segunda-feira, junho 23

Registro dos anos de saudades.

Sinto estar, realmente saudosa de todas as coisas que vivi esses últimos anos. Talvez os rostos que se perderam na minha mente, não formem nomes que eu possa dizer em verdade, porém, os momentos eu jamais pude sequer esquecer. Há dias em que paro em instantes e me recordo de coisas que já passaram, algumas viagens que fiz, risadas que não tinham fim... brincadeiras na rua,aniversários, visita a casa dos meus avós... tudo que faz parte de mim.
As cartas que troquei, os amigos que fiz.. esse lugar no qual morei 20 anos da minha vida, tantas histórias bonitas, esquisitas.. ou até mesmo as tristes, me fazem cumplice desse imenso saudar. De todas as vezes que andei por essas ruas de nomes de flores, de todas as vezes que ralei meus joelhos, pés e mãos pelas esquinas, a bicicleta rosa que me acompanhava e o patins preto que me fazia sentir-me livre. O jogar todo e qualquer tipo de esporte com bola, correr desvairada pelas ruas a me esconder ou para passar o fado de correr tanto ao outro, o tocar de campainhas e sair correndo para não ser pêga, o pedir de roupas e comida para gincanas do colégio. Colégio! esse que estudei toda a vida, perto de casa... ô maravilha. Acordava as sete, tinha aula as sete e meia, aprontava até o meio dia e cinquenta. Era uma peste, admito.
Todos os meus amigos que moravam aqui e estudavam no mesmo, viviam grudados comigo pra cima e pra baixo, onde quer que eu fosse. Talvez as vezes, precisassemos uns dos outros pelo vinculo do dia-a-dia, hoje uns se foram, outros ficaram e fincaram seus laços comigo. Até mesmo aqueles que não iam muito com a minha cara ( Não é Sra. Peixoto?). Sinto tanta falta desse tempo, acho que o tempo mais feliz da minha vida, no colégio...
Meus vizinhos!!!! alguns muito chatos, outros, um poço de generosidade. A fofoca as vezes era o motivo do fechar das portas da minha casa, mas, a minha mãe não deixava de trata-los bem. Assim como eu, que adorava muitos deles. Lembro do meu vizinho da direita- "Seu Melo" - ele tinha um carro de 1950, verde oliva ( se não me engano) e tinha um pato Donald de borracha no fundo, e seu corpo era feito por aneis que se juntavam e sua cabeça prendia os pés a seu corpinho. Era um carro enorme e estranho, mas eu gostava. Ele me chamava muito atenção, ainda mais quando ele me chamava para ver pela janela o grande espaço de dentro, eu ficava olhando como se estivesse vendo uma espaçonave. Era muito bom para uma criança de 8 anos, uma aventura e tanto. Ele infelizmente depois de uns três anos, morreu. Uma das pessoas mais legais da minha rua, ele sempre radiante com seu jornal de domingo, seus cachorros minúsculos ( que eu tinha medo, eram bem mau humorados, Pinches desgraçados... haieuhea). Dona Ivone, sua esposa, ficou sozinha com os dois cachorrinhos e até hoje sinto que ela sente muito a falta dele e de sua radiante vida.
Do meu lado esquerdo, moravam - e moram ainda - Seu Rios, Tia Neuza, Toni, Tita Aila, Luciana e na época, cinquenta milhões de gatos. Sim, eram muuuuuuuuuuuuitos, dos quais, eu não gostava também. Eles vinham para o telhado da minha casa, cruzar, brincar, brigar e encher o saco do meu querido e amado - que Deus o tenha - Dino, meu primeiro Yorkshire. Certa vez, em pura e infantil maldade, eu e meu super ruivo irmão, colocamos pimenta em alguns pedaços de carne, amarramos um pedacinho de linha num galho e "pescamos" os gatos. Eles comeram tudo e felizmente -na época para nós, infelizmente - não sentiram nada. Bem! não só os gatos eram o atrativo daquela casa, ainda havia o seu grande e magnífico pomar, pois sim! variados tipos de frutas que eu sempre tinha vontade de comer e não tinha no meu quintal. Pois bem, pulava o muro quando eles não estavam, ou pulava, quando a vontade de comer uma goiaba, manga, pitanga.. ou qualquer outra dessas, era mais forte que eu. Até que um dia, Seu Rios me viu, fingiu não me ver, e um pouco depois que eu pulei o muro de volta pra casa, ele me chamou. Eu no momento, só pensei em pular novamente um muro, o do portão, para que pudesse estar bem longe porque, certamente, iria tomar uma bronca e ficaria de castigo. Ele, com aquele ar de sábio, me entregou um saco com goiabas verdes - amo goiaba verde-, disse-me para guardar direitinho e sempre que quisesse, poderia pedir a ele. Eu, como não tinha onde enfiar a cara, simplesmente disse muitíssimo obrigada, peguei o saco e sai correndo. Coisa de criança.
