terça-feira, dezembro 20

Tentando explicar

Como de costume a promessa não existiu,
não pude, não soube e não era.
Ainda sim que aqui dentro residem todas as ideias,
tudo aqui se manifesta e se reconcilia.
Tentei abrir a boca e declarar a minha vida,
como sempre faço com os olhos mexidos.
Roubei teu ar por uns instantes em que pude
redigir a carta de minha motriz viva,
e lhe assobiei um pouco nos ouvidos.
Ainda sim, teu corpo que quase a mim incompreendido,
oscilou em saber que língua era aquela,
que som distante e vivo engrandecia nas orelhas,
mas que talvez nada dizia a sua couraça.

Reconhecendo

Me peguei hoje mentirosa e arrogante
sentindo mais uma vez a culpa de ser humana.
Parei e me vi neste estado, sentei-me.

Olhei minhas mãos e vi os mesmos traços,
olhei nos meus pés e vi as mesmas falhas.
Acho que não mudei tanto assim.

E arrogante e mentirosa continuei a conversa.

Ouvi dizer

Ouvi dizer que as pessoas são burras.
Que nada disso aqui é verdade,
nem a cura, nem a doença nem o hospital.

Os sentimentos são vias estreitas,
que as vezes se bifurcam e se prolongam,
mas jamais existem placas.

Ouvi dizer que é ruim ser você mesmo,
que é pecado sentir prazer,
que a dor do outro é menor que a sua,
e que não ser ótimo é ser um perdedor.

Os dias nada mais são que cabrestos,
as horas arrodeiam seu maxilar,
e os momentos são o próprio envolver,
juntos numa grande mentira.

Ouvi dizer que morremos de fome,
dessa coisa que dizem ser viver,
que famintos caminhamos em persistir, reagir e coexistir,
que o que mata a fome nos mata de tédio também.

Ouvi dizer que planejei esta farsa toda.

Uma conversa dura

Andei conversando com meus outros egos e descobri coisas. Coisas que jamais saberia se não deixasse de lado o que alguns deles diziam. Talvez porque o primeiro se achava tão inteligente e interessante que o resto não poderia falar absolutamente nada. Talvez porque o segundo andou tão incumbido de sua própria dor e sementinha da vida enclausurada que ninguém poderia -ou teria paciencia- de ouvir o que quer que fosse. Talvez porque, na terceira parte que me toca esse ego lascivo e egoista, que tudo deseja e tudo quer, no eu que eu seria menor que o proprio eu, nesse onde a raiva e a colera tudo dizem, a mim nada diziam em perfeito. Talvez porque um terceiro bobo e consideroso demais, ficasse ressentido de falar algo que me magoasse, e por fim, que fosse longe de sua existencia ser eu mesma.
Andei conversando tantas coisas, e ponderando tudo que nada meus braços poderiam. Conversando comigo, conversando com meus egos, todos eles, partidos e inclusos, onde em mim caracterizam a pessoa viva, que anda e fala, que fica triste e feliz por qualquer coisa. Refletindo sobre como e quando me tornei e porque, de onde e para que. Até que me deparei pensando que jamais poderia juntar tudo sem perder-me, e do que mais eu viveria se não da minha intempestiva condição? Se me junto e me retalho em cada dia da minha vida. Me escolhendo egoista, burra ou santa. Sendo sincera, veemente e claustrofobica. Dando conselhos que agem mais rapido na minha boca que na minha mente, como se nao estivesse falando aquilo. Pensando em como pensar perfeitamente, para que o outro consiga entender o que eu sinto. E falhando como tudo que é vivo e vive. Pensei e conversei também com a minha falta, com o meu desprezo e a minha intolerancia, peças vivas nos meus ossos. Pedi respostas e travei perguntas, de onde lá sabem todas as coisas do meu coração, eu pedi que me trouxessem um alento.
Que equilibrio existe quando se fala com seu proprio coração?

segunda-feira, dezembro 19

Passeando

Andei passeando por tantas vontades,
e delas pude tocar o contorno
nas mãos a força desconhecida,
que contra a pele me chamava.

segunda-feira, novembro 21

Sobre a paciência

Ter paciência é reconhecer sua própria ignorância.

segunda-feira, novembro 14

Aprovação

Não precisamos da aprovação de ninguém,
quando se aprova a própria alma, nada devemos temer.
Nada precisamos, pedimos ou consultamos.

domingo, novembro 13

Há tempos

Há tempos que digo o que penso
sem perceber que participo,
ativamente da dura e permanente realidade.
Que talvez implante jeitos de priorizar verdades,
e mentiras, e tudo mais que houver de ser o jeito.
Há tempos que ando pensando demais,
agindo demais e prevendo demais.
Tudo na mais pura e errônea maneira de ser.

Nesse mundo aqui

Talvez só signifique que o tempo está passando
e que, na vaidade das minhas escolhas, estou ficando só.
Tão sozinha quanto imaginei, tão premissa dos meus dias,
e tão relapsa a todo o resto. Prefixo de coisa alguma.
E releio as palavras antigas, na busca de corrigi-las
mas dali nada errei, nada há de ser consertado.
Fui e sou condescendente com tudo que já passou,
aceito e delibero que perdi batalhas as quais não era preciso vencer.
E ganhei mais palavras pra dizer que agora participo mais,
do que venho a conhecer de minha talvez existência,
de minha participação do que dizem ser esse mundo aqui.


Ao que talvez nem pratico

Ela se apossou de tudo aquilo que construiu com o vasto tempo que viveu ao seu lado. Cada manhã que sequer na dúvida da amizade, construiu o mínimo de civilidade e apreço, pois não existe apoio a mesa breve e fina. Pôs suas mãos nas suas, como quem afagava suas próprias mágoas, e cintilantes iam cobrindo seus medos pelos corredores. Não há nada mais amargo que sentir-se fora, fora de um sentimento alheio, fora de uma palavra amiga, fora de uma aceitação. Tudo aquilo que está a margem de si mesmo, esquecido e repudiado na direção dos dedos que apontam, e em inverdades vomitam arrogância. Por mais que o tempo fizesse uma união, era tão raso sua admiração quanto a força de sua companheira, que para viver estendia-se brutalmente ao respiro. Quem disse que estamos livres de sermos deixados, esquecidos e invalidados, a todo tempo uma atitude assume toda uma história, que despercebida e falecida de sua extensão se vai na brevidade do ato. Ainda que de vez em quando, tento exercitar em mim o esquecimento, no breve que meu ego me despede da humildade. Mas voltando, lembro.... e não há tristeza maior, não existe um orgulho precioso em perceber a decadência de uma relação alheia, e não intimidar-se pelo encantamento -agora seu- onde questiona-se a inquietude do ato miserável ao outro. Suponho que espero da punhalada a beira de meus olhos o mais breve dos meus pensamentos, que os quais preparo num caldeirão de coisas as quais enxergo e possuo. Não me iludo tanto com essas esferas bonitas, onde nas orelhas e nos olhos as vezes tilintam a bondade. Não me sinto, preenchida e pertencente a alguém que não escolhe o bom coração e as limitações dos seres humanos. Por mais que minha alma perseverante e muitas vezes preconceituosa destrua muitos bondosos corações por ai, e que de fato jamais fui a mais clemente e bondosa criatura existente, mas sim, sim fui calorosa aqueles que me foram sinceros. Até mesmo quando achei que no mínimo da convivência, entender o outro é o mais difícil e doloroso apesar de nossas próprias dores e inevitáveis momentos de intolerância, devemos permanecer na justiça e na temperança. Como julgar e praticar o abuso da ignorância com quem fraqueja e reluta aceitar certos jeitos, e talvez esquecer de julgar a si mesmo, na maior condolência de sua já fraca existência. Não é justo interromper uma amizade por vaidade e pouco espírito, não é justo abdicar de sentir-se próximo a quem tanto lhe necessita e permanece, talvez não sejamos fortaleza de coisa alguma, e nem balança da vida que percorre seus olhos, mas nunca, nunca na ignorância e brutalidade.

quinta-feira, novembro 3

sem correções

Como quem nunca escreveu, e como, jamais soubera invadi espaços dentre o que me pudera e o que nem existia. Onde redigia cartas de um coro que não sabia ao certo cantar, e que de fato não conhecia sua melodia, nem sequer bandeira posta para contemplar. Neste mesmo coro, ao qual o mundo inteiro lhe diz perseguir, ostentar e proceder, ao qual o machucado a pele lhe renuncia todos os dias o conhecimento, lhe propõe algo do mais miserável dos seres, a própria ignorância. E onde andar, e como dizer que cantar, no severo das cordas vocais, onde... onde estender a voz sem sequer nas letras, onde jamais fora verdade, não escreve-las... não senti-las

segunda-feira, outubro 31

Distância

toda essa ignorância, e essa distância..
nos tornam submissos a nosso achismo.
desde que, desde quando, pode ser tão cruel
dizer tanto sem saber quase no absurdo...
me machucou como nunca fora.

Mudei?

Passando alguns dias sem descobrir o que mudou.
O que mudei? Se além de toda estranheza, a mais pura verdade.
Pura verdade alheia a meus cachos.

domingo, outubro 23

Minha coleção

Eu e minha coleção de coisas, que sem as quais jamais seria. Torno o mundo mais tranquilo, e toco a vida com minhas mãos ásperas, porém donas de toda minha verdade. Sem isso que digo todo meu, sem tudo isso que a mim formam couro e passos, sem isso de ser alguém, alguém por um pedaço de cada coisa que junto. Sou nas fases e nas partes o mundo em que atravesso, e transponho tanto a minha vida, em cada juntar de meus carocinhos. Essa parte bruta que a vida desmerece, em mim parte viva e contundente, na força que meus sentimentos exalam fúria, e no respirar dos meus pacientes olhos. Tudo aquilo que almejo e posso, todo aquele que toco, tudo aquilo que sou, só sou quando incompleta, quando nada a mim seja pleno, e terno é o jamais que sempre busco. Platônicos são meus dias, onde nas partes que em meu ser residem, buscam o nascer de um novo mundo, perdido, intocado, vislumbre.

terça-feira, outubro 18

A ignorância alcançada

Outro dia mais, em que vou caminhando sem me dizer verdades. E na ignorância do meu egoísmo, sou ferida e suspiro em vão. Caminho sozinha e chateada, como se qualquer parte de mim pudesse dizer tal estado. Digo as ruas o meu despejo, e a resposta é um frio cortante e certeiro. Paro e penso novamente na virada cardíaca, onde invento que sinto muito ou quase nada por uma estória controversa. Penso o quanto insisto nessas falsas promessas que me faço, e no pouco que me inventam rainha. Sou coroada a mais boba, a mais desnecessária e lacrimosa criatura, depois de ver-me em brilhos rápidos, volto a ter os olhos escuros.

terça-feira, outubro 4

Novo plano

caso superado,
e na mentira do pulo
tramava nos segundos
enquanto no ar os pés..
um novo plano.

segunda-feira, setembro 26

Era irmã

... e então sou tia.

Hábito

Lá vamos nós,
eu e meu mau costume,
como de costume fomos.

entramos nas casas e
roubamos atenções,
como se o alimento
da alma fosse participar.

então enrugamos o rosto,
quando sóbrios demais,
de tudo aquilo que inebria.

e ficamos aguardando,
no próximo passo, na próxima esquina
a mesmice do novo hábito.

quarta-feira, setembro 21

Sentindo

Nunca duvidei do meu sentimento,
quando alto, e quando baixo.
O mais duro de sentir, é respeitar o sentir.
Ser digno de cada sentimento,
ser sentimento quando se é digno.

segunda-feira, setembro 19

O candelabro

Você estava lá e acendeu uma luz. Andou um pouco e iluminou alguns pedaços, mas só aqueles em que próximos estavam. Sentiu a chama arder próximo ao rosto, tão alta e ambiciosa quanto o próprio pensamento. Consumiu alguns pedidos que por ali voavam, que caíam chamuscados. As pedrinhas de carvão incineravam também o chão. Então sentiu-se como a própria chama, ao retaliar as asas dos pequenos pedidos.

Capitulo II

Acordou desajeitada, parecia irreal a falta de entendimento. O mundo lhe enxergava como seus olhos lhe mereciam; distorcidos. Levantou cortando mais um espaço de tempo, que com sua alma erguia um pilar inquieto. No chão os pés prendiam seu corpo, seu agora corpo de meio metro. Não sabe ao certo a que veio despertar, e de longe batia na porta do entendimento, sem resposta. Sentia na claridade a força do inesperado, e na escura noite, um apelo. Algo pulsava em seu existir.
Como se jamais soubesse que existira, vivia cercando sua alma de inverdades. Como cheiros e gostos, prazeres e sentimentos. Sentia-se vazia. Como se enchesse suas mãos de água, e visse dentre os dedos derramar o que era verdade. Ou parecia.
Olhava para a imagem viva, como se olhasse um espelho dagua, sua superfície liquida transpaçara linhas imaginarias, e em seu mais profundo, somente águas desconhecidas. Um tanto quanto para si mesma, mergulhou a sua procura e no longe que é o conhecer-se, perdeu o rumo em um de seus mundos. Agora começaria a história.

Capitulo I

Levantou-se, em medo cruzou a sala e andou aos onze meses. Dos dois anos cantou liras de sua terra antiga, aos cinco nadou num mar de cloro azul. Dos dez embalsamou o braço, pulou de uma ponte aguda e travou sua batalha contra a sujeira do mundo. A cada passo conquistou a história de sua vida, onde sequer sabia da súplica maior de seu mundo. Agora tem de reconquistar na sua memória, a paisagem do que um dia aos seus olhos erguiam. E descobrir do descontentamento a única maneira de força-se excelente. Palavra distinta a si.

segunda-feira, setembro 12

Em tempos de ser forte

Em tempos de ser forte, amedrontamos.
De cara que angustiamos, rijos, presos na falta de força.
Mas que muro é esse que destrincha nossos corações?

Em tempos de ser forte, tentamos.
Subimos a frente de nossas dores,
e nos olhos olhamos suas firmes tragédias.

Em tempos de ser forte, seguimos.
Onde travamos a batalha de sempre,
rompendo a miudeza do corpo. Em alma branda.

Em tempos de ser forte, enfrentamos.
E num passar de anos na dureza da vida,
prendemos o ar e torcemos a madeira.

Em tempos de ser forte, somos.
Além de tudo aquilo que se desespera,
o fio brando da força persiste.



domingo, setembro 11

Por quase trinta anos.

Entrou e sentou em seu lugar. Um banco enorme de madeira rubra, em cruz passou-lhe as mãos e aos céus rendeu seus olhos. Fechou os olhos e uma prece baixinha pediu-lhe; guarda a vida daqueles que amo. Ao voltar das vistas, a frente um homem estranho. Sua estranha maneira de existir se juntou ao momento de prece, num ato incomum, mágico. De levantar-se, o vestido arrumou e olhou-se como um todo, estava incomodada. Ao mesmo que o outro levantara, um sinal ao rosto cobriu-lhe de confusão e então, até a porta daria seu adeus silencioso. Andando ao mesmo que pensando, alguém lhe espera do outro lado. Como pudera? Mais uma vez, confusa rendeu-se a uma conversa estranha, em que em um café conhecera o tal outro. Que jamais existira, de café a conhecimento.
Apesar de um tímido sorriso e um sorrateiro modo de conhecer-te, o fim ao longo iria lhe manter longe de tuas expectativas. Uma aliança, a bendita que lhe acompanhara. E se pensar que o outro a guardara em seu dedo, que não, era tua a aliança. Que num arrasar dos gestos despediu-se do outro, tão frustrado quanto nossa heroína, que separada a dois anos e ainda usara a aliança que já do seu dedo fazia parte.

Um pouco

Já foi-se o tempo em que me via desta maneira, deste jeito ao qual me encontro. Não entendo como, por tantos passos.. esqueci. Ter todo esse medo, toda essa angústia, e talvez padecer o mais rápido do que imaginaria.

