquecer-te, de perder esse teu nome sobre os ventos, de esquecer o som da tua alma a me tocar. Delírio sobre essa ilha, chamada solidão. Apenas me tenho uma certeza nas mãos, apesar de incerto, incoerente por muitas. E seria, o medo de esquecer-te, e sim seria, a pior perda que teria de ti, apesar de toda essa tua enorme ausência. Acho que esquecer meu soletrar de tuas lindas vogais e tamanhas consoantes, que me eram tão grudadas ao gosto, esse teu véu de delicadeza e essa teu florescer nas mãos.. Esse teu florescer... Acho que esquecer de como você se mexia, seria como arrancar-me um pedaço, seria sim Ulisses, seria...
Um outro gole? Oh sim, mais um pouco por favor. Preciso beber dessa tua lembrança e afogar-me no que ainda de ti me sobra a mente, já que, foras com ele para outro lugar, tão longe de mim. Ele que me era, me era? Me é tão injusto, me fez uma fenda a tua presença, roubou-a de mim sem um gole de arrependimento. Levou-a nos braços sob meus olhos, sem que ao menos eu pudesse realmente ver.. Ulisses, você perdeu novamente. Perdeu, a perdeu.
Roubou de mim, esse maldito, maldito Tempo. Esse Tempo que me roubara você, meu único resquício, minha única esperança... mas ainda posso sonhar contigo? Será? Se escrevo na areia teu nome, as águas levam devagar, quem sabe você que se põe em mãos a levar resquícios teus... suas mãos que vão e vem nessa beira.
Mas me parece que você foi por conta, conta própria? Ou por conta dele? Ele!!! Ele... Foi com ele pra me fazer infeliz? Se ele pode te dar a eternidade, eu posso, também.. minha infinita forma de amar-te, por tanto que me amara, te amei em dobro. Lhe peço, lhe rogo, deixe-me escrever teu nome novamente na areia, longe das águas, mas não de ti. E quem sabe assim, esquece dessa tal eternidade, e vens à mim... teu Ulisses. Vem a mim Felicidade, antes que esqueça esse teu nome e me afogue em outras águas, ou me perca, quem sabe? Nessa ilha tão deserta...


Um comentário:

L.r disse...

Sou sim... num vai me dizer que você também?! hehe :D

POis bem, pode deixar que se postar algo daqui, deixarei os direitos autorais! :)

E quanto ao que escrevo, é sim... achei BEM parecido com o que escreves.
Beijo.