E os meus vizinhos da frente? Bem, eles tinham uma piscina maravilhosa. Eu lembro que saia correndo da garagem até a borda, para pular imensamente bem! O que nunca fazia de verdade. Erick e Paulinha me acompanhavam nessa jornada. Do lado esquerdo da casa deles, moravam Aderbal, Eremita e seus três filhos, Adna, Adjane e Anderson. A família A, e Eremita, que não acompanhasse isso... A de Eremita, Ok? Bem, eles tinham um depósito de bebidas, eu sempre ia comprar refrigerante, quase todos os dias. Gostava muito -e ainda gosto- de refrigerante de guaraná, dos quais arrancavam uma boa quantia diária de meus pais. Outra quantia, era com médico, porque sempre que eu ia comprar o bendito guaraná, eu era atropelada. Sim! atropelada, três vezes, por bicicletas de marcas,modelos,tamanhos e cores diferentes. Acho que não aprendi a lição do "olhe para os lados antes de atravessar a rua menina!" que a minha mãe me falava, teimosia desde já.
Bem, eu moro na terceira casa à direita da minha rua, de nome Margaridas amarelas. Já lá na esquina, moravam minhas primas e um monte de gente que até hoje nem sei quantos são. Sheila e Monique eram minhas comparsas em muitas traquinagens, e mais tarde, em baladas e afins. Lá também morava uma das pessoas mais humanas que eu já pude conhecer na minha vida, meu tio Eduardo, o Dudu que todos amavam tanto. Ele morreu em 2004, deixando muitas saudades a todos, a mim demais, pois todos os dias pela manhã quando ia ao colégio ele me cumprimentava com um doce "bom dia milinha, tenha um ótimo dia!". Milinha, adorava ser chamada assim.
Bem, já dentro de casa eu e meu irmão aprontávamos o quanto podíamos. Geralmente passávamos o dia brincando de bola, de gude.. ou de qualquer outra coisa que não fosse brincadeira de menina. Cresci sabendo jogar bola, gude, colocando fogo em muitas coisas, jogando vídeo game quase a madrugada inteira. Bem, eu era realmente feliz dividindo aquilo tudo com o meu irmão, acho que até por vezes, quando brigávamos, eu gostava. Pois ele foi sempre o meu herói. Ele era mais alto e mais gorducho do que eu, ruivo e sardentinho, carinhosos quando queria, uma mula quando queria me pirraçar. Porém, uma das pessoas que mais amo nessa vida. Me ensinou muitas coisas, a ouvir músicas legais, a jogar vídeo game - apesar de muitas vezes não admitir que eu ganhasse dele- a jogar bola, a dançar forró!!! Meu Deus... ele me ensinou muita coisa. E me ensinou uma coisa que vou levar pro resto da minha vida, que o mais forte, mais velho e maior, na maioria das vezes, te vence. Fato. Principalmente quando uma jarra de vidro quebra e você tem três anos a menos que seu irmão e por sorte dele, você não sabe argumentar direito para se defender dos estilhaços de um presente que a sua mãe ganhou a uns meses. Falando nele, meu ruivo fraterno que introduziu a todo o resto da rua, milhares de apelidos que eu realmente não gostava, com a contribuição de Toni, meu vizinho que me deu o apelido mor, o de "Bicicletinha". E na época bem me lembro, tinha uma música que era mais ou menos assim "Pedalando, pedalando na bicicletinha..... vamos dar uma voltinha" que toda vez que eu ouvia, parecia que as chamas se implantavam nos meus olhos, e eu em mente, conseguia queima-lo sem ao menos o tocar. Era uma criança rancorosa. Fora os outros apelidos, Miloca cara de pipoca e por ai vai.
Pelo Jardim - abreviação do nome do meu condomínio, Jardim das Margaridas - eu andava muito nas outras ruas, me aventurava muito de bicicleta e patins por todas elas, mas a rua B -Bromélias brancas- como era a maior rua de todas, ganhava o pedalar dos meus passeios. Jogava bola -vôlei, futebol e arranca pedaço de dedo, baleado, sete pedras, cinco cortes - na rua J - Jasmin do Cairo - com ouros milhões de meninos e meninas que apareciam para o acontecimento que reunia a garotada da época. Já as brincadeiras de correr e esconder, eram na rua O - Orquídeas Lilás - bem como, corre-corre, esconde-esconde, polícia e ladrão, brincar de se esconder na casa do vizinho e tomar bronca, brincar de correr na rua e sem querer arrancar retrovisor do carro e dizer que nada fez, bem, coisas assim. Época de aprender quem são os fortes, de verdade. Quem era o capitão do time e seus subordinados, eu com minha estatura imensamente incrível, sempre era a subordinada, porém uma formiga atômica subordinada, muito obrigada.
