sábado, março 8

A meia noite

Esperavam pela minha chegada, antes disso, uma boa cerveja e lentilhas, o novo ano que se apresentava na tv com o horário de verão que se fez apressado ao ano novo.
Já eu no ônibus, no trânsito, só impaciente, nervosa e com o coração na mão, pensei, em como seria esse tão esperado ano, ano novo de vidas novas, de vidas que não tão novas se fizeram, mas,novas caras de velhas vidas, que agora,se apresentavam em seu íntimo.Pude então, encontrar velhos amigos antes de chegar, confessei-lhes meus mais desmedidos pedidos e minha ansiosidade. Não só os pedidos e a ansiosa espera, masque eles pudessem aproveitar, e com um abraço me despedi de todos eles, com um rosto de quem ia ser feliz. Ao chegar, desci um pouco antes... queria andar um pouco antes de bater aquela porta novamente. Respirei fundo, olhei o céu estrelado e me senti sozinha, gostei. Era o meu momento de me desejar tudo que sempre quis, e enfim,realizar aqui dentro, onde realizado sempre deveria estar.Após andar um pouco, cheguei. Lá me esperavam,sorridentes e carinhosos, como sempre. Abracei-lhes com todo carinho, e recebi tudo de volta, com a mesma intensidade. Sentei-me bebi, comi e conversei. A tv mostrava o ano que se apresentava em outra capital, como antes dito, o bendito horário de verão.Mas para nós, aqui, era apenas onze horas e muito a que se aproveitar do ano velho, antes que o novo se fizesse presente.
Foto que se tira, sorrisos estridentes. Na tv o ano novo já batia a porta e entrara sem pedir licença, todos aqueles que se fizeram novos na tv, nos faziam respirar mais fundo,para que o nosso, chegasse rapidinho. Me lembrei de tantos momentos, mas um em especial,onde passei com minhas irmãs à beira mar, à beira de um ataque de nervos, nervos aflorados e explodindo de felicidade,entusiasmo e frenesi.
Ao voltar a mim, saímos à busca do ano novo. Andamos por aquelas ruas, que se fizeram tantas vezes ensolaradas para mim, de tantas que por ela passei, para ver-lhes novamente. À noite, só as estrelas se apresentavam, a Lua,estava escondida em alguma parte, e dela, senti falta.As ruas estavam cheias, de gente feliz, gente que bebia e comemorava, se abraçava e sorria,sorrir era necessário, sorrir era preciso.Demos as mãos e enfim, fomos nós de novo. Ao lado,elas, que lhe acompanhara por toda vida, e para mim apesar desse toda vida não redigir meu ser, também se fizeram companheiras maravilhosas. Uma estrela, que reluzia não no céu, reluzia de felicidade,com suas marias-chiquinha, de menina moleca, menina essa que sorria sem mais nem menos, e me fazia lembrar,daquela mesma menina, que estrela não fora, mas, que brilhou tanto em sua mesma idade.
Agraciamos palavras, "como você está bonito!" disse-lhe com o rosar das bochechas.. E andamos, tropeçamos dentre pedras, afundamos os pés na areia e fomos, enfim a praia para assinar nosso ponto de partida para o novo ano. Os fogos eram apressados, luminosos e me faziam palpitar por dentro, tremer por fora.Perto de uma barraca nos instalamos, dentre tantos outros que por lá estavam, sentados, alguns bêbados contentes, crianças a brincar à beira mar salpicando os pés na água gelada e seus pais que os olhos, não os tiravam um segundo.Rosas por todos os lados, pétalas que as vezes me tiravam a atenção, brancas e vermelhas.
Já instalados, conversamos sobre tantas, conheci aquelas que deles faziam parte e agora, a abraçar-lhes,conheci também.Então, de mim você se afastou. Com aquela que lhe deu a existência, vi afagar palavras aos céus,quem sabe preces de um ano novo, de quem sabe,te-la sempre contigo. Minto! Ela sempre, sempre com ele está e disso não me tira verdade, verdade que está realmente em teu olhar. Observei o quanto pude, lembrei dos meus queridos,dos meus amados, aquela que tanto me quer bem,e aquele que jamais de mim irá embora. Ela e ele,minha família. Não só eles, mas elas, que sempre me acompanharam,sempre vão estar comigo, minhas queridas, de tantos outros anos novos...
Conversei um pouco mais, e de uma hora para outra,"o que é aquilo?". Quem sabe um barco a pegar fogo,disse um deles, ou uma luz de um transatlântico, a ressoar sobre os mares. Pensei em ser aquela quede tanto senti falta, que se escondeu por onde não a encontrasse. Enfim, eram onze e cinquenta.Dez minutos para meu ano novo, aliás, o ano novo de todos nós, chegar.
A frente de ti, me coloquei. Olhei em teus olhos mais uma vez, como tanto gostara de fazer, e vi,neles todo o carinho que de mim refletira. Um sopro,leve de afinidade, sopro? Vendaval de afinidades.Disse-lhes algumas palavras, das quais, nem me recordo mais... porém sei, que sincero, desmedido e como sempre, partiu daquele que se entregou por completo,aquele que bate forte toda vez que com ele estou. O abracei de novo, o prendi sob meus braços para quem sabe nunca mais partir, e como sempre, ouvidos seus lábios, dessa tua voz rouca, que deles,nunca irá partir, preso enfim estaria.
Após alguns minutos, vimos novamente no mar se fazer aquela fagulha luminosa ao longe, vermelha e estranha.Nunca vira algo parecido, mas meu palpite estava certo.Logo iria descobrir.Então a meia noite se fez! Abraços apertados e sussurros aos ouvidos, felizes bochechas que insistiam em rosar, como maçãs.Disse-lhe, a querida mãe, que a queria muito bem,não a minha mãe, mas a mãe de um outro alguém, que passei tanto a admirar. "Muito obrigada..", apenas,e ela como sempre, cordial e afetuosa, em suas palavras rápidas e eficazes, me fez sentir em casa.Logo à minha liguei, queria estar com ela naquele momento, mas sei que, comigo ela sempre está,de onde jamais irá partir. A amo, disse. Como quem diz em despedida, despedida daquele velho amor,e novo agora, amor renovado.
Olhamos de novo, e lá estava ela. A meia noite se fez, linda e cálida, vermelha, amarela e misteriosa, se fez no momento exato, em que,nos despedimos de tudo aquilo que se foi,de todos aqueles trezentos e sessenta e cinco dias, tão felizes, tão tristes.. tão vividos.Deslumbre aos nossos olhos, como poderia?
As forças naturais nos apresentaram mais uma vez ao espetáculo da vida, o espetáculo que os nossos olhos tem de lembrar sempre, que a mercê de outras forças, sempre estaremos. E ela, que parecia e não aparecia, enfim, se fez, no momento de transição, para nós, transição e renovação para novos trezentos e sessenta e cinco,vividos a partir de agora.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo...
viveu isso tudo?