Como se fosse eu.

Como se fosse eu,
e que pudera, ser.
Ouvi aquilo tudo
e fui sem ser.
Parecia-me tudo, próximo..
e da proximidade me manti.

Como se fosse eu,
e de fato, já era.
Me rendi.

sexta-feira, setembro 9

Contentamento

Entrei e vi aquela mesa com uma pessoa, que de prontidão já exalava a saída. Não que eu a pusesse para fora com meus desejos, nem com meus olhos castanho-pedintes. Ela se foi e vagou um lugar ao lado de uma janela, poderia ver o dia enquanto me recostava por ali. O banco era de um estofado vermelho que me lembrava as frutas de minha cidade, tinham botões em seu centro que tornavam o acolchoado parecido com um botão de flor. Fui me aproximando para que não houvesse ninguém entre meu delírio diurno e esses menos de dois metros da rua. Andei e senti o mundo parando ao meu redor, pois não havia percebido que podia ser-me com tão pouco. E agora ponho minhas mãos nessa mesa e sento-me devagar. Sinto a madeira reclamar minha pele, e meus olhos descerem as vistas. Estou sentada, é tão aconchegante quanto imaginei. Mas de inesperado tenho receio de ver lá fora e o brilho do dia ofuscar meus olhos.

sexta-feira, setembro 2

O que há?

o que há de errado com o que poderia dar certo não ser um fato?

É tanta dificuldade quanto entender a primeira frase. Ela vaia seus sentimentos como se fossem uma apresentação barata no meio da praça. Ao mesmo tempo dignifica-se com um pensamento ironico sobre a vida, talvez tão plástico quanto seus cabelos. Já pensou em manter-se puramente burra, talvez não precisasse pensar e enrolar novamente. Todos e tudo aquilo que se mexe cobra uma verdade sua, caso não lhe seja inteiramente certo, pulsa então sua mentira. Quando a rua cobra a verdade de seus pés, corra até a calçada no débito que lhe deves, perguntar-lhe. Quando o céu pede-lhe a verdade, olhe com carinho ao azul do claro ao escuro, não tenha medo de que as nuvens lhe impressionem a verdade delas está acima de qualquer tamanho que sua existência possa ter. Quando as estrelas lhe permitirem dizer, diga-lhes sua verdade. Assim como contas a lua a sua apatia, o seu veraneio na dúvida. Conta o que lhe corta as tripas de tanta dor, o que lhe fere os olhos, o que lhe interrompe o ar.

terça-feira, agosto 30

Iluminado

pensei ter visto o seu rosto,
no dia em que jamais lhe conhecia.
mas dali no mais que os dias chegam,
fui firme no reconhecer.

primeiro te vi e senti coisa alguma,
você e seu brilho a mim ainda não reluziam.

já o vejo como mais disposto pensar,
pois nos dias ainda me pego a lembrar de ti,
como se fosse o riso escondido atrás das portas,
e nas frestas me vigiam ao andar.

talvez não me permita ser o que pulsa aqui,
e que de mim nada mais poderia receber,
a não ser outros sorrisos.


terça-feira, agosto 16

Sobre os sonhos III

Me cobre o corpo e me beija a testa, abraça-me e recosta suas mãos aos cuidados das minhas. Quando foi que disse que serias o aquecer das minhas tardes, não pude ver que seria a fria verdade de meus dias.

Sobre os sonhos II

Não acredito na única coisa que me parece verdade. E se sigo descrente ao mais palpável da vida, como posso mover-me lúcida?
Quantas vezes desaprovei o mundo em que vivemos, e disse-me em meu mais íntimo; acorda-te. Contei nos dedos as vezes que senti a vida pelas mãos, e que segura a hora em que tomaram meus dedos eu fui única e celebre em meus dias. Quanto custa para sentir-se vivo de verdade? Custa cada segundo em que se respira, você vive e habita em seu corpo solitário. Vive e habita outros corpos solitários, sozinhos de todos nós.

Sobre os sonhos I

passeio rápido das minhas horas,
que cansado o corpo dorme,
e estendo minha alma aberta,
num sono completo e duradouro.

quando recosto minha vida nesse mundo,
que a mim parece a mais nítida verdade,
sofro e amo como nunca pude,
e luto as lutas do mundo inteiro.

Te perder

quando olho pra você
e tudo que me fez perder,
me perder do meu sentido,
e sentir te perder.

te perdi também dos olhos,
e muito mais perdi de você.

perdi a dúvida que havia,
de talvez te perder....

terça-feira, agosto 9

Sepo

você vê e sabe,
que nada disso,
lhe permite.

sequer omite,
a sua frustração.

domingo, agosto 7

Sobre ela

Penso em ti como debulho meus olhos por não amar-te severamente. Que parte de mim oscila dizendo pertencer a ti, e parte de mim regenera as dores as quais não compreendo. Que tipo de amor é esse que encubro como folhas densas, e que na sombra de tua existência passo a cantar-te mil canções. Como é participar desse mundo inexistente, se aqui, existes viva e clemente. Como sentes falta da minha alma juntar-se a tua, como no passado fomos uma e perdemos a crença em nossa união. Se um dia ao qual esqueci de como te-la sob meus olhos é importante, é que esqueci também da própria existência, ao qual me lanço a procurar-me nos cantos. Você me dizia como morar na casa de Deus, e aprendi a passear por sua casa, mas manter a saudade de sua existência em meu coração. Como aprendi a clamar pela felicidade e não deixa-la como uma vela a ser extinta. A força que brota de meu coração devo a cara lágrima que teus olhos nunca a mim foram verdade, onde não exercito tal força com a mesma intensidade, pois a mim as lágrimas são companheiras audazes. Penso que sua beleza a toma ainda, a vejo livre de espantosos anos, como por outras consigo enxergar a velhice aguda. Talvez não acompanhes o mundo como o vejo, e de certo que não, mas, vestes uma capa fria de coisas que aprendeu, de vidas que viveu e de uma coragem de mulher altiva. Passei muitos anos a feri-la, e ainda o faço sem escolhas mais fáceis, e não perdoo meus dias por mante-la longe. Admiro o quanto tornas a vida real, sob a dor de tudo que lhe foi julgado, penso que és uma fortaleza de pés pequenos, mas sei também de tuas águas delicadas. Entendes tão bem a minha alma que força-me a esconder-te que sabes, para que finde em paz e talvez orgulhosa de tua cria.

A única

que te falte agora,
meu carinho,
e que meu amor,
por suposta existência
é o que mais me mantêm.

que te falte a mim,
nas minúcias do dia,
e que nas noites,
a ti velo o sono,
como o vento.

que te falte meu suspiro,
pois minhas preocupações
a ti não pertencem,
e só o quanto te desejo bem,
é o que precisas.

que te falte tudo,
menos a certeza que,
a amo como sempre fora,
como sempre pudera.

sexta-feira, agosto 5

Sobre ser próxima

quero sempre me ler naquelas palavras,
como nos olhos queria ser vista,
e nas mãos calibrar o fechar dos olhos.

quero sempre manter-me envolta,
e sempre próxima, ver-me.

Todo ano

Já é Agosto e eu me lembro,
que sempre acordo com passos difíceis
por esses meses.
Que sempre me exigem demais,
todos os outros tempos,
sempre nesse mesmo ponto,
preciso ser forte.

Os três tipos

Vou dormir açoitada por tantas coisas. Já pensou em muito mais do que poderia comportar? Ou talvez um único pensamento ecoa no vazio da sua existência. De certo que pode ser uma terceira possibilidade, a de que as coisas estão mudando seus pensamentos. O mundo está te tornando pensante. Não pensante de tudo que sua própria rota lhe conduz, mas pensando em tudo que lhe proporcionam. Dormir inflamado por essa dúvida é que me deixa mais contente.

Sobre pensar

se você escreve com a mesma rapidez que pensa,
não pensa com a rapidez que deveria pensar,
e nem responde nas palavras algo que faça sentido,
mas diz com tudo que o conjunto desses sentidos seus produzem;

pensamento.

quinta-feira, agosto 4

Esse estado

Esse estado ao qual penso que transito é sempre o mesmo quando estou em êxtase. Os sentidos todos fluem em uma maneira completamente sufocante, tanto que me esqueço do quanto que escrevo e acabo escrevendo mais e mais. Fico na duvida se escrevo sozinha, engulo a seco todas essas perguntas. Meus olhos ficam duros e cerrados, parece que não cruzam muitas coisas alem de meus próprios dizeres. Fico rija como o chão que sinto pisar e a pele fica estranha e áspera. Quando escrevo no papel as linhas brancas acabam com meus olhos, a tinta reclama algo que eu não espero que conduza bondade e afinidade alheia. Não entendo porque tento agradar tanto e ser agradada com tudo que tento colocar aqui. As vezes acho que nada disso é motivo algum para quem quer que seja, muito menos pra mim. Estou escrevendo palavras que possivelmente sejam ditas pelas minhas preocupações, pelos meus anseios e por essa falta de ar estranha que me acomoda quando fico impressionada. Tudo parece que contribui para que cada vez mais se formem, todas elas, aos poucos conduzindo, remetendo, relatando, o que talvez seja impossível de tornar tangível. Todo esse frenesi esquisito que passa tão rápido pelos olhos da mente, esses que enxergam coisas inacreditáveis, e que jamais dormem. Nunca dormem de enxergar tudo, tudo isso que meu cérebro não consegue chegar perto, nem sequer nos milímetros do entendimento dessa complexidade. Tudo isso me mostra o quanto estou perdendo cada dia mais as forcas do que deveria acreditar e, possivelmente, tornar-me quem sempre fui. Pois sempre fui alerta e descrente, não corrijo nada que não me seja completamente meu. Nem me sinto na bondade de dizer que sou aquilo que pensava, nem chego perto de dizer quem é essa pessoa que vos fala. Vou caminhando entre esses espaços que as palavras me deixam respirar, se toda vez que prendesse a respiração por ver uma palavra deixasse de entender o que elas realmente significam, eu morreria a cada vírgula deixada para trás. Isso porém não faca sentido algum depois que possa ler, na volta que esse entedimento me chamar, não vou entender como ler a minha fala mais esquisita. Não vou saber traduzir nada que não seja neste exato momento, pois a forma com a qual me conduzo agora não serei daqui a alguns segundos. Não lerei nada e verei o mesmo vasto manifesto sobre meus pensamentos. Só verei algo que não compartilho nesse que retrato. Outro dia me parei, hoje me paro novamente admirada e impressionada. E é isso que gosto de manter dentro de mim.

gosto mais.

gosto mais quando não entendo,
e fico procurando,
buscando em tudo o consolo,
de tudo que é uma resposta,
reclusa em uma verdade,
indisposta de meus olhos,
meu ver nada capta.

gosto mais quando não entendo,
quando penso que compreendo,
e até tento, quando escrevo no breve
na obra viva que é meu pensamento
que me manda calibrar meus dedos,
e recompor tudo aquilo que se perde dentro de mim.

gosto mais quando não entendo,
e fico a beira de saber que nada me sobra,
alem de procurar infinitamente,
algo que me sufoque de tanta certeza,
essa clareza que a vida nos exige,
e que tão ofuscada pelos prazeres do mundo,
me deixou quase sem ar.

gosto mais quando não entendo,
e quando fico. quando fico aqui pensando alto,
destruindo tudo aquilo que penso que existe,
e tudo isso que a forma me diz para ser,
esse corpo aqui não me pertence.

gosto mais quando não entendo,
e fico a beira de perder-me a cada instante,
na duvida que é permanecer vivo,
e viver isso que colabora com a incerteza,
a cada minuto ser quem nunca se foi,
a cada momento ser quem sempre se é.

Eu gosto mais quando não entendo.

Sendo

voltei,
e fui novamente,
no que me tornei,
a parte que mais me ergue
é aquela que me sustenta,
e sou,
quando retornei,
a mim, se é que vejo
nas lápides de quem fora,
nesse sorriso mentiroso,
e nesses olhos esquisitos,
tão grandes de tudo.
vou e fico guardada em tudo,
em tudo isso que me modifica,
em tudo que me torna,
que me ergue,
sou tudo aquilo que me permeia.

nada mais

não estive vivendo nada disso a que penso que existo. não engulo o chão que piso como não abraço a a voz viva do mundo. se me fere e me ofende os olhos, se me persigo a cada instante nas paredes das cidades, se a cada gota de minha essência tudo se esvai por um segundo, como poderia viver tudo isso e nem sequer perceber a minha ida? estou e não consigo mais manter a minha mente viva, tão viva quanto penso que estou. que dilema é esse que contrasta com essa parte minha que dói, essa parte que cheira e que enxerga. como sequer prever o acontecido, e romper com tudo aquilo que acredito, sem acreditar na viva promessa. essas coisas já me dizem muito sobre o que sou, e estou ficando louca a cada segundo que me sinto parte. eu olho o mundo como o mundo me vê, cheio de promessas e dividas não pagas, como meu próprio corpo promete aquilo que esvairá com o tempo. vou perdurar pelos anos em que ainda conseguir extinguir aquilo que me pertence, em verdade todas as minhas maldades cairão sobe este mundo. todas as minhas bondades seguirão intactas, tanto quanto no vazio do que me tornar prossiga o eco de um grande espaço, pedindo um pouco mais. não vou arrumar estas palavras, pois nada aqui é certo ou errado, é tudo que existe nesse momento ao qual escrevo. nada mais.

domingo, julho 24

Sobre pescoços e nucas

Tenho um certo amor por pescoços, em especial a parte de trás. A nuca me vem com tamanha complexidade visual que as vezes me pego a admirar tanto a maneira como o cabelo se recosta sobre ela. Fico imaginando como é possível não se deleitar com tal visão. O cabelo mais delicado é incluso ali, onde a cor se matem cálida de sua maneira e os fios não sofrem tanto com a grossura dos raios de sol. E o cheiro da pele ? Ali o olfato se perde em uma das curvas mais bonitas do corpo humano.
Certa vez me apaixonei por uma nuca, nela minhas manhãs eram de olhos grandes e narizes felizes ao seu encontro. Ao dono dessa nuca escrevi algo que tenho muito prazer em ler:


15 de maio de 2009

Nuca -

O cheiro da tua nuca,
tão nua,
nua nuca.

Nunca,
nunca me fora verdade,
nem sequer proximidade,
desse cheiro teu.

Teu cheiro..
tão único.
Já me traz saudade.


Circulando

Fazemos amor porque ainda nos resta a vontade, única maneira de dizer que um dia tivemos um ao outro, e nunca fomos nós. Nunca a não ser em nossas palavras, fomos um do outro. E não obstante de esquecer-te como sempre esqueci, como sempre lembrei e esqueci novamente, você surge para me dizer as verdades que meus dias sempre andam a brincar com suas conversas rápidas. Me dizem aos ouvidos, tão próximos que quase não compreendo a proximidade do falar; sussurrando algum jeito de explicar-me que estou sempre circulando sob tudo que me alimenta.

velho modo

era o de sempre,
aquele velho desejo de entender.
mas o que observar para temer?
e assim enfrentar, compreender.

terça-feira, julho 19

Calixto

dizer que talvez você permita,
que permita que o amor diga sua hora.
e não temer a suposta, que o suposto é distante.
mantenha-se no que existe em suas mãos,
feche-as com o mesmo amor que sentes,
e não irá mais ter medo.

domingo, julho 17

Carta à irma - rascunho

''... Escrevo essa carta, para que seus olhos se cubram de mim e que no pensamento perdure o amor que sinto por você, pois no coração a minha sementinha já plantei.
Esse livro que estou te dando nada mais diz do que coisas sobre a vida, e queria compartilha-lo com você'. A parte que mais gostei; "Trabalho é tornar o amor visível" espero que encontre a sua parte também''

segunda-feira, julho 11

A curva

parando ali naquela curva,
onde as minhas mãos segredos seguram
e me vejo desajeitada a olhar para a bifurcação,
sentindo-me quase nada, sentindo tudo.