Bem, chegou a hora de falar das minhas desventuras amorosas. Eu era sempre o cupido de todo mundo, pois era tímida - tímida para namoricos, pois sempre fui muito cara de pau para o que quer fosse- para namorar quem quer que fosse e besta demais para gostar de alguém que gostasse de mim. Eu lembro que era meio que namoradinha de um colega meu do colégio, a gente andava de mãozinha dada no intervalo e ele comprava doces para mim. Ele me escrevia cartas, e eu não deixava em casa, entregava a Renata - minha best friend da época- para guarda-las. Me arrependo até hoje de não te-las, acho que iria rir muito das paixões de antigamente. E um ursinho que ganhei no dia dos namorados, que também não ficou comigo, enfim, uma completa e total menininha. Até que um belo dia ele começou a namorar uma amiguinha minha, que coisa mais linda era aquilo, e eu ainda ajudava. Não é Sra. Peixoto? Huihaeuieh..
Depois de um tempo eu comecei a ser um pouco menos tímida quanto a isso, até que consegui, alguns garotos até gostavam de mim, apesar de sempre estar fazendo ou falando alguma bobagem por ai.
Passados esses arroubos da pré-adolescência, eu comecei a fazer amizades de verdade. Fiz belas amigas, bons amigos e uma imensidão de colegas. Até hoje falo com todos eles e tenho um imenso, inevitável e incalculável carinho por todos eles. Por aqueles que estudaram comigo, pelos que não só estudavam, mas moravam pertinho de mim. Todos eles que me acompanhavam em festas, aniversários, papos pela madrugada e namoricos bobos. E as mentiras? Acho que nunca menti tanto na minha vida só para ir em festas, sempre inventava que ia dormir na casa de uma amiga -que na maioria das vezes era Iris ou Luma- e sempre ia para alguma festa lá onde Judas perdeu as botas, e é claro, cada uma de nós falava que ia para um lugar diferente, de preferência que a mãe não soubesse o telefone da casa em questão. Não esqueço nunca do dia em que fomos a uma festa do colégio e chegamos todas atrasadas, quando chegamos tudo tinha terminado. Daí nos juntamos e fizemos a cabeça das outras meninas para irmos a algum lugar, conseguimos e fomos de casa em casa implorando as subsequentes mães, para deixarem elas irem no aniversário da vizinha da tia-avó de Iris. Foi uma das coisas mais loucas e simplesmente o que jamais irei deixar de lembrar com um riso estampado na cara, dessa festa que fomos. Loucuras as vezes servem para trazer a lembrança bons momentos.
Depois que me formei no colégio, encontrei poucas vezes todos os meus amigos. Só as meninas que eu tinha um contato maior, mas que, do mesmo jeito era uma festa quando nos encontrávamos. Passamos, todas nós, por momentos conturbados, namoros estranhos e barraas pesadas. Também por momentos felizes, uma gravidez de uma amiga nossa que foi inesperada, mas que deixou todas as titias babando. E é claro, nosso reencontro aqui em casa no ano passado, com muita bebida e palavras de saudades, como sempre.
Jamais vou esquecer de todos eles, jamais.
Fiz muitos amigos na faculdade também, alguns muito queridos. Dos quais vou sentir uma saudade imensa... enorrrrrme. Queria poder saber dos passos de cada um deles, para que possa ficar tranquila do rumo que seguem.
Tenho todas essas recordações muito bem guardadas, num lugar onde sei que posso resgatar quando quiser, quando sentir a vontade de lembrar. As vezes deixar tudo isso pra trás é um passo enorme, mas, eu sei muito bem aonde estou pisando antes de me deslocar, e sei como nunca, que jamais vou perder sequer um minuto dessa vida toda que vivi aqui, nessa cidade que me formou quem sou, nessa cidade que me fez desse jeitinho. Dessas praias imensas e maravilhosas, desse pôr-do-sol interminável, dessas amizades e desses dias que não tem fim. Do calor que me faz sentir viva, não só o calor do sol, mas o calor humano, de todos esses que se tornam parte da sua vida sem sequer você perceber. Desses amigos que estão contigo pra quando precisar, onde quer que seja. Dos dias felizes e até mesmo dos dias tristes, todos eles vão comigo de uma forma muito querida.
Vou como quem não está triste, vou como quem digo adeus em saudades... mas saudades daquelas de sorrir de canto de boca, de arrepiar, de dar uma dorzinha gostosa no peito. Mas de saber, que aquilo tudo fez parte de você, e você também fez parte daquilo tudo. Uma união, que nem tempo nem espaço, podem quebrar.

Nenhum comentário: