terça-feira, fevereiro 5

Varanda

Finalemnte em casa, se despede do tormento da cidade.
Senta na varanda em sua cadeira favorita - daquelas brancas de ferro, com duas cadeiras de assento único, outra em disposição de sofá e uma mesinha de centro - acende um cigarro, errante amigo de pensamentos infalíveis.
Sob a mesinha, seus pés se ajeitam. O branquinho sob os lábios, a mão a bagunçar o cabelo e a inquietude da música nos fones.
O rock dos anos setenta acompanha seus ouvidos a todo o tempo.
É religiosamente cumprido seu ritual, assim que, depois das oito, do trabalho finalmente chega. Logo o cachorro se aproxima, mas não lhe pede absolutamente nada, apenas reside a seu lado esperando alguma forma de contato. As vezes apenas uma promessa e por outras um belo carinho no pelo brilhante.
Mais um cigarro, e o olhar do céu estrelado. É Fevereiro, os dias são mais quentes e as noites, mais claras. Cruzeiro do sul, três reis magos e ursa maior sob teus olhos, agora expectadores.
Tira os sapatos e sente o chão gelado e àspero, depois de reprimidos, seus pés agora são fãs incondicionais daquele frescor que se mistura com aspereza.
Respira fundo, algo lhe angustia, como sempre. É fácil respirar em casa, depois de um cansaço mental, físico e muitas vezes espiritual. Como as pessoas lhe tomam o tempo, as boas novas e lhe enchem a paciência, como diz.
O celular agora toca, mas de despercebido se faz. Não o escuta, pelo som e pela simples vontade de se isolar, como realmente gosta. Apesar da luz se propagar no escuro da varanda, incomodando seu latente estado, por algum motivo pelo qual não sabe exatamente, sente uma imensa vontade de escrever.
Como sempre, não reside suas palavras em papel. Só sai correndo de sua preferida cadeira, para o encontro de outra, agora disposta à frente de um computador.
Onde descreve sua solidão, seus pensamentos mais desprendidos e sua vontade de escrever que chega assim, quando menos espera.

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