quinta-feira, fevereiro 21

Taciturno

Seguiu o temete homem de várias faces, muitos pensamentos e poucos amores. Sempre que o sol começava a se deitar, ele recostava sua pequena cadeira dobrável ao passeio de seixos, mal colocados.
Nem o tempo lhe tomou vida e nem sua ingenuidade era bastante apalpável, não há vestígios de quantas primaveas lhe tem. O rosto é o mesmo de sempre, mas a peculiar forma de andar, os gestos sempre saudosos e a calma em passar as folhas dos livros de uma forma para mim, nunca antes vista, me deixam à cerca de um homem que nada fala, nada diz, nada me diz.
Jamais ouvi sequer balbuciar poesias pelas ruas, discutir a odisséia de um homem qualquer ou dedilhar ao vento a curiosidade de um novo suspense. Não há quem diga se tua veste é aclamavel, pois, sempre da mesma forma permanece. Sempre com seu chapeu preto, calça cinza e sua camisa branca de algodão, que quando contraposta ao vento remete as ondas que se formam à costa da cidade.
Já falei da cidade? Nela esse amigo taciturno vive desde sempre. Quando aqui finquei meus dias, descobri aos poucos seus costumes e impreterivelmente, seus horários tão acertados. Curiosos aos meus olhos e tementes aos demais, que o observam tanto quanto eu.
Poderia quem sabe lhe trocar algumas palavras, algumas gentilezas, mas se o fizesse não seria mais meu bom amigo, de uma maravilhosa forma, tão calado amigo. Não seria mais aquele pelo qual imaginaria uma vida, recortaria uma personalidade e apontaria um futuro, até mesmo quem sabe, seu misterioso passado. Não lhe faria juz aos olhares sinceros à costa, sorrisos não tão sorridentes aos crepusculos, onde sempre está, naquela mesma cadeira dobrável no passeio feito de seixos, mal colocados...

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