sexta-feira, dezembro 5

Realidades vazias.

Eu beijei sua boca e alimentei teu sexo. Talvez não pude ser amor, talvez não poderia mais ser você... E os nossos quadris não se lembrem mais de nós, eles se imacularam rentes, onde a curvatura de minha vida não insere o teu viver. Será que a tua mão não me entrelaça o cabelo de delicado púrpura ou de um intenso bordo de mil horas, os meus fios entardeceram em minha raiz, que cresceu tão grande e bela como nunca fora. A minha barriga não assobia um medo conjugal, ela não se esconde e estremece diante de teu suor, nem me cobres de saliva o epicentro de todo meu ser, onde sou equilíbrio e riqueza viva. Meus seios de maça são verdes, o doce amargar de uma semente que se divinificou no tempo, cresceu, cresceu e cansou de crescer, assim que a tua mão apodreceu enfim. Meu colo ficou num banco, perdido em algum lugar onde foi meu coração passear com a tua vida, e ele não conhece mais a tua pele, não quer o seu cabelo curto. E as tuas longas pernas são a cobiça de meus olhos, mas minhas pernas não desejam mais encurta-las. E o meu ventre só ama o espasmo que o corpo deleita, depois ele esquece da tua ida com seu amor de dores algozes. E nos amamos por pura luxúria, quando nada mais condiz, e tudo consola. Me machuca ao sorrir assim, como te machuco ao dizer que cheguei. Cada um com a sua dor consequente, cada um com seu estranhismo. E eu que rompi as fontes de olhos flamejantes, e corri para teu ímpeto, para tua cama vazia. Para seu coração vazio de mim, para meu vazio de você, e juntos vazios de quase dois mil anos atrás. O meu cheiro te agrada e te seduz, assim como a sua pele imutável me oscila, sou sua e sou minha em curto espaço de tempo. E me contorço na cama contra teu corpo, e te digo não como sempre pudera. E você dilacera seu querer como eu dilacero nosso amor, esquecido. E assim que começou e terminou, eu fui e você foi comigo, uma outra vez de tantas vezes, mas uma única vez em que não amei teu corpo, uma única vez que usei do meu, para ter a tua lembrança. Que seria até melhor mante-la em meu latente coração de saudades ocultas, do que de realidades vazias. E assim alimentei teu sexo, dei de comer a sua vontade, a nossa vontade vazia.

Um comentário:

Lília R. disse...

tá, isso é minha cara...!


[haa endereço novo, o outro fizeram o favor de roubar a senha]