segunda-feira, dezembro 10

Cinco centímetros

Chegou mais cedo do trabalho, acendeu um cigarro e foi para a varanda. Viu o céu estrelado lhe chamando repetitivamente e a fumaça cobrir seu rosto, por um segundo fecha os olhos para quem sabe perceber melhor o que lhe aflige.
Seus dedos rigidos, tentam se mover sem sucesso, a cabeça roda e os joelhos enfraquecem. Seu mundo finca raízes no inesperado.
Através da fumçada, vê ao longe a cidade se mover tão ferozmente. Sente-se acoado com tanto frenesi e ligeiramente imponente. Encosta as costas na parede e escorrega até sentar-se, já que seus joelhos não lhe suportam mais assim como sua máquina de mazelas, que não cansa de consumir seus sonhos.
Pensar é inevitável à todo o tempo pensa, remete, considera, desconsidera, busca teme e sente medo, muito medo. O que lhe salvaria nesse momento, se pergunta. Um pouco de esperança
que possa surgir de qualquer lugar, por favor. Um pedido de socorro através das olheiras, recados de noites mal dormidas.
Descrente, observa um pequeno ramo que ecoa da parede. Mas como será possivel?
Um ramo de cinco centimetros, contraposto a uma parede velha com rachaduras e demasiadamente descascada.
O observa antônimo, pensa que é tão louco sobreviver assim quanto uma pequena planta nessa parede de aparência inospita. Não há ninguém para regar-te, pequena planta. Só a chuva lhe acolhe para que possa rastejar sobre dias sem secar. Seus dias lhe levam como a pequena plantinha que sobrevive do pouco que tem, um pouco de luz aos dias e a bendita chuva que lhe envolve. O cigarro já não lhe parece tão sedutor, quanto observar a miniatura da sua vida
transposta em outro ser.
Lamentável, já se sentir uma brevidade. Não exergar sua essêcia, pois perdeu teu poder de classificar tua dor, tua felicidade teu estado de isolamento. És pior do que uma planta em meio ao branco desgastado, pois ela todos os dias revela seu verde exuberante e se destaca. E tu, de onde tiras sua diferença?
Ao lembrar das estrelas, onde estaria a tua ? Dentro de ti ainda resisteaquele mesmo rapaz feliz de sorriso amarelo que busca sua tranquilidade ou irás deixar que o céu cinzento cubra teu poder de ser planta?
Reside no pensante a dúvida de perguntas e o tormento das respostas breves, que dilaceraram à escolha. Recosta-se sobre tua vida, toma ela em teus braços e deixa que a fumaça apenas possa passear sobre teus devaneios, incertos mas capazes de revelar o ser questionador que és. Tornando-se planta, inesperadamente.
Sem pedir ajuda nem socorro e tira a força de si mesmo para recobrar-te a ti.

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