quinta-feira, janeiro 10

Minha missão

Através dos dias, assim apenas vivendo dessa rotina, maldita rotina que me consome a cada segundo e me detém a pensar apenas no óbvio, mero engano.
A cidade sempre se move da mesma forma, pessoas por todos os lados, preocupadas, ansiosas e seguindo o destino do seu próprio nariz. Por vezes eu me perco a observa-las, não por pura curiosidade cotidiana - que por sinal me estiga também - mas sim pelo movimento humano, pela destreza com a qual se falam, se comportam, se tratam (ou não) e não menos importante, pela vontade incessante de conhece-las, estuda-las e perceber que todas em suas particulares formas, detém uma imensa vontade de falar sobre si.
Por vezes, as encontro nos pontos de onibus, nas filas do banco ou simplesmente ao caminhar pela rua, elas te fitam, te prendem e te descartam quando se vão, tão rápido como passaram por ti. Um mero bom dia, as faz contar sobre o que aconteceu há anos atrás, quando estava enamorado de uma moça que morava em frente a sua casa. Dez anos mais nova,a garota sempre lhe enchia o coração de alegria, e ao observa-la um dia da sacada, e ao ver-te acenar, percebeu que algo estava estranho. Ela pedia socorro, dizia. Remexia os dedos e levava as sobrancelhas. Correu ate lá, se deparou com três homens, ao assalta-la. Ele dizendo-me com olhos radiantes, adentrou a casa e gritou aos covardes que ela tinha um amigo para lhe ajudar, "metendo a mão neles", dito assim com suas palavras de homem velho, vivido e muito corajoso. Dizendo que o pouco do karate e da capoeira foram-lhe bons companheiros, apesar dos dentes e as cicatrizes que agora, depois de alguns anos lhe fazem companhia.
Da mesma forma com a qual apareci na sua vida, sumi derrepente. Meu onibus chegara, e ele, ali sentado ao ver-me ir e ao mesmo tempo assim meio que sem querer, ou querendo, feliz do meu simples bom dia e da minha simples conversa, desmedida. Vários nos observavam, pensavam,discriminavam e de certa e verdadeira forma, invejavam. Ele era uma criatura especial, velha e sozinha, querendo apenas alguém que lhe conforte, pois os anos fizeram questão de lhe tomar o apreço dos demais.
Penso, que apesar de toda vontade de viver e de minha insensata forma, inconformada de ser, sigo assim com essa rotina infame e apesar disso percebo por muitas vezes que algo sempre tenta recobrar minha razão, sempre tenta me amenizar, me amolecer o coração.

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