sábado, dezembro 27

None II

Quase todas as vezes que estou chateada, não me pergunto sobre o que escrevo. Só descrevo o olhar de auto-piedade em minhas terrenas palavras. Esqueço do voar, itinerário de sempre. E fico por aqui mesmo dizendo infâmias. Já estou tão cansada de sobreviver a isso, que insisto em não dizer mais nada. Sinto que meu calar já me faz culpada o bastante, chega de remédios breves.
Como ontem e anteontem, torci o nariz e imprudente fiz, imprudente fui. Nada resolveu, nada despertou. Tudo se manteve como a cinco minutos atrás, contínuo e dilacerante. De que me valem as coisas absurdas e inóspitas das madrugadas de azedume? Acho que mais palavras pra recordar, ou sabe aquele sermão íntimo? Costumo me dizer algumas boas e importantíssimas palavras quando resolvo ir pelo caminho mais pesado, só que agora, é tudo tão difícil. Antes algo pulsava e conseguia ir em frente, mas pouco a pouco a chama se esvai, e assim deixo de recorrer a um império discursivo e impetuoso. Não há retórica no mundo que me faça crer nessa postura. Cada vez mais sinto um convite incitante de algo maior, uma espécie de destino implacável e restaurador de centenas de desterros.
De nada me valem essas lágrimas, nem esse rancor todo. Onde mais estaria se não fosse por tudo que já fiz, por tudo que sou, por tudo que fui. Já não insisto mais em discutir memórias residuais, quando fui somente isso por um duradouro espaço de tempo. Que fiquem onde estão, se tudo me permitir. Sou porque fui, e do que fui não tenho mais o que falar, só recordar.
As vezes abro a janela da minha casa, e respiro sozinha a esperança de um novo dia. Nada me faz mais feliz do que sentir isso só. Ninguém merece o quanto isso me dá prazer, ninguém. E já não me restam tantas cartas na manga para dividir, tenho apenas meu sorriso, minhas ideias e minha simpatia de balconista, exige de mim uma árdua fonte de paciência e parcimônia, por vezes um tônico para a vida, por outras, um inferno na terra. E assim prossigo, viva.
De começo meio e fim sempre esqueço de dar uma solução, um glamour estético as palavras esperançosas e cheias de um mundo maravilhoso, mas não hoje, hoje não serei essa pessoa. Até que um dia me falhe o esquecimento e lá de onde surgem todas as palavras vibrantes - esse consolo as três da manhã - de onde tudo surge e emerge em mim, guiarei minhas frases a um desfecho maravilhoso, enfim.

Nenhum comentário: