terça-feira, agosto 5

Cartas do pensar - Helena

Helena cara amiga,

Há dias tento escrever-lhe cartas que possam desterrar as minhas lamentações. Tento por tantas vezes dizer o quanto sinto a tua falta, o quanto os dias estão sendo tão difíceis... e o quanto as notícias dos mares me trazem intenso pesar.
Por dias cruzei as ruas em busca de notícias suas, mas as portas que a mim foram abertas, na casa haviam apenas sombras. Um deserto sob toda tua lembrança, e animais que se alojavam pelos cantos dos cômodos.
Sinto-me completamente sozinha, as vezes é bom saborear o silêncio e a solidão, como o barulho do mundo as vezes me é esquisito, já percebeu o quanto é assustador fechar os olhos em meio a uma grande multidão? É como se fantasmas fossem percorrendo aos poucos a sua mente, cada um num linguajar singular, numa mistura de povos e línguas, em igualitária nacionalidade.
Oh minha amiga, preocupo-me com as desventuras dos mares que a ti rodeiam, eles traduzem cada vez mais os infortúnios que os dias irão trazer. Que medo que me forja as circunstâncias, e que indecisão de retrucar-lhe mesmo essas palavras de desilusão, essas pequenas notícias aglomeradas em uma carta de saudades. Sinto que as vezes a tua presença em minha mente se perde, e retorna, sem motivos. Talvez pelo tempo em que passara teu retorno em contramão, ou talvez pela pura e singela lembrança do subconsciente.
Helena, soube a mim que os barcos do sul novamente retornaram, trazendo consigo as mazelas dos sete mares, que por antes, havia passado sob tua vida. Sinto muito em dizer-lhe, que a contravenção do mundo é surreal, ela descreve suas linhas e abusa das silhuetas, mas não diz, não fala, não conduz em direto a sua aceitação. Queria que soubesse das armas que as embarcações utilizam, canhões de início, ladrões, corruptos, assassinos e contrabandistas em seus cômodos, cada um esperando a desembarcar em matas silvestres, retirar toda sua seiva e seus tesouros, voltar as pressas a terra do nunca, e dizer a quem quer que seja, que o ouro é de quem vence, o ouro, é de quem tem força. Ainda mais, trazem em suas veias de laços fortes, em cordas de inverdades, a fúria e a cólera, desmedida condução da loucura humana.
Minha amiga, estou apreensiva. Rogo pelos dias em que a costa possa ser forte o bastante, e que você regresse a sua pátria, na luz que guia todo esse teu ser. Espero Helena minha, que essa minha irmã consiga construir suas defesas, resplandecer sua armadura, para o confronto final. E rezo Helena, para que toda a batalha seja justa com a verdade, e que possas reestabelecer teu rumo, debitar sua dívida com a felicidade, pois essa, já está mais que absurdamente pronta para o proceder em fato. E até lá minha querida, aguardo notícias suas... em saudades, em preocupação, e acima de tudo, em preces para o seu bem estar.

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